
Inúmeros festivais de heavy rock têm um toque clássico. É um gênero repleto de bandas consagradas, em alguns casos com quase 6 anos de estrada. Reunindo cerca de 50 bandas em três dias de programação, o sensacional Bangers Open Air, evento que até o ano passado se chamava Summertime Wind, misturou grupos profissionais e jovens. Mostrou ao público presente no Memorial da América Latina, em São Paulo, um momento evidente de mudança na galeria de grandes nomes do heavy metal. Na sexta-feira (2), logo no primeiro dia, foram apenas seis apresentações, numa espécie de “treino”, com três nomes com muita bagagem. Duas delas, com artistas sexagenários no palco, foram os americanos Armored Saint e a vocalista alemã Doro Pesch, que começou sua carreira como diva do Warlock na virada dos anos 1980. Eles foram acompanhados pelo lendário britânico Glenn Hughes, cantor e baixista de 73 anos que já tocou com Trapeze, Deep Purple, Black Sabbath e algumas outras bandas. A programação funcionou bem. No sábado, com mais de 20 bandas na programação, a mistura equilibrada de faixas etárias no Bangers começou. Antes dos quatro palcos do evento, memórias afetivas atuais e mais antigas passaram pela mente do público, o que também refletiu essa diversidade etária. Até os pequenos headbangers apareceram com seus pais, e quando as crianças precisavam de uma pausa de toda a agitação, eles podiam levá-las a um espaço “infantil”, que era popular e se provou um dos sucessos do festival. Foi no sábado que o público assistiu a um momento que exemplifica claramente esse tipo de troca de bastão no rock pesado. Os palcos maiores, chamados Hot e Ice, foram construídos lado a lado, e os pesos pesados do evento se posicionaram neles.Quando o programa de uma fase terminou, em poucos minutos, mais uma banda pôde começar a se apresentar na porta seguinte. O público-alvo não precisou viajar pelos países, que são criticados em muitos eventos musicais. No início da noite, nesses palcos, havia um excelente lineup: os membros da banda britânica Saxon e da banda alemã Powerwolf, que lançou seu primeiro CD em 2005, mas só recentemente conseguiu garantir seu lugar entre as bandas mais proeminentes. O Saxon começou sua carreira na década de 1970 e fez um show desastroso. É difícil dizer o que foi ainda mais impressionante: ver os rostos franzidos do cantor setentão Bill Byford e seus companheiros de banda nos cinemas, ou ouvir a fúria da banda. O Saxon acelerou logo nos acordes iniciais de “Hell, Fire and Damnation”, faixa-título do CD de 2014, e freou na última batida de “Princess of the Night”, o hit de 1981 que encerrou o show. Tanta energia impulsionou o trabalho do Powerwolf, e o grupo alemão não se conteve. O som é um rock pesado com inserções de corais de igreja, batidas marciais de tambores e melodias (ou quase) inspiradas na mitologia alemã, celta e romena. Essa mistura cria um fundo vibrante para versos que misturam contos de monstros com passagens da Bíblia Sagrada e falso satanismo. E, por incrível que pareça, essa confusão conquistou totalmente o público. Os principais responsáveis por essa forte conexão são o vocalista Attila Dorn, um homem roliço com uma roupa que lembra uma batina, e o esguio tecladista Falk Maria Schlegel, que saltita pelo palco. Os dois provaram ser uma espécie de “O Gordo e o Magro” do rock pesado. Eles brincaram com o público o tempo todo,e Dorn insistentemente instruiu o público-alvo sobre qual refrão permaneceria na próxima faixa, e o envolvimento foi completo. Musicalmente, um pastiche, mas certamente o show que prendeu intensamente o público durante os 3 dias. Esses dois shows consecutivos representam essa dualidade da cena steel. Bandas como Powerwolf e Kamelot, para citar apenas alguns grupos que estiveram no Bangers, não se intimidam em misturar elementos de vários outros estilos e atrair um público jovem, de gerações muito mais fluidas em suas escolhas musicais. Por outro lado, a “ala conservadora”, onde se encontra o Saxon, continua a ser respeitada, mas está perdendo espaço. Mesmo assim, a noite de domingo terminou com bandas já experientes. Kerry King, guitarrista do Killer, um monólito do whip americano desde os anos 1980, trouxe sua caixa de ferramentas de riffs com a banda que leva seu nome. Ele foi venerado pelo público, em um show impecável. Então veio o W.A.S.P., um circo de terror que não era mais levado a sério quando começou, há 40 anos. Mas a banda liderada pelo insano Blackie Lawless sabe fazer rock pesado, praticamente clássico, e o público-alvo aderiu. E o baterista da banda, o brasileiro Aquiles Priester, fez uma declaração emocionada ao público sobre entender sua paixão pelo metal. No encerramento, o festival apostou em uma salvaguarda: o Avantasia, um projeto renomado do alemão Tobias Sammet, vocalista do grupo de power steel Edguy. Se há um ramo do steel
que nunca sai de moda, é o steel dinâmico, e o Avantasia foi desenvolvido para tocar óperas realmente pesadas. Apoiado por vários cantores convidados, fez mais do que o suficiente para que todos saíssem do Memorial realmente felizes. Foi notável que, tanto no sábado quanto no domingo,O público-alvo chegou bem cedo e praticamente atingiu a capacidade máxima de 15 mil pessoas por dia. Alguns brasileiros que já viajaram o mundo e têm muitos seguidores foram bastante prejudicados pela programação, como o Viper e o Matanza Routine, que aconteceram sob forte sol, enquanto muita gente passeava pelas lojinhas do local ou comia. Havia muitos bares e barracas de comida, praticamente sem formar longas filas. Quem entrou em 2025 certamente vai querer voltar para a edição de 2026, confirmada para os dias 25 e 26 de abril.