Menina de 11 anos faleceu após 9 dias com sinais e sintomas graves; médicos suspeitaram de febre alta e tumor cerebral da dengue. Departamentos estaduais e municipais de saúde estão investigando o caso. 1 de 6 Millena Brandão tinha 11 anos. Na foto acima, ela aparece com seu irmão mais novo e seus pais, Luiz e Thays Brandão. Imagem: Divulgação/Arquivo pessoal.

Millena Brandão tinha 11 anos. Na foto acima, ela aparece com seu irmão mais novo e seus pais, Luiz e Thays Brandão. Imagem: Divulgação/Arquivo pessoal.

A atriz mirim Millena Brandão, de 11 anos, morreu na última sexta-feira (2) após adoecer e ser tratada em três unidades de saúde diferentes em São Paulo. A causa da morte ainda não foi determinada, e os pais da menina investigam o andamento do tratamento.

“Os médicos ainda não disseram o que realmente aconteceu com a minha filha e o que a matou”, afirmou Thays Brandão, mãe da atriz, em entrevista ao G1. “É um ponto de interrogação”, lamentou. Ela e o marido, Luiz Brandão, de 35 anos, também são pais de uma menina de 2 anos.

Em comunicados, as Secretarias de Saúde municipal e estadual informaram que vão verificar se houve alguma anormalidade por parte dos funcionários que atenderam Millena. As secretarias não informaram ao G1 qual era a doença da paciente nem qual a causa raiz de sua morte (saiba mais abaixo).

A atriz morreu nove dias após começar a sentir fortes dores na cabeça e na perna, ficar letárgica, sem apetite e desmaiar. Desde a última quinta-feira (24), ela estava internada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) municipal e em dois postos de saúde estaduais.Entre as suspeitas dos profissionais médicos estava um crescimento cerebral.

Segundo a família, o velório e sepultamento de Millena serão realizados neste domingo (4), no Cemitério de Campo Grande, na Zona Sul.

Profissão artística 2 de 6 Millena Brandão posa em frente ao SBT — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Millena Brandão posa em frente ao SBT — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Sua morte repercutiu nas redes sociais e na imprensa. Com mais de 180 mil seguidores no Instagram, Millena desejava se tornar uma atriz de renome e publicava fotos e vídeos de suas performances e trabalhos como modelo, interagindo com os seguidores.

Ela fazia parte da Cia Artística En’cena e participou de novelas diurnas como “A infância de Romeu e Julieta” e “A Caverna Encantada”, do SBT, além da produção da Netflix, “Sintonia”.

Em outubro de 2023, Millena comemorou o início de sua carreira no canal de Silvio Santos. “E o sonho virou realidade… Quem pensa sempre realiza”, escreveu ela na legenda de uma foto em frente à logomarca do canal.

Veja abaixo a cronologia das idas e vindas de Millena nos sistemas de saúde até a constatação da morte encefálica, segundo o prontuário de seus pais:

Unidade Geral de Saúde de Pedreira 3 de 6 Atriz infantil Millena Brandão — Foto: Reprodução/Redes sociais

Atriz infantil Millena Brandão — Imagem: Reprodução/Redes sociais

Millena teve uma frustração ao dar entrada no Hospital Geral de Pedreira, na Zona Sul, que é estadual. “Ela estava com enxaqueca, mas conseguia andar e falar. O médico disse que era dengue, mas não fez nenhum exame.”Ele nos disse para levá-la de volta para casa e oferecer dipirona”, lembrou Thays.

No sábado (26), Milena parou de se exibir em uma ocasião porque continuava sentindo desconforto. “Ela começou a sentir dores na perna, que não conseguia andar. Ela não andava. “Voltamos ao posto de saúde da Pedreira”, disse a mãe. Segundo Thays, os exames de sangue não apresentaram alterações e Millena foi orientada pela equipe médica a voltar para casa e descansar.

No domingo (27), a família tentou levá-la à igreja, mas a mulher sentiu enxaquecas mais fortes, sonolência e falta de apetite. Eles voltaram para casa.

UPA Maria Antonieta 4 de 6Thays, a caçula no colo, Luiz e Millena Brandão– Foto: Divulgação

Thays, a caçula no colo, Luiz e Millena Brandão– Foto: Divulgação

Na noite de segunda-feira (28), Millena conseguiu se alimentar, porém desmaiou no banheiro de sua casa. “Fomos à UPA Maria Antonieta [também no Grajaú e secundária à Secretaria Municipal de Saúde]. Chegamos com ela desacordada no colo do meu companheiro. Mais tarde, ela abriu os olhos e recuperou a consciência”, afirmou Thays. Os exames descartaram dengue, Covid e H1N1, segundo os pais. “No entanto, alegaram que ela tinha uma infecção urinária”, afirmou Thays. Ela recebeu antibióticos, dipirona e, diante da dor persistente, Tramal. “Ela colocou a mão na cabeça e gritou de dor”, disse Thays, emocionada. Devido à gravidade do estado de saúde da criança, a equipe médica decidiu solicitar um quarto para ela em um posto de saúde no local. Segundo a mãe, uma enfermeira havia zombado da filha: “Ela disse para ela não chorar, que não ia passar.

Na manhã seguinte, Millena teve sua primeira apreensão cardiorrespiratória. “Seu lábio ficou roxo. Então, eles a ressuscitaram e a intubaram. Daquele dia em diante, ela nunca mais acordou.”

