
Fabrício Marcelo Silva de Castro Junior e os instrutores internacionais Ziqiang Ke e Mark Thomas Firestone são acusados na Justiça após uma ocorrência em uma propriedade rural em SP com mulheres e adolescentes. 1 de 8 Site dos instrutores que promoviam programa para homens– Imagem: Reprodução
Site dos instrutores que promoviam curso para homens– Imagem: Reprodução
A 4ª Vara Federal de Crimes Contra a Mulher de São Paulo iniciou nesta segunda-feira (5) as audiências do caso dos instrutores internacionais e de um “treinador de homens” brasileiro que ministraram um curso sobre como conquistar mulheres, em São Paulo, em 2023. O caso continua na Justiça como propaganda de prostituição.
Segundo o TRF-3, os primeiros depoimentos foram colhidos e esta fase será encerrada em julho, com as audiências e os demais interrogatórios. Fabrício Castro, que se autodenominava “mentor de homens”, assinou, na época do “curso de formação” na capital paulista, o contrato de locação da mansão onde se realizou uma festa. Ele precisava entregar sua passagem à Polícia Federal até o final de 2024, conforme determinação do juiz, mas se absteve e sua prisão foi decretada para março. Com mandado de prisão em aberto e fora do país, ele é considerado foragido da justiça brasileira. “A permanência do acusado fora do território nacional, sem a devida autorização, configura negligência do acusado com a justiça e concretiza o comprovado temor que justificou a aplicação de medidas cautelares alternativas à prisão, ou seja, a ameaça de fuga do réu do território nacional”, escreveu o juiz. Apesar de ter sua prisão decretada no Brasil, e de o tribunal ter solicitado a interpelação da Interpol,Fabrício ainda posta vídeos em suas redes sociais e redes sociais. Na segunda-feira, por exemplo, compartilhou imagens de receitas de peixe e frutos do mar.
2 de 8 Fabrício em imagem publicada em suas redes sociais em abril deste ano — Imagem: Reprodução
Fabrício em imagem divulgada em suas redes sociais em abril deste ano — Imagem: Reprodução
Sua defesa foi chamada pelo g1, mas não havia enviado declaração até a última atualização desta reportagem. A defesa do residente chinês Ziqiang Ke, identificado como Mike Pickupalpha, não foi localizada pela TV Globo.
Os advogados do americano Mark Thomas Firestone, que também se identificou como David Bond e Steven Mapel, afirmaram que “o início das audiências e os depoimentos revelam que as acusações contra Mark Firestone não são sustentáveis”.
“As testemunhas ouvidas até o momento demonstram que a questão se baseia em uma análise equivocada da verdade, inclusive no que se refere à autoria atribuída a Mark Firestone. O Sr. Firestone continua otimista de que o desenvolvimento do processo, com a extensão dos testamentos e a discussão das provas, comprovará sua legitimidade”, afirmaram os advogados Mauricio Ejchel e Ana Carolina Moreira Santos.
Lembre-se da situação
Fabrício, Ke e Mark são réus em ação movida pela 4ª Vara Federal de Execuções Penais de São Paulo.
O trio era investigado desde um incidente ocorrido em um condomínio no Morumbi, Zona Sul de São Paulo, em fevereiro de 2023, que pertencia a um programa frequentado por adolescentes.
Anteriormente, em relação a Fabrício, em decorrência de suas constantes viagens,A Justiça deferiu pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Federal para apreender sua passagem, alertar a PF e impedi-lo de sair do país. Desde então, em suas redes sociais, Fabrício já visitou lugares como Camboja, Espanha e Tailândia. Em nota, a Polícia Federal informou que não apreende chaves fora do território nacional. ‘Círculo Social Milionário’ O evento no Morumbi foi promovido por Mike Pickupalpha e David Bond, do site Círculo Social Milionário. O contrato de locação do imóvel foi assinado por Mike e Fabrício Castro, que também receberam R$ 5.950 em auxílio emergencial durante a pandemia da Covid-19 enquanto ofereciam cursos profissionalizantes. Entre vítimas de 17 a 24 anos e testemunhas, 17 pessoas foram ouvidas pela 34ª DP de São Paulo, que apurou o caso.
