A empresa solicitou autorização para uma obra temporária, sem a exigência de construção, no antigo estábulo da PM, e a fiscalização da comunidade negou a autorização. Apesar disso, a assembleia da obra não foi suspensa e há registro de obras de restauração. A empresa e a concessionária negam irregularidades.

Vereador relata proibição de construção de churrascaria dentro do Parque da Água Branca

Obra para instalação de churrascaria dentro do Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, está sendo executada sem autorização das empresas responsáveis ​​pela preservação do patrimônio histórico. O parque é tombado pelo Conpresp (Metropolitano) e pelo Condephaat (Estadual), e qualquer tipo de intervenção depende de autorização prévia.

A reforma, realizada nas antigas cocheiras da Polícia Militar, foi iniciada pela empresa Fazenda Churrascada, com autorização da concessionária Reserva Parques, que administra o local desde 2022. O g1 esteve no local no último sábado (26), e funcionários do futuro restaurante informaram que o sistema precisa funcionar por seis meses, temporariamente.

O interior do prédio está passando por reformas, e o acesso ao local pelo g1 foi bloqueado. No entanto, foi possível constatar a presença de britadeiras, tijolos e cimento, além da instalação de uma churrasqueira, mesas e uma cervejaria. Um monitor do parque se dispôs a ir até o local e notou diversas mudanças (veja o vídeo ao lado).

1 de 10 Obras realizadas na área das antigas cocheiras do Parque da Água Branca, na Zona Oeste, sem autorização do Conpresp.– Foto: Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues

Funções realizadas na área das antigas cocheiras do Parque da Água Branca, na Zona Oeste, sem autorização do Conpresp.– Foto: Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues

Funções realizadas na área das antigas cocheiras do Parque da Água Branca,na Zona Oeste, sem autorização do Conpresp. — Imagem: Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues

O depósito ao lado, onde antes ficava o mercado de frutas e verduras, foi fechado para dar lugar a um playground que, segundo funcionários, será utilizado pelos clientes da churrascaria. Os funcionários não souberam informar se outros frequentadores do parque poderão utilizar o playground.

A anormalidade foi relatada na 820ª Audiência Ordinária do Conpresp, realizada na segunda-feira (28) pela deputada Danielle Dias. Ela solicitou à Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico (DPH) a paralisação da construção e instalação do evento até que os documentos necessários para as intervenções estejam disponíveis (saiba mais abaixo).

2 de 10 Chegada de um associado a uma churrasqueira a gás para o restaurante que ficará dentro do prédio do Parque da Água Branca, que está em obras na parte externa das antigas cocheiras.– Foto: Reprodução

Chegada de um caminhão com uma churrasqueira a gás para o restaurante que ficará dentro do prédio do Parque da Água Branca, que está em obras na parte externa das antigas cocheiras.– Foto: Reprodução

“Há uma ilegalidade. O processo foi encaminhado ao DPH, que emitiu um edital para complementar o produto. No entanto, até o momento, isso não foi cumprido”, disse o vereador na coletiva.

A concessionária Reserva Parques e a churrascaria Fazenda Churrascada rejeitam qualquer anormalidade e afirmam estar seguindo os procedimentos das empresas de conservação (veja mais abaixo).

Impacto na vizinhança

A Associação de Moradores e Amigos de Perdizes (Amora Perdizes), onde o parque está situado,A entidade afirma que tanto os vizinhos vizinhos quanto os moradores da comunidade ficaram chocados com a construção.

“Os vizinhos do prédio começaram a ver veículos circulando com frequência. Como o parque não tem placa, empresas de materiais de construção vinham até lá para fornecer materiais de construção, e o zelador começou a estranhar. Eles também verificaram e perceberam que tanto a área externa quanto a interna do estábulo estavam passando por obras sem autorização dos órgãos de defesa. Isso é absolutamente ilegal”, comentou a entidade.

“Essa é uma intervenção que está sendo executada sem consulta ao conselho de monitoramento e sem nenhuma explicação adicional à comunidade”, acrescentou.

3 de 10 Problema da Vigilância Sanitária de Perdizes sobre as intervenções no Parque da Água Branca.– Foto: Reprodução/Instagram

Reclamação da Vigilância Sanitária de Perdizes sobre as intervenções no Parque da Água Branca.– Foto: Reprodução/Instagram

O advogado Pedro Grzywacz Neto é vizinho do parque e representa os moradores do Edifício Ana Pimentel, que fica bem ao lado da entrada onde está sendo construída a churrascaria. Eles reclamam do barulho de carros pesados ​​entrando e saindo, que dura até altas horas da noite.

