Após Nunes bloquear Uber e 99 em SP, mototáxi clandestino continua e também tem cartão fidelidade
Apesar de proibidos, mototáxis circulam na periferia de SP
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Prefeitura diz que realiza vistorias diárias e já apreendeu 407 caminhões no primeiro trimestre do ano
Mesmo após a ofensiva da Prefeitura contra a Uber e a 99 para proibir o transporte de bicicletas por aplicativo, serviços privados continuam operando na periferia de São Paulo — alguns deles, que existem na região há muitos anos, oferecem até “cartões de fidelidade”. O governo Ricardo Nunes (MDB) afirma realizar avaliações diárias, com 407 veículos apreendidos no primeiro trimestre. Movimentação de mototaxistas nas saídas do terminal ferroviário de Perus, zona oeste da cidade. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Foto: Ricardo Nunes … Um deles, que traz uma prancheta para organizar as separações, apresenta sua solução gritando “bicicleta-táxi, bicicleta-táxi”.
Publicidade e marketing
Poucos deles usam coletes refletivos de segurança, uma exigência da lei que regulamenta o setor no país. São discretos, mas não se escondem.Incomodados com a presença do Estadão, evitam divulgar suas funções e preferem nomes fictícios devido à informalidade. Outros se camuflam e afirmam que colaboram apenas com serviços de entrega. Uma hora lá, no entanto, foi suficiente para pegar dezenas de caronas, alternativas a vans, ônibus e veículos de aplicativo. Os passageiros contam com facilidade e rapidez. A designer gráfica Maria Neude Ramos, 47, conta que o trajeto até sua casa, na Vila Recanto dos Humildes, leva cinco minutos de moto. Se fosse de ônibus, certamente levaria quatro vezes mais tempo. Além disso, as bicicletas estão lá, na saída do trem, enquanto o ponto de ônibus fica a 12 minutos de distância. Na saída da estação de trem de Perus, na zona oeste da cidade, taxistas aguardam os clientes. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Na região, o preço do mototáxi, fixado em R$ 6 para qualquer bairro de Perus, é menor que o dos carros de aplicativo (R$ 12 a R$ 15, dependendo da localização), mas maior que o dos ônibus (R$ 5). Os capacetes de segurança esterilizados que cada viajante recebe são as únicas ferramentas de segurança — não há seguro de saúde para as viagens. A Secretaria Municipal de Transportes Urbanos afirma que “os grupos funcionam em horários diferenciados para procurar carros não autorizados que transportem viajantes, garantindo o cumprimento das normas vigentes”. A Associação Brasileira de Flexibilidade e Tecnologia (Amobitec) faz uma distinção entre mototáxi (transporte que depende da Prefeitura para funcionar) e motoapp (transporte privado, sem exigência de licenças). “A solução de motoapp é uma atividade pessoal, lícita, regulamentada pela Política Nacional de Flexibilidade Urbana e amparada pela regulamentação governamental 13,640 (de 2018).
Essa mesma regulamentação estabelece que o serviço de transporte de passageiros agenciado por aplicativos não se enquadra no grupo de transporte público individual, como os mototáxis”, argumenta a associação. O serviço conta com publicidade e marketing e um programa de fidelidade no Grajaú. No Grajaú, na zona sul, as motos são divididas em 3 terminais (Varginha, Estação Grajaú e Estação Mendes Vila Natal).
Na Rua Giovanni Bononcini, há uma placa “Aqui temos mototáxis” logo na saída da estação. As motos também ficam estacionadas em linha reta, como em pontos de táxi, aguardando os clientes. Na prática, elas ficam estacionadas apenas por um curto período, já que a demanda é alta nos horários de pico.
Publicidade: Edgar Souza, 45 anos, oito deles como mototaxista, faz entre seis e oito viagens por dia. Além das próprias viagens, ele atua como uma espécie de coordenador, distribuindo as viagens enquanto de
maior demanda. Nessa região, a correria também ajuda a empurrar os viajantes para a garupa. O tempo aproximado do terminal do Grajaú até o Parque Residencial Cocaia é de 20 minutos; de ônibus, levaria nada menos que 1h30. A tabela, baseada na distância até o destino
, deixa espaço para pechinchas e lamentações. Uma viagem de cinco quilômetros custa, em média, R$ 20. Mototaxistas cobram R$ 6 por viagens na região de Perus, zona oeste de São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão. A procura por mototáxis é tão regular, segundo mototaxistas, que também inspirou a produção de um programa de fidelidade. Ele acompanha a versão de outros trechos. Edgar afirma que, após 5 corridas, a sexta é cortesia para os clientes (até o limite de 5 quilômetros).
