
Pessoas relatam atrasos na organização de tratamentos cirúrgicos e médicos apontaram a ausência de pessoal no centro cirúrgico. Em um comunicado, a Secretaria de Saúde informou que os problemas serão investigados.
Pessoas relatam violência física obstétrica e falta de materiais no Centro de Saúde Ipiranga
Familiares de pacientes internadas no Centro Médico Ipiranga, na zona sul da cidade de São Paulo, relataram novamente falhas no tratamento, falta de estrutura e atrasos nas cirurgias. Casos recentes revelam casos em que pacientes não conseguiram itens essenciais, como toalhas, ou tiveram que recorrer à assistência médica pessoal após esperar dias sem cirurgia programada.
Uma mulher que estava acompanhando o parto de sua cunhada e que preferiu permanecer anônima por medo de vingança, afirmou que precisou pedir uma toalha após dar banho na gestante, que estava em trabalho de parto. Segundo ela, o hospital não forneceu produtos básicos de higiene.
“Pedi uma toalha para a enfermeira, e ela disse que não tinham fornecido nenhuma, que só podia me dar um lençol. Você consegue imaginar uma gestante em trabalho de parto se secando com um lençol?”, relatou.
Outra reclamação veio da instrutora Mara Soares, que levou sua mãe, Maria Luiza, de 80 anos, ao hospital no dia 13, com fortes dores nas pernas. Segundo Mara, o atendimento inicial foi ruim e incluiu a aplicação inadequada de Tramal, o que desencadeou uma reação grave na idosa. “Ela começou a suar frio, perdeu a cor e disse que ia morrer. Era desesperador.”
Apesar dos sintomas graves, Maria Luiza foi liberada sem exames de imagem.Logo após retornarem à unidade e serem muito insistentes, foi realizada uma tomografia computadorizada, que indicou a necessidade de cirurgia. Segundo a família, o posto de saúde não informou a data do procedimento. “O médico me informou que minha mãe, de 80 anos, poderia ser operada em meados de maio. Hesitamos com a possibilidade de infecção hospitalar e decidimos transferi-la para uma unidade de saúde particular. Quando pedi alta, ainda fui incomodada pela equipe”, afirmou Mara. Diante da situação, a filha apresentou uma queixa à Ouvidoria da Secretaria Estadual de Saúde. O órgão solicitou informações ao posto de saúde sobre a falta de exames durante a consulta inicial e exigiu uma data específica para a cirurgia. Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) recomendou que as queixas sejam formalizadas, inclusive com documento de identificação, para que as providências sejam tomadas.
“Em primeiro lugar, deve-se buscar constantemente os meios mais eficazes para resolver o problema internamente, junto às agências de apoio ao paciente que a maioria dos estabelecimentos de saúde e bem-estar possui. Se o problema não for satisfatório, a denúncia pode ser encaminhada aqui ao Conselho Regional de Medicina. No estado de São Paulo, a denúncia deve ser feita na sede, em qualquer posto policial ou por e-mail. A partir daí, certamente tomaremos as medidas necessárias para investigar e fiscalizar”, afirmou o presidente do Cremesp, Angelo Vattimo.
Problemas na estrutura da unidade médica também foram relatados por um médico do sistema, que optou por manter o sigilo. Ele especificou que o centro cirúrgico do centro de saúde ficou fechado por quatro meses, entre dezembro e abril, e que,Mesmo após a retomada, apenas 50% dos quartos voltaram a funcionar devido à ausência de pessoal. “Temos oito quartos e apenas 4 estão funcionando. Vários especialistas se aposentaram e não houve substitutos. Hoje, a unidade de ortopedia tem 37 pacientes internados aguardando cirurgia. Há uma fila de mais de 150 pacientes com câncer sem consulta marcada”, relatou. As novas denúncias se somam às já relatadas pelo SP2 nos últimos dias, incluindo relatos de violência obstétrica (saiba mais abaixo). Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a média mensal de denúncias à Ouvidoria do Hospital Ipiranga é de 40. A unidade não divulgou a média do ano anterior, mas afirmou que os números atuais estão “bem acima”. Em resposta às preocupações, a secretária executiva estadual de Saúde, Priscilla Pericardis, anunciou medidas para aprimorar o atendimento. “Estamos aprimorando convênios e ampliando a equipe. A demanda mensal regular do posto de saúde subiu para aproximadamente 22 mil pessoas, o que interrompe o tratamento. Nosso objetivo é agilizar as transferências para outros equipamentos quando a unidade médica não consegue atender à demanda”, afirmou. O Hospital Ipiranga é administrado pelo governo estadual e funciona como uma unidade de “porta aberta”, o que significa que recebe pacientes sem a necessidade de regulamentação prévia. Segundo a secretaria, o volume ideal seria de 5.000 a 7.000 atendimentos mensais regulares — número que atualmente é três vezes menor do que o registrado.