‘Não fui forçada, mas fui atraída, adaptada para estar lá’, afirma uma das mulheres usada como ‘cobaia’ por instrutores para um curso de pegação.
Adolescentes em um condomínio
Procurado pelo G1 na época, o pai de uma jovem de 17 anos reconheceu a filha em fotos tiradas na festa. A mulher confirmou à família que conheceu Mike Pickupalpha, um dos mentores, pela internet, saiu com ele e fez uma viagem.
Sua presença na festa foi revelada pelo Fantástico, e seu pai conversou com o g1. Sobre o evento, a jovem disse que “não queria que fosse gravado e não queria tirar fotos”. Ambos apareceram em um vídeo comendo comida japonesa, que foi publicado na conta do programa, e se abraçando na praia.
Outra menor, conforme apurado pelo g1,foi à festa a convite de uma amiga mais velha. A jovem, então, consumiu álcool e confiou em um dos alunos.
O relacionamento foi consensual, mas ela não sabia que o grupo pertencia a um curso profissionalizante.
No site Millionaire Social Circle, todos os textos e fotos associados a viagens a países como Costa Rica, Colômbia e Filipinas, que haviam sido removidos, voltaram. O site, no entanto, voltou sem o vídeo do programa no Brasil.
3 de 8 O site voltou com vídeos de viagens a outros países — Foto: Reprodução
O site voltou com vídeos de viagens a outros países — Foto: Reprodução
Investigação das autoridades
Pelo menos duas mulheres relataram à Polícia Civil de São Paulo que conheceram “alunos” dos instrutores online, foram a um jantar em grupo e estavam em um evento alguns dias depois.
Em ambos os cenários, videoclipes foram feitos e utilizados em publicidade e marketing para o curso de treinamento sobre como conquistar mulheres, segundo eles. Os organizadores negaram que as gravações fossem para fins publicitários.
As duas jovens e outras duas entrevistadas pelo g1 afirmaram não saber que a equipe estrangeira estava participando de um programa (veja as reportagens abaixo).
Mike já apareceu em redes do YouTube filmando mulheres com câmeras de vídeo claramente escondidas em vários países. David Bond afirmou ser um profissional de namoro online e produtor de conteúdo digital.
A promoção do curso 4 de 8 no site dos treinadores antes de ser removida– Imagem: Recreação
Promoção no site dos treinadores antes de ser removida– Imagem: Recreação
O curso,Oferecido a estrangeiros de diversos países, o pacote custava a partir de US$ 12 mil (cerca de R$ 63 mil) por consultoria ocupacional e uma viagem de duas semanas para algum país. Além do Brasil, houve versões na Costa Rica (em fevereiro de 2022), Colômbia (julho de 2022) e Filipinas (agosto de 2022). O pacote com 6 países, chamado World Tour, custou US$ 50 mil (cerca de R$ 262,7 mil), segundo o site da equipe. “Venha explorar com David e Mike e conhecer mulheres brasileiras em todo o mundo que são conhecidas por serem divertidas, curvilíneas e apaixonadas”, dizia a notícia da viagem ao Brasil. Em um vídeo, a dupla exibiu o kit que levaria na bagagem: pílulas do dia seguinte, usadas para evitar a gravidez em relações sexuais desprotegidas, preservativos e fragrâncias com aromas — que supostamente secretam substâncias para atrair o interesse feminino.
O que as mulheres alegaram 5 de 8 Festa em mansão em São Paulo – Foto: Arquivo
Festa em mansão em São Paulo – Foto: Arquivo
A mulher que registrou o boletim de ocorrência alegou ter visto vídeos publicados em que aparecia com os alunos do programa de “mentoria”. Foi isso que a fez querer denunciar. Ela disse que conheceu um homem no Tinder e foi convidada para jantar com os “amigos” dele.
“Saímos algumas vezes até que ele me convidou para jantar, que ele me disse que seria com os amigos dele. Foi normal [o jantar] e conversamos sobre assuntos tranquilos, principalmente porque eu queria praticar meu inglês. Eles estavam filmando o tempo todo e eu tentei evitar porque não gosto de ser filmada”, lembrou ela.
