Um soldado registrou um boletim de ocorrência em março deste ano para relatar que foi forçado a fazer flexões; ele afirma ter sido chutado após relatar que havia perdido um item de seu uniforme. O Exército afirmou que irá verificar o boletim de ocorrência, mas que não há provas de crime.

Soldado registra agressão dentro de quartel do Exército

Soldados militares em Barueri, na Grande São Paulo, relataram em grupos de mensagens que os quartéis possuem diversos locais sem câmeras de monitoramento — o que, segundo eles, certamente propiciaria episódios de violência como o relatado à polícia pelo soldado Valdir de Oliveira Franco Filho, em março deste ano.

Valdir registrou um boletim de ocorrência para relatar que foi agredido dentro do quartel após perder o fecho de seu cinto de segurança. O jovem vai para casa, acamado e com sequelas físicas. O Exército informou que o caso está sendo investigado e abriu inquérito (veja mais abaixo).

Em um dos sons captados pela TV Globo, um soldado reclama sobre a possibilidade de os agressores levarem colegas de trabalho para áreas desprotegidas:

“Cara, não tem câmera de segurança, não. Os caras agora levam eles para a esquina, onde não tem câmera de vídeo, para fazer eles ‘pagarem'”, diz o trecho. 1 de 6 Som e impressões revelam que militares relatam ausência de câmeras no quartel de Barueri, onde um soldado relatou um ataque– Foto: TV Globo

Som e impressões revelam que militares do Exército relatam falta de câmeras de vídeo no quartel de Barueri, onde um soldado relatou um assalto– Foto: TV Globo

Mais um integrante da equipe escreveu: “Praticamente não tem câmeras em toda a Coleção de Guerra”.

2 de 6 Áudio e impressões revelam que militares relatam ausência de câmeras no quartel de Barueri, onde um soldado relatou uma agressão– Foto: TV Globo

Som e impressões revelam que militares do Exército relatam falta de câmeras eletrônicas no quartel de Barueri, onde um soldado relatou uma agressão– Imagem: TV Globo

Uma terceira pessoa reforçou a conversa: “Recentemente, quando tirei a guarda, as câmeras de vídeo do chefe da guarda estavam todas desligadas.”

3 de 6 Som e impressões revelam que militares do Exército relatam falta de câmeras eletrônicas no quartel de Barueri, onde um soldado relatou uma agressão– Foto: TV Globo

Áudio e impressões revelam que militares do Exército relatam falta de câmeras eletrônicas no quartel de Barueri, onde um soldado relatou uma agressão– Foto: TV Globo

Em reunião com a TV Globo, o soldado Valdir de Oliveira relatou que foi vítima de uma agressão. Ele disse que tudo começou em 10 de março, quando informou a um policial que havia perdido o fecho, uma peça oferecida pelo depósito, ao receber seu uniforme novo.

Em seguida, ele teria sido levado a uma sala sem iluminação, câmeras de vídeo ou janelas. Lá, ele alega ter sido obrigado a fazer flexões enquanto era chutado e perguntado “quanto” custava o fecho.

“Naquele dia, aconteceu a mudança consistente. Entrei no depósito, na parte que ficava na pequena área onde o tenente estava. Ele pegou as medidas das roupas. Quando entrei no próprio depósito, onde as roupas eram guardadas, pediram que eu os cumprimentasse três vezes. Começaram dizendo: ‘Vamos jogar o uniforme fora, e vocês pegam’.”Depois disso, eles começaram a jogar o uniforme e me bater na cabeça e nas costas. Eles realmente não se importaram”, relatou ele. E continuou: “Até que eu peguei o pacote completo do uniforme e estava indo para a porta, quando ele olhou para mim e perguntou sobre o cinto. Eu me virei e disse: ‘Eu tenho o cinto, só não tenho o fecho que acabei perdendo’. Então ele disse: ‘Eu tenho uma fivela aqui. Quanto custa para o senhor?’. Eu disse: ‘Não sei, senhor’. Ele disse: ‘Então, 10 flexões’. Fui me abaixar no meio do depósito e ele disse: ‘Aqui não’. Ele me levou para uma área dentro do depósito, muito escura. Quando me abaixei para fazer as flexões, ele começou a me bater.”

4 de 6 Soldado relata agressões no Exército de Barueri após alegar ter perdido o fecho do cinto– Imagem: Arquivo Pessoal

Soldado relata agressões no Exército de Barueri após alegar ter perdido o fecho do cinto– Foto: Arquivo Pessoal

O jovem relatou aos policiais que, também após as agressões e com extremo desconforto na cabeça, foi obrigado a retornar aos treinos físicos naquele dia. À noite, ele afirma que foi trancado em um quarto e depois levado novamente para mais atividades físicas.

De acordo com o relatório policial, o soldado foi levado para a Unidade de Saúde Municipal de Barueri (Sameb). Após ser atendido, ele foi obrigado a comer em apenas 3 minutos.

Após se sentir mal, vomitar sangue e retornar ao posto médico, ele recebeu recomendação médica de 3 dias de folga, o que, segundo ele, não foi valorizado pelo quartel.

