Veja Perguntas e Respostas Sobre Portas Automáticas de Plataforma e Sensores na Cidade de São Paulo

A fatalidade de Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno na terça-feira (6) levantou preocupações sobre o sistema criado justamente para evitar acidentes.
Vão entre as portas da Linha 5-Lilás
O viajante Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, de 35 anos, morreu nesta terça-feira (6) após ficar preso entre o vão e a porta do sistema no Terminal Campo Limpo da Linha 5-Lilás, atendido pela ViaMobilidade.
Diferentemente do trem da estatal, os terminais que ficam sob o controle da concessionária não possuem sensores de visibilidade, que evitam o esmagamento, na área onde a vítima ficou presa.
Filho de um pedreiro, uma estudante de atletismo, um repositor de supermercado e um bisavô, Nepomuceno morava em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, era casado e tinha três filhos. Ele usava o metrô todos os dias para se locomover pela cidade, segundo o pai, que tem o mesmo nome do filho.
O caso chocou outros passageiros que, assim como o alvo, também estavam a caminho do trabalho. A auxiliar de limpeza Daniela dos Santos criticou duramente o procedimento da Linha 5-Lilás, que liga Capão Redondo à Chácara Klabin, e alegou falta de organização.
“Encontrei uma bagunça aqui em Santo Amaro. Toda vez é essa humilhação. Brasileiros não merecem isso. Saem do trabalho cansados e passam por isso? Está cada vez pior”, lamentou Daniela.
Além disso, a morte de terça-feira (6) levantou uma série de questionamentos sobre as portas automáticas, os sensores de presença que impedem o esmagamento e os procedimentos que serão adotados pela concessionária para aumentar a segurança dos passageiros.
Veja perguntas e soluções sobre portas automáticas e sensores no metrô de São Paulo:
O que são portas automáticas de plataforma?Todas as linhas de trem de São Paulo possuem portas automáticas de plataforma?Quais linhas são operadas pelo governo federal de São Paulo e por concessionárias?Quais linhas possuem sensores no vão entre o trem e a porta do sistema?O vão entre o trem e a plataforma no metrô de São Paulo é maior do que em outras regiões do mundo?O que dizem os especialistas sobre a falta de sensores? Quais as alternativas propostas após o acidente?
O que são portas automáticas de plataforma? 1 de 4 Atividade no momento do acidente na Linha 5-Lilás– Foto: Reprodução/TV Globo
Movimento no momento do acidente na Linha 5-Lilás– Imagem: Reprodução/TV Globo
As portas automáticas nas plataformas e vagões dos trens são automatizadas. Elas abrem e fecham em sincronia com as portas do trem, dando segurança e companhia aos passageiros que embarcam e desembarcam. Elas protegem e bloqueiam, por exemplo, o acesso aos trilhos e protegem contra quedas de pessoas e objetos.
Antes do fechamento das portas, há um aviso claro. A porta da plataforma e a porta do trem devem ter sensores de segurança que detectem se elas foram fechadas corretamente ou se há algo ou pessoa obstruindo o fechamento ou entre elas, como foi o caso da morte de Lourivaldo.
Quando não fecham completamente, o sensor — se houver — sinaliza, e as portas se abrem novamente, como se fossem portas de elevador. No caso do incidente de terça-feira (6), porém, segundo testemunhas, isso não ocorreu, e o trem seguiu viagem.
Todas as linhas de trem de São Paulo possuem portas automatizadas? 2 de 4 Sistema lotado na Linha 5 – Roxa — Imagem: Arquivo pessoal
Plataforma lotada na Linha 5 – Roxa — Foto: Arquivo pessoal
Não. As portas automatizadas começaram a ser aplicadas em São Paulo em 2010, na Linha 2-Verde. Hoje, 28 terminais administrados pela Companhia Estadual de Trem nas Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata possuem o equipamento em operação.
Em nota, o metrô informou que prossegue com a ampliação da instalação desses equipamentos. Os trabalhos estão em andamento em quatro estações (Sé, Santa Cecília, Marechal Deodoro e Tatuapé) e há mais 24 terminais com instalação programada, nas Linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha. A projeção é concluir essa obra até 2026.
Hoje, se somarmos a Linha 4-Amarela, da concessionária ViaQuatro, e a Linha 5-Lilás, da ViaMobilidade, ambas subsidiárias da CCR Team, 53 dos 91 terminais do Metrô de São Paulo contam com portas automáticas. O sistema foi desenvolvido originalmente na França há quase 30 anos para diminuir acidentes e transtornos causados por passageiros nos trilhos.
Quais linhas são operadas pelo governo federal de São Paulo e pelas concessionárias?
Linhas operadas pela prefeitura de São Paulo:
Linha 1-Azul: Jabaquara – Comitê Paralímpico Brasileiro – Tucuruvi. Linha 2-Verde: Vila Prudente – Vila Madalena. Linha 3-Vermelha: Corinthians-Itaquera – Palmeiras-Barra Funda. Linha 15-Prata (Monotrilho): Vila Prudente – Jardim Colonial.
