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O quadro de Álvares de Azevedo fixa o olhar em qualquer canto do espaço. Nesse clima, gerações de estudantes foram contempladas pela foto no porta-retratos zelado sobre a entrada do espaço de estudo da Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Com seu acervo físico de 500 mil itens, dos quais 6,5 mil incluem obras raras dos séculos XVI ao XIX, a instituição paulista completará 200 anos no próximo dia 24 de abril. Trata-se da primeira biblioteca municipal de São Paulo, que antecedeu em 2 anos a criação do primeiro programa legal de pesquisa científica do país, em 11 de agosto de 1827, no Largo São Francisco, ao qual passou a ser incorporada. O acervo físico da Faculdade de Direito da USP conta com cerca de 500 mil itens. Foto: Werther Santana/Estadão

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Só em 2024, a biblioteca atendeu 10.138 usuários, sendo 8.309 da USP e 1.829 usuários externos. Este ano, a escola prepara uma obra para a reforma das salas de estudo histórico e do acervo, no primeiro andar do prédio do Largo São Francisco, com a colaboração do programa Adote uma Sala, que conta com a colaboração voluntária de empresas e egressos da instituição, sem qualquer tipo de remuneração. As duas salas têm 219 m² de área, com pé-direito de 4,66 metros. Os nomes dos usuários da reforma serão inscritos em uma placa, como já ocorreu com outros 19 cômodos do prédio. E a responsabilidade de preservar as novas instalações pelos próximos cinco anos,

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O Acervo da Faculdade de Direito da USP, que completa 200 anos em abril,Abriga cerca de 500 mil itens em seu acervo. Imagem: Werther Santana/Estadão. Atualmente, a biblioteca está instalada em 7 salas diferentes, distribuídas pelo prédio histórico da praça e no chamado Anexo IV da faculdade, na Rua Senador Feijó. Um dos cinco maiores da USP, o acervo pertence ao Bairro Acadêmico Federado (Café), com acesso a períodos na área de Direito físico e digital. Para abrigar todas essas publicações — muitas das quais ainda estão encaixotadas —, a universidade se prepara para construir um novo prédio de dez andares com 8.000 m². Este é o Edifício Cláudio Lembo, na Rua Riachuelo, atrás do prédio histórico da universidade. Leia também Além da modernização do acervo, o projeto prevê a construção de espaços de estudo e novos ambientes para a preservação do acervo, além de um anfiteatro no primeiro andar com vista panorâmica para o centro histórico. Parte dos recursos para a obra — R$ 17 milhões — provém de um acordo de não persecução penal firmado entre o Ministério Público Estadual e a equipe da CCR. Outra parte dos recursos — R$ 16 milhões — provém de um convênio de doação firmado pela JBS com a universidade. Juntos, eles cobriram metade dos gastos — o custo total da obra é estimado em R$ 62 milhões. Publicidade e Marketing A biblioteca abriga obras inusitadas dos séculos XVI ao XIX; Atualmente, o acervo está dividido entre dois prédios da universidade. Foto: Werther Santana/Estadão”O ideal seria que tudo estivesse pronto até 2027, quando a faculdade completará seu bicentenário”, disse Celso Fernandes Campilongo, diretor da faculdade.Os novos núcleos e as áreas restauradas deverão contar com iluminação própria para a biblioteca, isolamento acústico, segurança contra raios UVA e UVB e ar-condicionado. No caso das instalações da antiga estrutura, o mobiliário e o revestimento do piso precisam passar por reformas, além das paredes de madeira e do teto, tudo com a anuência da empresa de preservação do patrimônio histórico. Atualmente, as salas de aula reformadas permitem que os professores ministrem aulas híbridas, tanto presenciais quanto em outro local. “A reforma é um retorno ao passado com uma estrutura voltada para o futuro”, afirmou o professor Maurício Zanoide de Moraes. As raridades e os reitores Enquanto a reforma estiver em andamento, Maria Lucia Beffa, chefe de tecnologia do acervo da faculdade, é responsável pela manutenção dos equipamentos e pelo atendimento ao público. É ela quem pode folhear a edição do século XVIII da Enciclopédia de Diderot, ou a versão da Comédia de Dante Alighieri, publicada na Itália no século XVI, e até mesmo a duplicata da Bíblia Poliglota, feita na Espanha no século XVI. Biblioteca da Faculdade de Direito da USP completa 200 anos 1:15 Sala tem obras raras e acervo físico de 500 mil objetos Maria Lúcia percorre os corredores do