“Tenho uma lista de clientes que atualmente conta com mais de dois mil nomes”, diz ele. Tanto em Perus quanto no Grajaú, mototaxistas protestam contra o acesso às plataformas. “Nosso faturamento certamente cairá significativamente porque teremos que dividi-lo com os aplicativos”, afirma Evandro, mototaxista do Grajaú que prefere ser identificado apenas pelo primeiro nome. Publicidade O mês de janeiro, quando havia concorrência com Uber e 99 antes da restrição judicial em São Paulo, é lembrado como um mês difícil pelos mototaxistas. As plataformas passaram a oferecer serviços fora do centro ampliado, local de maior demanda, com preços competitivos. No Grajaú, uma corrida de R$ 20 era oferecida nos aplicativos pela metade do preço, o que agradou os consumidores. Além disso, a empresa destinava grande parte do valor de cada viagem aos próprios motociclistas, o que animava os profissionais. Cartão fidelidade para serviço de mototáxi no Grajaú, zona sul de São Paulo. Imagem: Vademototáxi. Cobrar preços abaixo da média esfriou a relação entre mototaxistas e clientes, após a Justiça proibir os aplicativos. “O número de pessoas caiu consideravelmente. As pessoas começaram a achar que estamos abusando dos preços. Mas esse sistema, de baixar os preços, não pode durar. É um preço inviável, só para atrair clientes”, diz Edgard. Gilberto Almeida dos Santos, conhecido como Gil, presidente do Sindimoto SP, entidade que representa mototaxistas, motoristas de entrega, motoboys e mototaxistas, afirma que o transporte de passageiros por bicicleta tem abrangência local, atendendo a áreas específicas. No entanto, precisa de regulamentação do setor.Publicidade Defendemos a política de mototáxis com sistema de proteção ao motociclista e ao cliente, não da forma como está sendo proposta, sem critérios e políticas Gilberto Almeida dos Santos, chefe do Sindimoto O sindicalista cita a portaria federal 12.009/2009 que regulamenta o trabalho e exige, entre os requisitos mínimos de segurança, autorização em curso especializado, colete de segurança e certificado de antecedentes criminais. Serviço continua proibido em São Paulo A cidade teve em 2024 o maior índice de violência no trânsito da última década. Foram 1.031 mortes em acidentes de janeiro a
dezembro de 2024, segundo o Infosiga, sistema de monitoramento de letalidade do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Motociclistas são os que mais morrem em acidentes: 483, representando 37% do total de mortes. As empresas 99 e Uber, por sua vez, afirmam possuir sistemas de segurança para evitar colisões e atropelamentos. Além disso, argumentam que a medida é amparada por lei federal, na qual os municípios teriam apenas o poder de fiscalizar o serviço, mas não o de proibi-lo. A Prefeitura diverge dessa interpretação. No Grajaú, zona sul de São Paulo, motociclistas usam coletes refletivos, conforme exigido por lei, para transportar passageiros. Foto: Alex Silva/Estadão. “Os aplicativos estão legalmente autorizados a circular em todo o território nacional, entendimento amparado por diversas decisões judiciais no país. Isso traz vantagens para inúmeros brasileiros que utilizam essa técnica, que proporciona custos acessíveis e viagens rápidas, com tecnologia e níveis de proteção que nenhuma outra modalidade de motocicleta possui”, afirma André Porto, diretor executivo da Amobitec. Publicidade No início deste ano,A Uber e a 99 tentaram novamente colocar o serviço nas ruas, apesar da proibição local, prevista em decreto de 2023. Na ação, a Prefeitura tentou bloquear o serviço e organizou blitzes para apreender motocicletas e multar motoristas que exerciam a atividade. Em 27 de janeiro, a Justiça obteve a suspensão das operações, em uma decisão inicial (temporária). A empresa acatou a decisão, suspendeu o serviço, mas decidiu recorrer. O tema deve voltar a ser discutido na Câmara Municipal, onde foram protocolados pedidos para viabilizar o transporte de passageiros por motociclistas. Em mais uma etapa da disputa judicial, a Associação Brasileira de Motoboys ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Tribunal de Justiça de São Paulo para legalizar o serviço de mototáxi no financiamento. O TJ-SP negou a ação em 9 de abril e manteve a proibição. Ônibus vs. moto? Especialista vê ‘escolha de Sofia’. Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), menciona que o viajante se depara com uma ‘escolha de Sofia’, expressão para situações em que duas escolhas apresentam desvantagens. “O meio de transporte mais prejudicial (moto) ou aquele que é menos confortável e ocupa menos tempo (ônibus)?”. Publicidade: “O ônibus pode ter sete passageiros por metro quadrado. Demora muito, atrasa e você pode até ser assaltado no ponto de ônibus”, menciona. “Há situações em que leva 2,5 horas para chegar do trabalho. De moto, pode levar menos de uma hora. Os próprios usuários reconhecem os riscos da atividade ilegal. Meus amigos do trabalho dizem que adoro andar de bicicleta, mas não estou preocupada”, afirma Maria Neude. Analistas reconhecem a necessidade desse tipo de solução.Principalmente nas fronteiras, onde há reclamações sobre a cobertura do seguro
das linhas de ônibus — a Prefeitura afirma que oferece cobertura para todas as regiões. Em Paraisópolis, bairro da Zona Sul, moradores afirmam que os veículos de transporte por aplicativo não atendem alguns endereços devido a problemas de proteção ou dificuldade de acesso, como poeira ou ruas muito estreitas. “Os táxis de bicicleta funcionam bem, como em muitas favelas no Brasil. É uma alternativa onde o transporte oficial não chega”, afirma Gilson Rodrigues, líder do bairro
em Paraisópolis./ COM A COLABORAÇÃO DE CAIO POSSATI Advertising
