
Do Vale do Anhangabaú, em direção ao início da Avenida São João, tem-se uma das vistas mais lendárias de São Paulo. O arranjo deste cartão-postal é geralmente formado pelo Edifício Altino Arantes (atual Farol Santander), ladeado pelo Edifício Martinelli, à direita, e pelo Edifício Banco do Brasil, à esquerda. Todos edifícios altos de outrora, de uma área metropolitana em desenvolvimento e cujo coração econômico ficava ao lado do morro histórico. Um dos
arranha-céus mais altos do centro de SP está inacabado; veja os bastidores
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Reforma resgata características originais do edifício do Banco do Brasil, situado no antigo coração financeiro de São Paulo
Também chamado de Edifício São João, o edifício do Banco do Brasil é o menos conhecido deste trio. Embora seja um dos prédios mais altos do centro da cidade até hoje, não é tão conhecido quanto seus ilustres vizinhos, embora tenha até aparecido em anúncios de jornais em seu auge, quando era referência em inovação no setor financeiro. O Edifício São João (Banco do Brasil), na principal área da capital paulista, está passando por obras de restauração. Foto: Werther Santana/Estadão
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Desde janeiro, o prédio passa por um processo de recuperação de suas funções originais, em fase de reforma. Este minuto ocorre após grande parte de seus ativos ter se mudado para a nova sede da instituição, na Avenida Paulista, em 2021. Há quase setenta anos, passou pela situação inversa: substituiu o antigo endereço na Rua Álvares Penteado (atual Centro Cultural Banco do Brasil).
Também com a obra, o edifício passa a funcionar como agência bancária e atua em…áreas táticas e funcionais. A restauração precisa durar um ano e meio, a fim de trazer de volta várias das características iniciais e questões pertinentes nas fachadas. Publicidade Em ordem, da esquerda para a direita: Edifício São João, Edifício Altino Arantes (Farol Santander) e Edifício Martinelli. Foto: Alex Silva/Estadão. “O Edifício São João, ícone do patrimônio histórico de São Paulo, permanece em posição estratégica para o BB, considerando não apenas o endereço, mas também a facilidade de acesso e as comodidades do imóvel residencial ou comercial”, destacou a instituição financeira em nota ao Estadão. No entanto, não há previsão de inauguração para visitação, como há para o Martinelli e o Farol. O repórter visitou o site do edifício e conta algumas das peculiaridades dessa estrutura bastante fotografada, mas às vezes como função de apoio em um centro repleto de ícones da construção. Após assistir ao vídeo a seguir, há ainda mais informações sobre a reconstrução e a história do edifício. Confira:
Motivação americana e ‘tesouro’ desconhecido
A estrutura é considerada patrimônio histórico da cidade, assim como diversos outros imóveis residenciais e comerciais ao redor do Vale do Anhangabaú. Desenvolvido pelo arquiteto Caio Pedro Moacyr, foi inaugurado após dez anos de construção, na década de 1950, com recursos sofisticados para o setor financeiro da época, como esteiras rolantes. Durante anos,
o São João esteve entre os edifícios mais altos de São Paulo e do país. Até hoje, é apenas um dos mais altos da cidade, o que se destaca ainda mais por sua localização em uma parte elevada da região. Restauração
Publicidade do Edifício São João,Banco do Brasil Foto: Leandro Souza/Estadão A estrutura tem cerca de 150 metros de altura. A medida principal, no entanto, é diferente, pois é determinada a partir da Rua São Bento, enquanto as demais acessibilidades são pensadas em “subsolos”. O edifício foi construído em um momento em que a verticalização da cidade de Nova York influenciava cada vez mais a transformação do centro de São Paulo, enquanto seus precursores tinham ideias mais francesas. Um dos pontos altos da época era o Empire State Building, por exemplo, cujo traçado geométrico e alguns atributos art déco inspiraram tanto o prédio do Banco do Brasil quanto o antigo Banespão. “É um prédio com uma pegada mais americanizada, com poucos acessórios. É uma estrutura sofisticada”, descreve Samuel Kruchin, um dos responsáveis pela reforma do São João. “Faz parte de uma reformulação estilística deste local mais central. E, pelo seu tamanho, é como uma afirmação da realidade da cidade de São Paulo. O prédio Martinelli é minúsculo em comparação a ele (em altura)”, acrescenta. Construção dos prédios São João, Altino Arantes e Martinelli em 1950. Foto: Arquivo Nacional/Fundo Agência