“São sempre 23h, 23h30 e ainda há destruição e veículos se repetindo, embalando e despejando coisas. Achamos estranho que a obra estivesse sendo feita tão rapidamente e fomos verificar. Descobrimos que era completamente irregular. A empresa proprietária da churrascaria entrou com um pedido de medida provisória, quando na verdade era uma reforma arquitetônica para adaptar a estrutura de um estábulo para cavalos a um restaurante,” alegou Pedro Grzywacz.

Arquivo aponta evento de curta duração

De acordo com os autos do caso, em janeiro, a Fazenda Churrascada protocolou um requerimento ao Conpresp para solicitar autorização para participar de um evento de curta duração para 426 pessoas, onde mesas, cadeiras e algumas barracas de camping seriam instaladas para a realização do evento “Hípica Churrascada”.

O memorial detalhado da demanda não menciona nenhuma intervenção dentro ou fora do estábulo, apenas a montagem e desmontagem de equipamentos e mobiliário do restaurante, incluindo uma barraca externa.

No entanto, uma avaliação do DPH realizada em fevereiro identificou o uso de materiais comuns em obras estruturais, como concreto, blocos e britadeiras. O auto concluiu que o local não era apenas uma reunião de curta duração, mas sim uma restauração irregular. E recomendou que o Conpresp não concedesse autorização para o evento.

A restauração, no entanto, prosseguiu. A direção do DPH mencionou ser “praticamente impossível” montar uma churrascaria no local sem obras de restauração.

“Constatou-se, por meio de vistoria realizada em 24 de fevereiro de 2025, que o objeto do procedimento em questão não se configura apenas como a montagem e desmontagem de estruturas para instalações temporárias e mobiliário, conforme previsto na referida obra; mas sim como uma obra de construção civil, como se pode constatar nas imagens do que foi encontrado ‘parado’. Consequentemente, do ponto de vista deste DPH/CONPRESP, a situação é irregular”, afirmou o órgão. 4 dos 10 autos de vistoria do DHP apontam obras fora do escopo da demanda da churrascaria que ocupará o Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo.– Imagem: Recreação

Laudo de avaliação do DHP indica obras fora do escopo da solicitação feita pela churrascaria que ocupará o Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo.– Foto: Recreação

Em reunião do Conpresp no dia 24 de março, os representantes contestaram a autorização para a realização do evento. Um representante da churrascaria e um representante da empresa Reserva Parques, que estavam presentes na reunião, mencionaram que foi um erro do examinador afirmar que o material de construção que estava dentro do estábulo era para reforma do local.

Segundo eles, o espaço onde a churrascaria está sendo instalada era utilizado apenas como depósito de materiais de construção para a restauração de diversas outras estruturas do parque que apresentaram problemas devido às chuvas de janeiro deste ano (veja o vídeo abaixo).

Conpresp contesta autorização para instalação de churrascaria dentro do Parque da Água Branca

A vereadora Regina Lima, do conselho consultivo do parque, afirmou, no entanto, que a empresa admitiu em reunião a intenção de manter o estabelecimento com eventos temporários sucessivos até que a obra seja definitivamente regularizada.

Além disso, em 9 de abril, Lima afirmou que a Reserva Parques informou aos quatro conselheiros de cultura civil que compõem o conselho que a churrascaria seria instalada, porém sem apresentar quaisquer autorizações ou estudos ambientais.

“Eles alegaram na reunião que haveria um restaurante permanente, que seria instalado com um evento temporário. Que todas as licenças das empresas competentes já estavam em vigor.O objetivo deles era manter a renovação desses eventos de curta duração até que pudessem regularizar o estabelecimento gastronômico”, afirmou. “Eu questionei por que não houve uma pesquisa de impacto ambiental ou um relatório sobre a descaracterização da propriedade detalhada, e eles mencionaram na conferência que não havia necessidade desses estudos para eventos de curta duração”, enfatizou. E ele acrescenta: “Estamos muito preocupados com essas ‘armadilhas’ ilegais que eles vêm encontrando o tempo todo para prejudicar o parque, que também é um patrimônio social. Estamos ainda mais preocupados com a instalação de um estabelecimento de churrasco emitindo fumaça dentro de um parque que possui diversas espécies de pássaros, 4 famílias diferentes de macacos e uma área de preservação ambiental, sem nenhum tipo de avaliação tecnológica.”

