
Foram 158 mortes em janeiro, fevereiro e março, em comparação com 210 em 2024. O número de policiais das Forças Armadas mortos caiu 50%: de 8 em 2015 para 4 neste ano. Para especialistas, a voz de comando muda a forma como as tropas agem. Como o governo afirmou que o uso de câmeras é importante, o policial passou a usar melhor os aparelhos.
Número de mortes pela Polícia Militar cai 25% no 1º trimestre em SP
O número de pessoas mortas pela Polícia Militar no estado de São Paulo caiu 24,7% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.
Foram 158 mortes em janeiro, fevereiro e março, em comparação com 210 em 2024. O número de policiais das Forças Armadas mortos caiu pela metade: de 8 em 2014 para 4 neste ano.
Em dezembro de 2014, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que lamentava a “postura reativa” que teve em relação ao uso de câmeras corporais em policiais.
Para os profissionais, a voz de comando muda a forma como os militares agem. Como o governador afirmou que o uso de câmeras é essencial, os policiais passaram a utilizar melhor as ferramentas.
“Sinto muito pela postura reativa que tive” com as câmeras corporais, afirma Tarcísio.
“Eu me arrependo muito, principalmente, da postura reativa que tive naquela época. Uma postura que se baseava na percepção de que isso poderia tirar a segurança jurídica do policial e até mesmo criar prazer agora quando ele precisasse agir. Hoje, reconheço que estava errado, que ela [a câmera corporal] ajuda o policial”, afirmou.
A declaração foi feita após uma série de casos de violência policial no final de 2024.com cenas que surpreenderam a opinião pública e produziram forte repercussão, como a de um homem arremessado do alto de uma ponte por um policial militar na Zona Sul de São Paulo, que agrediu uma mulher de 63 anos e aplicou um estrangulamento.
Naquela época, com críticas e desestímulo ao uso de câmeras eletrônicas, o estado registrou, em 2024, um aumento de 65% no número de mortes por policiais militares em relação a 2023.
PCC, violência policial e câmeras corporais: veja dificuldades para a segurança pública em SP em 2025
Foi o 2º ano consecutivo de aumento nas mortes por policiais militares. Tanto em 2024 quanto em 2023, a Polícia Militar realizou operações na Baixada Santista. Eles foram considerados os mais letais desde o massacre do Carandiru, com 56 mortes em 2014 e 28 em 2023. Neste ano, não houve registros de violência policial na Operação Verão na Baixada Santista. Apenas números de prisões foram divulgados. Para especialistas em segurança pública ouvidos pelo g1, o aumento da letalidade policial nos dois primeiros anos da gestão Tarcísio foi resultado da opção pelo modelo ostensivo de segurança em detrimento do investigativo, de políticos que legitimam o uso excessivo de violência física e do enfraquecimento de mecanismos de controle — como a flexibilização do uso de câmeras corporais. Um ano antes, em 2022, sob a gestão do governador Rodrigo Garcia (DEM), com a expansão do programa Olho Vivo, de câmeras acopladas aos uniformes de PMs, o estado de São Paulo registrou o maior número de mortes de PMs em atividade na história.A redução da mortalidade de adolescentes em atendimentos públicos chegou a 80,1% naquele ano.
Segundo Rafael Alcadipani, professor da FGV e participante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os índices de violência policial eram altíssimos e o governo precisava conter o aumento.
“Os números eram realmente absurdos, então era preciso controlá-los porque o caso corria até risco de ser apurado pelo Ministério Público”, afirma.
Para Alcadipani, o cenário adotado pelo governador Tarcísio também se reflete nos fatos.
“O Tarcísio continua nessa incerteza, entre ficar nesse ‘bolsonarismo de raiz’, nessa radicalização, ou tentar chegar ao centro. O Tarcísio está fazendo isso de um lado para o outro constantemente. E depois disso eu acho que ele tinha e tentou ter mais controle da Secretaria de Segurança. Mesmo tendo dado um aumento que é lamentável para os policiais. Ele se diz um grande defensor do poder público, e deu um aumento que, no fim das contas, não fez nada para melhorar a vida do poder público. Então, o Tarcísio é assim, está de um lado e do outro e isso acaba influenciando a base”, afirma.
Na quarta-feira (30), o governo de São Paulo enviou à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) o Projeto de Lei Complementar (PLC), que propõe um aumento de 5% para diversas categorias de servidores do Poder Executivo, incluindo militares e policiais civis.