Violência obstétrica
Mulheres que deram à luz no Centro de Saúde Ipiranga relatam ter sofrido violência física obstétrica antes do parto e o plano de saúde alega que elas foram geradas por médicos e enfermeiros para terem um parto natural.
O G1 entrevistou pacientes que receberam atendimento no centro de saúde – três delas foram para lá este ano. Entre os relatos: As mulheres relatam:
atraso ou recusa de atendimento; críticas à pessoa; recusa em atender aos sinais e queixas das mulheres; abandono e isolamento durante a indução do parto; abuso verbal pela equipe médica; atendimentos forçados ou não consentidos.
Em nota, a Secretaria de Saúde do estado de São Paulo informou que as denúncias serão investigadas para que as medidas cabíveis sejam tomadas. “O sistema destaca que preza pelo atendimento humano e profissional a todas as pessoas que buscam o serviço, além de ser certificado como referência para partos de risco.”
Carla da Silva Lana, 24 anos, foi internada no dia 6 de abril. Ela afirma que deu entrada no hospital em trabalho de parto, com pré-eclâmpsia e hipertensão arterial grave.
LEIA TAMBÉM:
Violência obstétrica: o que é, como identificar e como denunciar’As imagens são únicas’: médica acusada de violência obstétrica abriu bexiga de paciente achando que era o útero dela, diz especialista
“Eles [médicos] impediram meu trabalho de parto duas vezes e minha pressão começou a subir muito e não baixava. Eu disse aos médicos que precisava fazer o parto, senão teria uma convulsão.Mas o bebê realmente não nasceu; fiquei internada e mantida em monitoramento por 12 dias. Durante esse período, tentaram me induzir psicologicamente a aceitar a indução de um parto normal, mas eu recusei por causa da pré-eclâmpsia”, contou Carla ao g1. “A indução é a antecipação do parto por meio de métodos que promovem o início espontâneo das contrações, geralmente com o uso de medicamentos. O composto mais comum é a prostaglandina, e o procedimento geralmente é indicado a partir da 41ª semana de gestação. Carla afirma que pediu ajuda à irmã, que é representante legal, e que o parto só ocorreu em 18 de abril, após a intervenção dela. “Informaram à minha irmã que eu havia concordado em ser gerada e que havia assinado um papel — o que não ocorreu. Meu parto foi realizado e, logo em seguida, comecei a tomar sulfato. Meu bebê também foi levado direto para a UTI. Quando eu estava chorando por causa de toda a situação e sem ter visto meu filho, o cirurgião plástico chefe veio até mim, eu resmunguei que não aguentava mais, e ele disse: “Você realmente não teve um filho? Você não deveria ter dado à luz?”, relatou Carla. Ela também conta que, durante o parto, sentiu uma forte pressão, como se o médico estivesse subindo em sua barriga para tirar o bebê. Após o parto, seu filho foi internado na UTI com uma infecção estomacal, sem alta hospitalar. “Se [o trabalho de parto] tivesse sido gerado, minha pressão alta teria subido e eu teria convulsionado. No final, eles me deixariam esperar até o último minuto para forçar um parto normal.Eles arriscaram a minha vida, a do meu filho, para tentar me persuadir psicologicamente a aceitar a indução”, concluiu.
Sobre o caso de Carla, a secretária mencionou que “a unidade de saúde ressalta que ela deu entrada no sistema no dia 4 de abril, com 32 semanas de gestação e sem ter realizado os exames pré-natais e os exames recomendados pelo médico”.