5 de 10 Voto do Conpresp decidiu no final de março não autorizar a realização do churrasco no Parque da Água Branca até que haja nova documentação.– Foto: Reprodução

Voto do Conpresp decidiu no final de março não autorizar a realização do churrasco no Parque da Água Branca até que haja nova documentação.– Foto: Recreação

Projeto revela procedimentos

A Fazenda Churrascada chegou a divulgar parte do projeto para a imprensa, que estava prevista para inaugurar em março, o que não ocorreu.

Revela que há intervenções na área, como a troca do piso externo original e a construção de balcões que originalmente não existiam naquela parte do Parque da Água Branca (veja imagem abaixo).

6 de 10 Tarefa de churrascaria dentro do Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo.– Foto: Reprodução/Veja São Paulo

Obra de churrascaria dentro do Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Reprodução/Veja São Paulo

O que a concessionária e a empresa afirmam

A Reserva Parques nega anormalidades e afirma, em nota, que os reparos no antigo estábulo fazem parte do plano de manutenção autorizado pelo Conpresp. A empresa alegou que a churrascaria é uma instalação de curta duração, com previsão de duração de 6 meses, e relativamente fácil de consertar, sem obras de longo prazo.

“Desde a aprovação do Plano Geral de Manutenção e Preservação do Parque da Água Branca, no primeiro semestre de 2024, a concessionária vem realizando trabalhos de manutenção substanciais em estruturas históricas, incluindo coberturas, drenagem, redes de água, ruas internas e prédios”, afirmou a empresa.

“Após o tornado de janeiro de 2025, foram identificadas patologias intensificadas no sistema de drenagem e na estrutura das edificações, o que exigiu tratamentos emergenciais para garantir a segurança e a preservação do patrimônio, sempre prezando pelos padrões de conservação”, acrescentou.

“É muito importante ressaltar que os tratamentos de manutenção e preservação realizados em diversos pontos do parque não se confundem com a solicitação constante do processo nº 6025.2025/0001093-7, que trata especificamente da solicitação de realização de evento, sem relação direta com as funções de manutenção realizadas pela Concessionária. Conforme já esclarecido, a Churrascada, representada pela FC COMÉRCIO DE ALIMENTOS E BEBIDAS S/A, bem como diversos outros eventos de curta duração realizados no Parque da Água Branca,precisam submeter suas demandas de consentimento aos órgãos experientes. É fundamental destacar que a solicitação de evento de curta duração refere-se apenas à realização de obras no local, sem alterações arquitetônicas na estrutura”, afirmou a concessionária. A Fazenda Churrascada, por sua vez, apenas informou que está alinhada com a administração do parque e não se pronunciou sobre a continuidade da obra mesmo após a negativa do Conpresp. O que as concessionárias estão reivindicando O G1 entrou em contato com a Empresa Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), empresa que fiscaliza os contratos de concessão dos parques. Segundo a empresa, houve manifestação da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Logística (Semil) sobre “obras pleiteadas sendo executadas no parque sem a autorização das empresas de conservação e foram solicitadas explicações à Reserva Parques”. “A Agência já oficializou a concessionária responsável, solicitando esclarecimentos imediatos sobre a situação”, especificou a Arsesp. A Semil especificou que, conforme previsto no contrato de concessão, “a concessionária tem a liberdade de utilizar o “[…] salas e centros do parque para criar tarefas relacionadas à gestão e exploração de negócios, desde que respeitadas todas as legislações vigentes, incluindo leis específicas para imóveis residenciais tombados”.

“Isso inclui a necessidade de obter as aprovações das empresas competentes. A Secretaria e a Arsesp, como entidades responsáveis ​​pela fiscalização dos contratos de concessão, apurarão as informações relatadas quanto a possíveis irregularidades. Caso seja constatado descumprimento das autorizações ou do contrato de concessão, serão tomadas as medidas cabíveis”, afirmou a divisão.

O g1 também entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo e a administração Ricardo Nunes (MDB) reafirmou que “o Parque da Água Branca é um imóvel residencial tombado pelo CONPRESP e qualquer intervenção em seu interior depende de prévia anuência da diretoria”.

“No caso do processo que trata do evento chamado “Hípica Churrascada”, foram solicitadas explicações”, disse.

Críticas à nova gestão

A Organização dos Cidadãos de Perdizes também criticou a perda de caráter do parque após a demissão. Segundo a entidade, espaços públicos tradicionais foram fechados, enquanto projetos industriais, como a churrascaria e eventos como a Casa Cor, estão em andamento.