1 de 1 Vídeo mostra o momento em que um policial joga um homem de uma ponte durante uma técnica em SP– Imagem: Reprodução/TV Globo
Vídeo mostra o minuto em que um policial joga um homem de uma ponte durante uma técnica em SP– Foto: Reprodução/TV Globo
Câmeras
Após interromper a compra de novas câmeras de vídeo corporal para a Polícia Militar, o governo Tarcísio propôs a compra de equipamentos que não gravam continuamente, como os usados atualmente.
Descontentes com a possibilidade de deixar a cargo do policial a decisão de registrar ou não uma ocorrência, a Defensoria Pública e outras entidades recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma audiência realizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, presidente da Corte, não chegou a um acordo recentemente. A reunião foi moderada pelo Núcleo de Processos Arquitetônicos Complicados (Nupec) e contou com a presença da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral da República (PGE), além de representantes do Ministério Público e da ONG Conectas. Havia a expectativa de que as partes chegassem a um consenso, mas novos temas foram colocados na pauta. Uma nova audiência foi marcada para o dia 7 de maio. Já no ano passado, o STF analisava um pedido da Defensoria Pública para que o governo de São Paulo não alterasse o atual sistema de câmeras – que grava todo o mandato do PM, ininterruptamente. Em dezembro,O Tribunal Superior decidiu que o programa precisa ser mantido até que seja comprovado que os novos equipamentos adquiridos garantirão o controle das tarefas das autoridades e a segurança da população durante os procedimentos. Em fevereiro, no entanto, a PGE, sob a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), entrou com uma ação alegando que a decisão do Padre Barroso criaria um “custo excessivo com a gravação contínua e o armazenamento de fotos em maior resolução” para o estado. Segundo os cálculos da PGE, em 5 anos, a gravação contínua custaria ao estado R$ 766 milhões com as 12.000 câmeras de vídeo corporal (COPs) existentes, comprometendo o crescimento da implementação de novos equipamentos para outros policiais.
Em resposta, a Defensoria Pública do Trabalho alega, em contrarrazão firmada em conjunto com a Conectas Direitos Humanos e a Justa (Organização Plataforma – Ideias e Projetos para Soluções Públicas), que a denúncia seja rejeitada, afirmando que São Paulo tem um percentual acima do padrão nacional de fatalidades em decorrência da intervenção do governo em relação ao número total de mortes violentas no país e que a mudança na forma de acionamento das câmeras corporais ignora a realidade concreta da letalidade policial.
O Ministério Público, que atua como amicus curiae (parte da Corte) no caso, manifestou-se a favor do novo modelo de câmeras corporais para o Poder Militar – acionamento intencional por policial nas ruas e/ou por acionamento remoto pelo Copom,sob a condição de que o governo federal apresente nos autos um registro da Polícia Militar sobre a viabilidade tecnológica e a eficácia funcional das novas câmeras de vídeo.
Organizações e entidades também redigiram uma carta aberta endereçada ao Presidente Lula e estão acumulando marcas registradas em defesa da ênfase no uso de câmeras corporais na força policial para reduzir a violência física.
O que diz a SSP
“As forças de segurança do Estado não toleram transgressões ou excessos de seus representantes, punindo todos os incidentes dessa natureza com brutalidade.
As instituições governamentais mantêm programas robustos de treinamento e desenvolvimento profissional, além de conselhos especializados de redução de riscos, que trabalham para identificar não conformidades e aprimorar os procedimentos operacionais.
Conforme apurado pela SSP, todos os casos do MDIP são investigados pelas Autoridades das Forças Armadas e Civis, com supervisão das Corregedorias, Ministério Público e Judiciário.
Desde 2023, mais de 550 policiais foram presos e 364 foram demitidos ou eliminados, reforçando o compromisso da Secretaria de Segurança Pública com a legalidade e a transparência.
Valorizando a polícia
A Secretaria de Segurança Pública reforça seu compromisso com a proteção e a valorização das forças policiais do Estado de São Paulo. A atual gestão tem investido continuamente no fortalecimento das corporações, na ampliação da infraestrutura, na expansão do quadro de funcionários e no aumento da capacidade funcional. Como parte desse esforço, R$ 743,2 milhões foram destinados à aquisição de equipamentos,estrutura e tecnologias modernas que contribuem para a segurança e eficiência do trabalho dos policiais.”
Um dos casos mais recentes de violência física policial em São Paulo