Linhas operadas por concessionárias:
Linha 4-Amarela: Operada pela ViaQuatro, subsidiária do Grupo CCR. Linha 5-Roxa: Operada pela ViaMobilidade, também subsidiária do Grupo CCR.
Quais linhas possuem sensores no vão entre o trem e a porta da plataforma? 3 de 4Sensor de presença instalado entre o sistema e as portas do trem — Foto: Arquivo pessoal
Sensor de presença instalado entre o sistema e as portas do trem — Imagem: Arquivo pessoal
Linhas 3 e 1 da cidade.
Em comunicado, o Metrô especificou que todas as estações equipadas com portas de plataforma na Linha 3-Vermelha possuem sensores de presença. Os terminais são: A Linha 1-Azul também conta com sensores e barreiras em dois terminais (Tucuruvi e Jabaquara).
Na Linha 2-Verde, barreiras físicas (preenchedores de espaço, vedações de borracha com estruturas de aço) foram instaladas recentemente nas quatro estações que possuem portas (Vila Madalena, Sacomã, Tamanduateí e Vila Prudente). Na Linha 15-Prata, a Prefeitura explicou que as portas do trem abrem para fora, não havendo espaço entre o trem e a porta do sistema.
A ViaMobilidade não possui sensores no vão entre o trem e a porta da plataforma, apenas nos trens. A empresa informou que possui sensores apenas nos trens para evitar acidentes e que eles partem com as portas abertas.
“Nossa equipe de projeto já vem trabalhando nessa tarefa. E certamente teremos até fevereiro de 2026, então nos próximos meses, e atualmente a tendência é que busquemos dar andamento a esse projeto, é a instalação de sensores de presença nessas áreas, entre a porta do trem e a porta da plataforma. Com isso, qualquer objeto, qualquer pessoa, qualquer coisa que esteja ali, será identificada e a porta certamente não fechará” — Francisco Pierrini, presidente da empresa, em entrevista à Band.
O vão entre o trem e a plataforma na cidade de São Paulo é maior do que em outras áreas do mundo?
Sim. Engenheiro Moacyr Duarte,Especialista em análise de perigos e monitoramento de situações de emergência, ressalta que esse tipo de acidente é quase impossível de acontecer nos principais metrôs do mundo. Segundo ele, o problema é que “não há espaço para uma pessoa no espaço entre a porta do trem e a porta de segurança”. Simplificando, o vão é praticamente inexistente. Além disso, o engenheiro afirma que houve uma falha no projeto original das plataformas. “Nos casos que ocorreram aqui, as pessoas ficaram presas em um espaço entre as portas. Foi uma falha no estudo prévio de execução. Quando se aplica um sistema como esse, é necessário utilizar um conjunto de estratégias e ter uma reunião de especialistas envolvidos para avaliar os riscos existentes.” O que os especialistas dizem sobre a falta de sensores? O projetista Luis Kolle, presidente da AEAMESP (Associação dos Engenheiros e Arquitetos Municipais), menciona problemas no projeto do sistema de segurança. Segundo ele, o sistema precisa ser feito para operar em um ambiente “sem risco de falhas”, ou seja, de forma a reduzir os riscos quando ocorrem falhas. “Quando se projeta um sistema de segurança, é preciso prever o que pode acontecer com o sistema. Quando se trata de trens e trens, um dos pontos que mais acontecem é a presença de pessoas segurando a porta para embarque. Quando se obstrui a porta, é preciso dar à pessoa a chance de embarcar no trem ou retornar à plataforma.” Para o vice-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroferroviários), Alex Santana, os trens da Cidade possuem mais dispositivos de segurança do que os trens da ViaMobilidade. “Nas nossas linhas, há sensores de presença nos vãos,almofadas de borracha para evitar que alguém fique preso ali, para citar algumas preocupações com o sistema e procedimentos operacionais. No caso do L5 [ViaMobilidade], não há sensores de visibilidade e as almofadas de borracha que ele possui não são suficientes. O espaço quase não tem presença para rastreamento, e a falta de funcionários nos sistemas acaba dificultando a prevenção desse incidente”, afirma.
O engenheiro Peter Alouche, que trabalhou na Prefeitura de São Paulo por 35 anos, avalia que houve uma série de falhas no caso da morte de Lourivaldo. “A falta de um sensor faz com que a porta se feche, independentemente da presença de uma pessoa no vão”, afirma.
Quais as medidas propostas após o acidente? 4 de 4 Protesto em frente à estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás, ao meio-dia desta quarta-feira (7) — Foto: Reprodução/TV Globo
Protesto em frente à estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás, na tarde desta quarta-feira (7) — Foto: Reprodução/TV Globo
Segundo a ViaMobilidade, certamente serão instaladas barreiras até o segundo semestre deste ano para cobrir o vão entre os trens e as portas das plataformas. Linha 5-Lilás.
Esse sistema, aliás, já foi executado na Linha 2-Verde após um evento semelhante no terminal Vila Prudente, em março, quando uma passageira também ficou presa nas ferragens, porém o trem parou e foi possível retirá-la sem ferimentos.
A concessionária informou ainda que instalará sensores nos vãos entre os sistemas até fevereiro de 2026.