andar do acervo onde se encontram mais de 6 mil obras jurídicas

publicadas no século XIX no Brasil, incluindo os Princípios do Direito Natural, de 1829, editados pelo primeiro professor designado para a instituição, José Maria de Avellar Brotero, além dos volumes com os manuscritos das provas dos alunos dos primeiros anos do curso de ciências jurídicas. Publicidade Esses manuscritos ocultam nomes populares da política e das artes do País.A verdade é que pelas bancadas da faculdade e de sua biblioteca, a chamada alma mater do Largo São Francisco, desde o início da República, passaram presidentes, como Prudente de Moraes e Campos Salles, passando por Washington Luís até chegar a Michel Temer. Dali também saíram futuros ministros da Justiça e cadeiras em tribunais superiores, como o pastor Alexandre de Moraes. E há também uma miríade de autores e poetas, de Álvares de Azevedo, Castro Alves, José de Alencar, Olavo Bilac, Monteiro Lobato a Oswald de Andrade, Haroldo de Campos e Lygia Fagundes Telles. Maria Lucia Beffa, chefe de tecnologia da biblioteca da Faculdade de Direito da USP: preservação de trabalhos inusitados Foto: Erther Santana/Estadão “Recebemos, principalmente nas férias, estagiários de outros estados, que vêm pesquisar com publicações que só temos aqui na faculdade, que eles não encontram em nenhum outro lugar”, disse Maria Lucia. “E também, como o acervo é aberto ao público, recebemos pessoas da cultura e também moradores de rua”, afirmou. Eles vão ao acervo principalmente para usar os computadores e acessar a internet. “Muitas vezes, eles vêm pesquisar, para pedir livros, para estudar, para ler enciclopédias, para usar o espaço de leitura”, afirmou. Ou como disse o supervisor da faculdade: “Nossa biblioteca está aberta a todos. Portanto, representantes legais, qualquer pessoa que queira estudar qualquer tipo de problema jurídico, o acervo está aberto a todos”, afirmou. Histórico do acervo: A história do acervo começou com Frei Manuel da Ressurreição, o terceiro bispo a habitar a então diocese de São Paulo (1774-1789).Frei Manuel planejou todo o seu acervo “para uso comum do clero e dos alunos”. E solicitou que fosse conservado no Convento de São Francisco, o que só foi possível com a autorização do Marquês de Pombal. Eram praticamente 2 mil volumes, muitos trazidos de Portugal. A província de São Paulo contava então com cerca de 10 mil habitantes. Isso foi atendido em 1810 com a doação do acervo do Diocesano do Funchal, na Ilha da Madeira, Dom Luiz Rodrigues Villares. Nascido em São Paulo, ele também doou suas publicações à biblioteca franciscana. Mas foi somente após a morte do Bispo Dom Mateus de Abreu Pereira, em 5 de maio de 1824, que o chefe de estado da Comarca de São Paulo, Lucas Antônio Monteiro de Barros, Visconde de Congonhas do Campo, viu a possibilidade de adquirir o acervo do bispo e uni-lo ao que já havia no convento para inaugurar a primeira biblioteca municipal. Fazia parte do projeto de construção de uma faculdade na cidade, o que ocorreria em 1934. O espaço de estudo da Biblioteca da Faculdade de Direito da USP, que completa 200 anos em abril; ambiente será restaurado pelo programa Adote um Espaço. Imagem: Werther Santana/Estadão. O primeiro curador da nova instituição foi José Antonio dos Reis, um órfão negro criado pelo Cônego do Santuário. A história da biblioteca, definida pelo professor Zanoide de Moraes, registra que Reis, “sem casa, cama, roupa ou alimento, viveu em extrema miséria por muitos anos”. E prossegue: “Ele (Reis), com apenas 15 anos, matriculou-se no curso de Mirante, aberto em São Paulo por Frei Francisco Montalverne,Destacando-se e atraindo a atenção do bispo diocesano, Dom Mateus de Abreu Pereira, que o acolheu, facilitando seu acesso ao sacerdócio, para o qual se sentia chamado, e imediatamente o chamando de “criança do Santuário”. Reis foi então chamado por Dom Mateus como professor substituto de Fé. Foi ordenado sacerdote em 1821. Quando o acervo se tornou público, o padre foi chamado pelo Visconde de Congonhas do Campo para exercer a função de bibliotecário, onde permaneceu até 1833 — nomeado bispo pelo Papa Gregório XVI, para assumir a diocese de Cuiabá. “Antes disso, porém, em 1832, formou-se em Direito, como o melhor aluno da turma de Direito do Largo de São Francisco”, relatou Zanoide. Ao longo dos séculos, o acervo cresceu com diversas outras doações de professores e seus diretores, como o Tenente-General José Arouche de Toledo Rendon, o primeiro diretor da faculdade, que o deixou. cerca de 700 volumes, e os juristas Mário Marzagão e Waldemar Ferreira. Manuscritos com provas de alunos do século XIX: acervo será digitalizado com a construção de um novo prédio para a Biblioteca do Largo São Francisco. Foto: Werther Santana/Estadão. Seus livros foram subscritos por aqueles das bibliotecas dos professores Ada Pellegrini Grinover, Antônio Carlos de Araújo Cintra, Cássio Mesquita de Barros, José Afonso da Silva, Vicente Marotta Rangel e pela doação feita pelo Instituto Brasileiro de Legislação Tributária (IBDT) de parte do acervo dos professores Alcides Jorge Costa e Gerd Willi Rothmann. A digitalização de todo esse acervo é o que o supervisor Campilongo considera ser o próximo desafio da faculdade. Segundo ele,Não se trata de alterar a biblioteca padrão, mas sim de readaptar o acervo e a acessibilidade à informação, a fim de proteger o acervo e aumentar a agilidade e a acessibilidade ao conhecimento técnico e literário de alta qualidade. A Faculdade do Largo São Francisco busca recursos para digitalização por meio da Lei de Incentivo à Cultura e das contribuições de seus egressos.

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