Unidade Médica Geral do Grajaú 5 de 6Millena Brandão tinha 11 anos; ao lado de uma imagem do exame onde a ponta de flecha do mouse circulada em vermelho mostra uma área que se presume ser um tumor no cérebro da atriz, segundo a família– Foto: Reprodução/Divulgação

Millena Brandão tinha 11 anos; ao lado da imagem do exame onde a ponta de flecha do mouse circulada em vermelho mostra uma área duvidosa que pode ser um tumor no cérebro da atriz, segundo a família– Foto: Reprodução/Divulgação

Millena havia acabado de receber transferência de emergência da UPA para o Hospital Geral do Grajaú na manhã de terça-feira (29).

“Não havia nenhum neurologista lá. “Eles fizeram apenas uma tomografia computadorizada, e os médicos disseram ter visto uma massa de 5 centímetros no cérebro dela”, afirmou Thays (veja a imagem ao lado). “No entanto, não sabemos se essa massa era um tumor, um cisto, um edema, uma embolia… porque eles não conseguiram abrir a cabeça dela para ver. E agora, que ela faleceu, eles provavelmente farão uma biópsia para descobrir o que havia no cérebro dela.” Thays lamenta que essa investigação não tenha ocorrido antes, quando ela levou a filha a outros serviços de saúde, o que poderia ter levado a menina para o Hospital das Clínicas (HC), onde há neurologistas. “Se a UPA tivesse realmente transferido ela para o HC, haveria neurologistas lá. Bastante para garantir que o Hospital do Grajaú pretendia transferi-la para o HC”, disse ele.

Os dias em que Millena ficou internada foram carregados de angústia e estresse. “Ela piorou, com 2 a 3 paradas cardíacas por dia. Ela tinha 13 crises no total. Ela nunca tinha tido isso antes. Houve um momento em que ela teve sete paradas respiratórias. Às vezes, faziam massagens e outras vezes davam choques [com um aparelho chamado desfibrilador]”, contou a mãe.

De acordo com Thays, quando surgiu uma vaga no HC para transferi-la para um neurologista, os médicos do Hospital Geral do Grajaú avaliaram que seria um risco à sua vida. “Eles preferiram esperar para ver se ela resistia, pois o simples ato de mexer no corpo a fazia ter infartos”, contou a mãe.

Morte cerebral

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Segundo a mãe, como Millena não acordou e seu quadro não melhorou, os médicos decidiram iniciar o protocolo para comprovar a morte cerebral.

“Porque na terça-feira, quando ela foi intubada, ela não abriu os olhos, não tem mais reflexos e não ficou acordada”, afirmou Thays, com a voz embargada.

“Outro dia, os médicos fizeram três exames nela, incluindo um encefalograma, que comprovou a morte cerebral. Eles também disseram que esperariam o coração dela parar de bater antes de desligar os aparelhos”, disse a mãe.

Ela e o marido tomaram uma decisão difícil, mas necessária, dada a condição permanente da filha. “Eu disse que se deixássemos o coraçãozinho dela parar de bater sozinho, nós sofreríamos muito mais, assim como ela. E pedimos para desligar os aparelhos.

O que dizem as Secretarias de Saúde

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Divisão de Saúde e Bem-Estar Local:

“A Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Sul, lamenta profundamente a perda da paciente M.M.B. e informa que será aberta uma perícia para apurar e esclarecer o atendimento prestado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dona Maria Antonieta.

A paciente foi atendida no sistema às 21h do dia 28 de abril. De acordo com o procedimento de Manchester, ela foi classificada como prioridade imediata e encaminhada para monitoramento, triagem (incluindo exame de dengue, que resultou negativo) e medicação. Sem qualquer renovação profissional, às 7h59 do dia 29 de abril, foi solicitada a transferência pelo Sistema Integrado de Regulação do Estado de São Paulo (SIRESP).

Após a equipe sinalizar a extensão do caso, às 10h54, o Hospital Geral do Grajaú cedeu um leito para a paciente e a transferiu. O monitoramento do Sistema permanece à disposição para o que for necessário.”

6 de 6 Atriz infantil Millena Brandão– Imagem: Reprodução

Atriz infantil Millena Brandão– Imagem: Reprodução

Secretaria Estadual de Saúde:

“O Hospital Geral da Pedreira lamenta o ocorrido, se solidariza com a família da pessoa M.B. e se coloca à disposição para prestar esclarecimentos sobre o caso. O sistema verificará a conduta médica adotada durante o tratamento.

O hospital informa que, durante a permanência da paciente no sistema, o atendimento, realizado no dia 26 de abril, foi realizado de acordo com o seu quadro clínico.Ela foi avaliada pelo médico plantonista e medicada de acordo com os sintomas relatados.”

E, em relação ao Posto de Saúde Geral do Grajaú, a Secretaria Estadual de Saúde informou o seguinte:

“O Posto de Saúde Geral do Grajaú informa, com profundo pesar, que foi confirmada a morte encefálica da pessoa Millena Brandão às 16h55 de hoje (02), que deu entrada neste posto em estado gravíssimo no dia 29/04/2025, transferida da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Maria Antonieta.

Desde sua chegada, a pessoa obteve amplo atendimento e total dedicação da equipe médica e de assistência, que não mediu esforços para preservar sua vida.

O diagnóstico foi confirmado após rigoroso cumprimento do procedimento desenvolvido para estes casos.

Os familiares estiveram presentes em todas as etapas do atendimento, sendo mantidos informados com respeito, acolhimento e toda a assistência necessária neste momento de profundo sofrimento.

Nós nos unimos à família e reafirmamos nosso compromisso com um atendimento digno e humano.”