1 de 1 Mamãe registra cenário caótico no Hospital Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
Mãe relata situação desordenada no Posto de Saúde Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
Três dias de indução do parto natural
Simone Neves da Silva, de 32 anos, deu entrada no hospital no dia 21 de abril devido a complicações desencadeadas por diabetes gestacional e hipertensão. Embora não tivesse planejado a indução, ela passou por três dias de tentativas de parto natural contra sua vontade. vontade. A equipe clínica insistiu que ela aprovasse, mesmo depois que a paciente compartilhou que preferia uma cesárea. “Fiquei em processo de indução por três dias e não aguentava mais, estava cansada. Quando fui falar com os médicos e pedi uma cesárea, eles quiseram me colocar em soro. Recusei, e um médico, que era o chefe da equipe, disse que, como eu já havia feito vários outros partos naturais, não havia chance de uma cesárea desta vez”, afirmou ela. Ela continuou o processo de indução e teve um parto normal no quarto dia, em 24 de abril. Seu bebê nasceu com uma clavícula quebrada que, segundo ela, foi causada pela forma como foi removida durante o parto.Segundo a mãe, a equipe médica não percebeu o problema até que Simone notou os problemas respiratórios da criança.
Condenando a mãe
Nicole Santos, 25, teve seu filho em janeiro deste ano. Ela chegou ao posto de saúde na noite do dia 25, e o parto aconteceu na madrugada do dia 26. Nicole relatou que, ao dar entrada na unidade, passou por exames rápidos para HIV, sífilis e doença hepática tipo C, que deram positivo — sem comprovação laboratorial.
Como resultado disso, ela foi medicada e teve que esperar horas até o parto acontecer.
“Enquanto esperava, uma enfermeira me disse que eu estava passando por isso apenas por causa do teste positivo. Isso ficou na minha cabeça. Eu me senti culpada por passar por aquela situação e por submeter meu filho àquilo”, disse ela.
Três dias depois, os resultados do laboratório confirmaram que Nicole não tinha nenhuma das doenças inicialmente apresentadas.
“Eu realmente me senti ignorada pelas enfermeiras, tratada com escárnio.”
Autonomia médica x liberdade individual
Segundo Juliana Hasse, chefe do Departamento de Regulação Médica e de Saúde da OAB-SP, a violência obstétrica é definida por hábitos — ações ou omissões — que causam sofrimento físico, emocional ou moral à gestante durante o pré-natal, parto ou pós-parto.
O estado de São Paulo tipifica formalmente o método, definindo-o como atos que atentem contra os direitos humanos, a autonomia e a privacidade da mulher, desrespeitem-na ou a incomodem física, verbal, moral ou emocionalmente.
“Entre os exemplos mais típicos estão a recusa em prestar atendimento, a imposição de tratamentos sem aprovação, a crítica à cliente,Isolamento sem um companheiro, abuso verbal e não inclusão de informações. A liberdade de expressão é essencial, mas encontra limitações na liberdade do indivíduo, no dever de fornecer informações e no respeito à integridade física e emocional da mulher. Quando o cuidado perde a capacidade de escuta e o indivíduo se torna invisível, a conduta deixa de ser técnica e passa a ser violenta”, menciona.
Hasse ressalta que procedimentos desnecessários ou não autorizados pela gestante também se enquadram no escopo da violência física obstétrica. A pessoa não pode ser desrespeitada ou desinformada sobre qualquer tipo de tratamento.
O que é violência física obstétrica?
Profissão Press Reporter– Violência Obstétrica– 12/12/2018
Violência física obstétrica é o termo usado para identificar maus-tratos sofridos por mulheres ao procurarem serviços de saúde durante a gravidez, no momento do trabalho de parto, parto ou pós-parto. Maus-tratos podem incluir violência física ou emocional e podem tornar a experiência do parto um momento traumático para a mulher ou para o bebê.
A violência obstétrica não pertence apenas ao trabalho dos profissionais de saúde, mas também às falhas arquitetônicas em instalações, hospitais e no sistema de saúde, tudo ao mesmo tempo.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) manifestou-se em 2019 ao lançar uma norma oficial para coibir a violência contra gestantes. As diretrizes, segundo a organização, servem para certificar a assistência ao parto e garantir o respeito à autonomia da gestante. Entre as diretrizes estão:
Originalidade: é considerada uma boa prática chamar a pessoa pelo nome, sem o uso de rótulos.Internação hospitalar: a empresa recomenda a hospitalização da gestante para tratamento enquanto ela ainda estiver em trabalho de parto. Amigos: sugere-se incentivar e facilitar a presença de amigos durante o trabalho de parto, de acordo com a escolha da gestante.