As primeiras demolições começarão em julho e afetarão mais de 4.000 casas até 2029; famílias dizem ter sido pegas de surpresa. A Prefeitura de São Paulo alega que “a hipótese de desconhecimento da proposta não está comprovada”. 1 de 4 3 de fevereiro – Moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, enfrentam o terceiro dia consecutivo de alagamentos na comunidade, que enfrenta problemas de alagamentos há décadas. A região, que possui cerca de nove lotes, está localizada em uma área de várzea do Rio Tietê – Imagem: Fábio Vieira/FotoRua via Estadão Conteúdo

3 de fevereiro – Moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, enfrentam o terceiro dia consecutivo de alagamentos na região, que enfrenta problemas de alagamentos há anos. A região, que possui cerca de 9 bairros, fica em uma área de várzea do Rio Tietê — Imagem: Fábio Vieira/FotoRua via Estadão Conteúdo. Moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, se dizem surpresos com o anúncio da Prefeitura de São Paulo sobre a remoção de mais de 4.300 casas na região até 2029. As primeiras demolições, programadas para julho, devem impactar cerca de mil imóveis. Segundo registros, muitas famílias não foram avisadas com antecedência e ainda não sabem para onde serão transferidas. “Eles querem nos mudar, não sei para onde, mas fazer o quê, né?”, questiona a aposentada Erenita Maria da Silva, moradora da região.

A estratégia de remoção foi apresentada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) em 7 de maio. A região é conhecida por lidar com inundações e inundações durante temporadas de tempestades há mais de três décadas.A declaração foi feita após reunião com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o presidente da Sabesp, Carlos Piani, e assessores.

A medida faz parte de um projeto para tentar conter os efeitos das enchentes na região, que fica na planície de inundação do Rio Tietê. A proposta da prefeitura é construir uma barreira de 1 metro de altura e quase 4 km de extensão ao longo de seis bairros da comunidade. O custo estimado da obra é de R$ 32 milhões.

“Essa foi uma bomba, pegou todo mundo de surpresa. Precisamos ver o que os moradores estão fazendo, mas o mais importante é ver para onde vamos realocar essas famílias”, afirma Maria José Batista Gomes, gestora da área. 2 de 4 Maria José, líder comunitária.– Foto: Reprodução/ TV Globo

Maria José, líder da área.– Foto: Recreação/ TV Globo

A maior parte das remoções ocorrerá no bairro Jardim São Martinho, onde estão previstas 2.600 demolições. Várias casas abrigam várias famílias ao mesmo tempo.

“Na minha casa moram 8 pessoas da família. Meu genro, minha filha, minhas netas, meus filhos, minha esposa”, disse Jordânia Marques da Silva, moradora da região.

Ela só soube que sua casa entrou no mapa de remoções um dia antes de o vídeo ser gravado.

3 de 4 Jôrdani é morador do Jardim Pantanal.– Foto: Recreação/ TV Globo

Jôrdani é morador do Jardim Pantanal.– Foto: Reprodução/ TV Globo

Lideranças da região e entidades que atuam no local afirmam que não foram contatadas para falar sobre a estratégia e que a prefeitura não deixou claro se haverá realocação com moradia permanente ou apenas auxílio-aluguel.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo alegou que “a alegação de desconhecimento da proposta é infundada”, sendo que o prefeito já havia discutido a possibilidade de remoções em fevereiro deste ano.

A gestão também garantiu a realização de audiências públicas com lideranças e moradores para discutir o plano e obter sugestões da comunidade.

Projeto de despejo

Nunes anuncia remoção de familiares do Jardim Pantanal

Segundo o prefeito, a operação está prevista para começar em julho e deve prosseguir até o final de 2029. A primeira fase prevê a remoção de mil imóveis residenciais localizados às margens do Rio Tietê, em uma faixa que chega a dois metros de altura e é considerada de alto risco de alagamentos e deslizamentos.

“A equipe da Divisão de Imóveis demonstrou que já houve diversas situações em que famílias foram removidas e, posteriormente, houve novas obras nessas áreas. Então, a grande ação agora é remover essas mil famílias e construir um gabião de 4,2 km que delimitará a área, para garantir que não haja ocupação e reocupação”, explicou Nunes.

Este gabião — uma estrutura de contenção feita de pedras e perfis de aço — será instalado ao longo de 4.200 metros ao longo do Jardim Pantanal e bairros vizinhos, servindo como barreira física para impedir novas construções e construções irregulares.

Além disso, viaturas da Guarda Civil Metropolitana Ambiental, da Polícia Militar Ambiental,e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) certamente reforçará a fiscalização no local para coibir reocupações e o descarte irregular de entulho na área.

O trabalho de remoção está dividido em três etapas:

Fase 1 (julho de 2025 a outubro de 2026): remoção de mil edificações e construção do gabião. Fase 2 (novembro de 2026 a junho de 2028): remoção de mais mil imóveis. Fase 3 (julho de 2028 a dezembro de 2029): remoção dos 2.344 imóveis residenciais restantes.

No total, 4.344 imóveis residenciais ou comerciais ficarão desabitados nos próximos quatro anos.

Auxílio imobiliário 4 de 4 A Vila Seabra, no Jardim Helena, zona leste de São Paulo, enfrenta seu 3º dia de ruas alagadas, nesta segunda-feira (3), após as fortes chuvas que atingiram a região nos últimos dias.– Foto: EDI SOUSA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A Vila Seabra, no Jardim Helena, zona leste de São Paulo, enfrenta seu terceiro dia de ruas alagadas, nesta segunda-feira (3), após as fortes chuvas que atingiram a região nos últimos dias.– Foto: EDI SOUSA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O prefeito garantiu ainda que todas as famílias afetadas terão apoio imobiliário garantido, com alternativas que consistem em pagamento, auxílio aluguel ou a estipulação de moradia com a Divisão de Imóveis do Município, o governo estadual e a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Imobiliário e Urbanístico).

As enchentes mais recentes, ocorridas no início de 2025, deixaram milhares de moradores do Jardim Pantanal desabrigados. Com o transbordamento do Rio Tietê, ruas ficaram alagadas por dias, e familiares perderam móveis e pertences. A circunstância reacendeu o debate sobre soluções definitivas para a vulnerabilidade da região.

Enchentes históricas

A área do Jardim Pantanal se estende por 9 áreas ao longo da Zona Leste de São Paulo e sofre desde a década de 1980 com grandes inundações que deixam moradores submersos todos os anos.

A região deveria ser uma Área de Defesa Ambiental (APA), onde a construção de casas e estradas é proibida. No entanto, a ocupação irregular e desordenada da cidade transformou a área em uma comunidade com muitas famílias e comunidades.

Os primeiros moradores chegaram à área na década de 1980. Nos anos 2000, a situação se agravou com o aumento da irregularidade das obras na região.

Em nossa série de reportagens sobre o Jardim Pantanal, mostraremos a luta de lideranças comunitárias para melhorar as condições de vida extremamente difíceis.

E basta um pouquinho de chuva para que a água encha as ruas. Incapaz de remover os moradores da área, o governo federal começou a levar infraestrutura para as margens do rio e construiu complexos imobiliários, escolas e piscinas nos últimos anos. Durante uma grande enchente em 2009, a comunidade ficou alagada por mais de 20 dias. A cena foi registrada pela emissora Globo na época. Em 2020, o então governador João Doria, ex-PSDB, instalou uma espécie de barreira para tentar conter as enchentes. O prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) afirmou em 2014 que R$ 400 milhões seriam destinados a obras, incluindo drenagem para evitar alagamentos na região.

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