“Ainda sinto fraqueza nas pernas, vomito sangue e dor nas costas”, enfatizou o soldado.

Soldado registra agressão em quartel na Grande São Paulo após perder cinto; Exército diz que abriu inquérito

Defesa menciona ‘tormento’

Para o advogado de defesa do soldado, ele foi submetido a circunstâncias incompatíveis com a função militar.

“Tenho que afirmar que meu cliente viveu dias de tortura no quartel do Exército, onde compareceu para cumprir dever público. Ele sofreu agressões físicas e psicológicas que deixaram cicatrizes para o resto da vida”, afirmou Eduardo Lemos Barbosa.

O que o Exército diz

Em nota, o Comando das Forças Armadas do Sudeste (CMSE) informou que abriu inquérito para apurar o caso.

“O Centro de Convivência Social Militar esclarece que, durante o expediente do dia 12 de março de 2025, o Soldado Valdir de Oliveira Franco Filho sentiu-se debilitado e foi imediatamente encaminhado ao Posto Clínico da Caixa de Guerra de São Paulo e, em seguida, transferido para o Serviço de Assistência Médica de Barueri (SAMEB), onde recebeu atendimento, foi liberado e retornou à Companhia da Força Armada.

No dia seguinte, 13 de março, o soldado apresentou novamente os mesmos sintomas e foi encaminhado ao Hospital das Forças Armadas do Estado de São Paulo (HMASP), onde realizou os exames necessários e permaneceu internado até o dia 21 de março. Desde então, ele se recupera em casa, seguindo o tratamento prescrito pelos médicos responsáveis.

Desde o momento em que foi constatado que ele não estava em plenas condições de saúde, o soldado vem recebendo o devido atendimento médico do Exército Brasileiro.

Assim que tomou conhecimento do registro relatado na denúncia, em abril 17, 2025,O Arsenal de Guerra de São Paulo instaurou inquérito para apurar os fatos. Até o momento, não há indícios de qualquer tipo de atividade criminosa no âmbito daquela Companhia das Forças Armadas.

Por fim, o Exército Brasileiro afirma seu compromisso com a rigorosa observância dos preceitos legais, princípios honestos e valores éticos que norteiam a conduta de todos os seus integrantes.”

A Divisão de Segurança Pública de São Paulo informou que o caso foi registrado como perseguição pela Delegacia de Polícia Eletrônica e encaminhado à 1ª Delegacia de Polícia de Barueri, responsável pela investigação.

“Mais detalhes serão coletados para garantir a autonomia na atuação policial”, afirmou a divisão em nota.

5 de 6 Soldado diz ter sido agredido em quartel em Barueri após perder fivela de cinto– Foto: Arquivo Pessoal

Soldado diz ter sido agredido em quartel em Barueri após perder fivela de cinto– Foto: Arquivo Pessoal

Caso de afogamento no Exército de Barueri

​​Em outro caso, na mesma cidade, a União foi obrigada pela Justiça Federal a pagar R$ 468 mil em indenização por danos morais à irmã e à tia de um soldado. Wesley da Hora dos Santos afundou durante treinamento aquático em um lago no quartel do Grupo Bandeirante, em Barueri, em abril de 2017. A decisão foi proferida pela juíza Leila Paiva, da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em 24 de fevereiro. A União já havia sido condenada por sentença da 4ª Vara Federal de Sorocaba, mas recorreu ao TRF-3 na tentativa de reduzir o valor da indenização. Mesmo assim, a Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso da União.

“Não há dúvidas de que o evento fatal resultou de uma série de ações irresponsáveis ​​dos militares, que agiram de forma negligente e imprudente, como plenamente comprovado na decisão proferida em ação criminosa militar”, mencionou o relator.

Wesley, Victor da Costa Ferreira, 18, e Jonathan Turella Cardoso Allah, 19, morreram afogados após receberem ordens de “se afogar até o pescoço” para realizar uma determinada tarefa nas instalações do 20º Grupo de Armas Leves de Campanha.

De acordo com os documentos, a equipe havia realizado uma atividade de localização de pontos no terreno utilizando mapa e bússola. Os três militares se esqueceram de anotar um dos fatores.

Por esse motivo, um cabo recebeu uma trote, contrariando as instruções do tenente, que havia considerado a ação encerrada. A trote incluía a tomada de uma nova rota, incluindo a travessia do lago. Na época, familiares afirmaram que os jovens não sabiam nadar.

Durante a travessia, um dos funcionários escorregou e foi parar no fundo do lago. Os outros dois tentaram socorrê-lo, mas não conseguiram e também afundaram. Os três faleceram.

Segundo a ação, não houve orientação adequada. “Atentas às circunstâncias da realidade, ao grau de arrependimento dos representantes e às condições socioeconômicas dos fatos, a sentença proferida no referido acórdão é cabível”, concluiu o relator.

6 de 6 3 militares afundaram em quartel em Barueri em 2017 — Foto: TV Globo/Reprodução

Três militares se afogaram em quartel em Barueri em 2017 — Imagem: TV Globo/Reprodução

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