“Como a empresa exclusiva assumiu o controle, o parque, na verdade, perdeu seu caráter público para dar lugar a eventos e áreas exclusivas. A maioria dos bens públicos, como o Aquário, o Museu Geológico, os cursos de costura e corte e costura para idosos e aposentados, não existe mais. Tudo está fechado. Mas eventos como a Casa Cor e a churrascaria, por exemplo, continuam a todo vapor. Nada disso está sendo revertido para melhorar e atrair visitantes ao parque. Alguns banheiros continuam em estado deplorável”, afirmou a administração da entidade.

7 de 10 Estruturas sem manutenção no Parque da Água Branca e isoladas com fita adesiva e cones, quase três após a concessão à iniciativa privada. — Imagem: Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues

Prédios sem manutenção no Parque da Água Branca e isolados com fita adesiva e cones, quase três anos após a concessão à iniciativa privada.– Imagem: Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues

“A Feira Orgânica, que existia há anos, foi fechada sem maiores explicações. O motivo é que o estoque precisava de reforma. Após a reforma, decidiram não devolver os produtores para lá e agora o cederam para a churrascaria”, observa a representante Regina Lima.

“Os animais que viviam soltos, como pavões e patos, eram todos enjaulados em viveiros coletivos, sem separação de espécies, com a justificativa da gripe aviária. O risco de gripe aviária passou e eles continuam enjaulados. Era a peça de resistência do parque para as crianças. Resumindo, há uma descaracterização cultural da alma do parque que vem afastando os visitantes”, acrescenta.

Em março de 2014, o g1 revelou que o Parque da Água Branca praticamente não recebeu melhorias da Reserva Parques um ano e meio após a doação.

Na época, havia brinquedos danificados, janelas quebradas, banheiros em condições precárias e prédios históricos em ruínas.

Um ano depois, os brinquedos das crianças foram reformados, a entrada do parque foi repintada e consertada, e o parque está mais limpo.

No entanto, a situação dos banheiros principais piorou e muitos prédios dentro do parque continuam fechados e com fita isolante ao redor deles, devido ao risco às pessoas, já que não foram recuperados ou reformados.

8 de 10 Situação dos banheiros principais do Parque da Água Branca, em registro feito em 26 de abril de 2025.– Foto: Rodrigo Rodrigues/g1

Situação dos banheiros principais do Parque da Água Branca, em foto tirada em 26 de abril de 2025.– Imagem: Rodrigo Rodrigues/g1

Dois desses prédios estão sendo restaurados pela Casa Cor, que utilizará o espaço entre 27 de maio e 3 de agosto.

Segundo a Reserva Parques, os investimentos no parque estão seguindo a rotina prevista no Plano de Intervenção e têm prazo até 2028 para serem totalmente restaurados.

“Os referidos sanitários estão contemplados no Plano de Tratamento da Concessionária, com prazo contratual para melhorias até setembro de 2028, conforme previsto no contrato de concessão firmado com o Poder Concedente. No entanto, dado o atual estado de conservação, a Concessionária já iniciou o planejamento para a continuidade dessas obras, além de já ter realizado a revitalização de outros sanitários no Parque”, afirmou.

“Nosso compromisso é promover reformas contínuas na infraestrutura, priorizando o conforto e a segurança dos visitantes”, afirmou a empresa.

A Secretaria de Meio Ambiente, Instalações e Logística confirmou que a empresa está dentro do prazo para concluir as melhorias.

Sobre a antiga feira de produtos naturais que funcionava dentro do parque desde 1991 e foi transferida do armazém para dar lugar ao playground da churrascaria, a Reserva Parques informou que ela será transferida para mais uma área do parque que ainda está sendo construída.

9 de 10 Feira de produtos orgânicos que funcionava desde 1991 dentro do Parque da Água Branca foi transferida para dar lugar a um playground. — Imagem: Montagem/g1/Reprodução/ Televisão Globo/Rodrigo Rodrigues

Feira de produtos orgânicos que funcionava desde 1991 dentro do Parque da Água Branca foi forçada a sair para dar lugar a um playground.– Foto: Montagem/g1/Reprodução/ TV Globo/Rodrigo Rodrigues

10 de 10 Parque infantil instalado dentro do Parque da Água Branca pela Reserva Parques, no local onde funcionava a feira de produtos orgânicos que funcionava desde 1991.– Foto: Rodrigo Rodrigues/g1

Parque infantil instalado dentro do Parque da Água Branca pela Reserva Parques, no local onde funcionava a feira de produtos orgânicos que funcionava desde 1991.– Foto: Rodrigo Rodrigues/g1

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