No dia seguinte,A brasileira foi recebida pelo homem na festa na mansão.
“Havia muitas mulheres no evento e nem todas sabiam falar inglês. Havia funcionários, um DJ, comissários de bordo. Uma delas me informou que foi [ao evento] por causa de um anúncio e depois achei estranho, pois ela disse que eles pagaram o transporte também. Achei que era algo muito mais pessoal.”
A outra mulher que foi à festa na mansão também conheceu o homem que a convidou para sair no Tinder. Ela disse que combinou com um americano e foi convidada para jantar. O homem disse que fazia parte de uma equipe de serviço e a convidou para sair logo no primeiro dia.
Lá, ela disse, estavam várias outras mulheres que estavam com seus “amigos”. Ela não sabia, mas eram outras alunas do curso.
“Conheci várias outras brasileiras lá e gostei bastante, já que não falo inglês muito bem. Era um restaurante muito elegante, também exagerado. O rapaz com quem saí me tratou com muita frequência, desde o início, criando um vínculo. Havia pessoas de vários países. Não me senti desconfortável naquele momento.”
6 de 8 Instrutores dizem que se orgulham do grupo que ficou no Brasil– Imagem: Reprodução
Trens dizem que se orgulham do grupo que ficou no Brasil– Imagem: Reprodução
O encontro foi antes da festa. Dias depois, ela recebeu um convite para dar informações pessoais e fazer parte da lista do evento.
“Eu realmente não fiquei até o final do evento. Interagi muito mais com as mulheres que conheci no jantar,Mas conheci uma menor que disse entender as pessoas na empresa. Ela disse que faria 18 anos em breve, mas estava em uma festa com comida e bebida à vontade. Eu realmente não a vi saindo com ninguém, mas ela disse que se sentiu mal depois de ver um casal fazendo sexo em um dos quartos.”
O que ‘Mike’ e ‘David’ disseram antes 7 de 8 Vídeo feito antes da viagem ao Brasil — Foto: Recreação
Vídeo feito antes da viagem ao Brasil — Foto: Recreação
Mike Pickupalpha conversou com o g1 em março de 2023. Questionado mais de uma vez se ele havia informado às mulheres que o evento era um curso prático na carreira, ele não respondeu.
“Foi um evento coorganizado com meus amigos brasileiros. Alguns trouxeram seus próprios parceiros. Um evento com adultos que escolheram estar lá por livre e espontânea vontade. Alimentação, segurança e transporte adequado foram fornecidos.”
Quando questionado sobre a presença de menores no evento, o instrutor não rejeitou, mas afirmou que possivelmente havia câmeras de segurança no local. “No formulário de inscrição, dissemos que era necessário ser maior de 18 anos e pedimos à equipe de segurança que supervisionasse e ficasse de olho em todos.”
8 de 8 Convite enviado para inscrição na festa em São Paulo — Imagem: Reprodução
Convite enviado para inscrição na festa em São Paulo — Foto: Recreação
Veja a declaração completa de Fabrício no momento da acusação:
“A atuação do Sr. Fabricio se limita à intermediação do contrato de locação, pois o proprietário do imóvel residencial ou comercial precisava que o contrato fosse assinado por um brasileiro, e a formalização do contrato de locação em questão por um estrangeiro não é permitida.
Além da intermediação da locação do imóvel, o Sr. Fabricio, por conhecer diversas pessoas na região de São Paulo, apenas auxiliou na contratação de DJs e aparelhagens de som.
Com exceção dos dois eventos descritos acima, ele participou do evento apenas como convidado. Informa ainda que acompanha o Sr. Mike desde 2017, quando ambos estiveram no Brasil pela última vez a turismo, levando-o para um passeio pelo Complexo da Rocinha, na cidade do Rio de Janeiro/RJ.
Durante o período em que esteve no evento descrito neste relato, não teve conhecimento nem presenciou qualquer indício da presença de menores de idade nas instalações.