Nacional Para o engenheiro, a obra pode ser uma oportunidade para os paulistanos perceberem e apreciarem o que ele chama de “joia” do chamado “grande eixo” do São João. “O prédio tem prédios muito importantes que são desconhecidos”, afirma. A reconstrução declara o valor da estrutura com seus atributos
iniciais. Não se trata de uma simples substituição de pisos. Como é a estrutura? A entrada principal do edifício fica na Avenida São João, embora o acesso do escritório seja pela Avenida São Bento. Seu estilo inclui volumes mais estreitos nos andares superiores, como um “bolo de noivo”.”formando alguns terraços com vistas para grande parte do centro de São Paulo. A partir do 21º andar (são 24 no total), por exemplo, é preciso se abaixar para ver o Martinelli. Na base, o edifício é coberto por pedras escuras, do chamado “Granito Verde Ubatuba”, pertencente ao litoral norte de São Paulo. A maior parte do edifício, no entanto, é revestida por um mosaico de porcelanatos em diferentes tons de verde, amarelo e branco. Uma promoção de 1955 destaca a Estrutura do Banco do Brasil como um dos principais arranha-céus de São Paulo. Imagem: Acervo Estadão. Antes da recuperação, a estrutura já estava coberta com telas de proteção, instaladas para impedir ocorrências de queda de peças cerâmicas. Entre os problemas com a fachada que precisam ser resolvidos estão rachaduras, rachaduras, pichações e acúmulo de poeira. Descobertas durante a obra e obstáculos. Embora existam estudos anteriores, a equipe de reconstrução fez descobertas sobre a estrutura ao longo da obra. Isso se deve ao fato de que há Algumas características incomuns para a época e não evidentes em uma análise mais estética. Um caso ocorreu durante o procedimento de prospecção, quando as placas estavam penduradas ou em risco de cair. Para isso, foi realizado um tratamento com martelo de borracha, no qual o som “oco” é apenas um dos principais sinais de que o acabamento precisa ser removido. Nessa situação, no entanto, houve uma grande quantidade de som oco, mesmo onde não parecia haver problemas. Optou-se então por abrir uma “janela de prospecção”, com um furo na parede. Essa abertura permitiu a identificação de blocos baianos na edificação, que certamente seriam responsáveis pelo ruído característico.Mosaico de ladrilhos cerâmicos utilizado na restauração Foto: Leandro Souza/Estadão “Aparentemente, temos vários tipos de tijolos (estudando) somente neste piso, o que é um ponto intrigante”, diz Marina Tonussi, da equipe da Kruchin Arquitetura. Outra descoberta foi que os ladrilhos são feitos por uma empresa que ainda existe, a Argilex, de uma forma diferente do que foi dito até então. Consequentemente, as substituições são feitas pelo mesmo fabricante dos originais e estão sendo testadas em várias combinações, a fim de se aproximarem do mosaico que reveste o edifício. Publicidade Entrada principal do edifício, na Avenida São João Foto: Alex Silva/Estadão Alterar os ladrilhos do piso não é tão simples, no entanto
. Em primeiro lugar, porque muitas vezes partes da argamassa e do reboco ficam muito soltas e, por isso, é necessária uma remoção maior. “Lá em cima, quando achávamos que só precisaríamos remover os ladrilhos do piso, apareceu um bloco gigante (com reboco, etc.)”, explica Marina. Além disso, em alguns componentes, devido às diferenças de tamanho do edifício, os funcionários precisam trabalhar suspensos em vigas de equilíbrio. “É uma estrutura como um bolo de casamento, com muitos recuos e tamanhos, temos uma dificuldade técnica”, explica. Construído na década de 1950, o São João é um dos maiores edifícios do centro da cidade, com cerca de 150 metros de altura. Foto: Werther Santana/Estadão. Outro obstáculo apontado pelo arquiteto é a remoção de toda a sujeira acumulada ao longo de anos de exposição direta aos materiais e contaminação, principalmente nas pedras. Para resolver isso, inicialmente foi realizada a limpeza com detergente e hidrojateamento.No entanto, isso não teve tanto impacto quanto a limpeza com um ácido fraco. Agora, o próximo teste é com ácido muriático puro, observado por horas. Existe também um plano alternativo que pode até incluir o uso de um laser. “Granitos são muito porosos e muito ásperos. Então, eles retêm muita poeira”, ele aponta. Leia também: