A taxa de homicídios em São Paulo é de 6,4 mortes por 100.000 habitantes — em comparação com a média nacional de 21,2. A taxa de mortes violentas por causas desconhecidas é de 4,8, enquanto a média nacional é de 1,7. Se as mortes fossem somadas, São Paulo certamente perderia sua posição como o estado menos grave para Santa Catarina. 1 de 1 Brasil registrou 3.755 homicídios ocultos em 2023 — Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Brasil registrou 3.755 homicídios surpresa em 2023 — Imagem: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

O estado de São Paulo registrou a maior taxa de homicídios surpresa do Brasil em 2023 — com 4,8 mortes por 100.000 habitantes, enquanto a média nacional é de 1,7.

As informações são do Atlas da Violência 2025, pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e do Fórum Online Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgada nesta segunda-feira (12).

Os supostos homicídios ocultos são mortes graves que não foram registradas formalmente como homicídios pelo estado, mas que têm alta probabilidade de serem homicídios. São as supostas Mortes Graves por Causas Desconhecidas.

Segundo a pesquisa, em 2023, o Brasil registrou 3.755 homicídios ocultos, sendo que o estado de São Paulo respondeu por 60,6% das mortes por causas não esclarecidas (2.277). Em segundo lugar vem Minas Gerais (358) e, em seguida, o Ceará (251).

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que os dados utilizados pela unidade “são de natureza legal e criminológica, diferentemente daqueles utilizados como referência para a pesquisa e que são coletados pelo DataSUS […], não sendo, portanto, razoável qualquer tipo de comparação.” (Leia na íntegra abaixo.)

Como afirmou Samira Bueno,O organizador do estudo e diretor do FBSP, em mais uma ocasião, afirmou que isso ocorre, em grande parte, em decorrência da precariedade das informações dos atestados de óbito, que não estão sendo apurados de forma eficaz pelos profissionais de saúde, o que leva à subnotificação de homicídios em São Paulo. “Se o legista não souber diferenciar entre os três [homicídio, acidente, homicídio doloso], ele vai apontar uma causa obscura. O problema é que, quando essa causa indeterminada representa uma porcentagem muito significativa do total de casos registrados, percebe-se que há problemas no registro, ou seja, as taxas de homicídio, suicídio e acidente estão subvalorizadas”, destacou o supervisor do Fórum. A gestão da segurança pública no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) é alvo constante de contestações de especialistas e entidades de cultura civil. No ano passado, o estado viu um aumento nos casos de violência física policial em meio à discussão sobre o modelo de câmeras usadas nos uniformes dos oficiais das autoridades militares. (Saiba mais abaixo.)

Nos últimos 10 anos, o número de homicídios encobertos em São Paulo aumentou 130,2%. Em 2013, houve 989 Mortes Graves por Causa Obscura – contra 2.277 em 2023. Confira os dados por ano:

2013: 9892014: 1.1612015: 1.1222016: 1.1962017: 1.2052018: 2.3232019: 2.1622020: 2.4032021: 2.3542022: 2.4102023: 2.277

O Atlas é baseado em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ambos do Ministério da Saúde, e diferem dos dados oferecidos pelas secretarias de Segurança.

Os homicídios encobertos representam uma lacuna nas estatísticas oficiais que impedem uma compreensão precisa e completa da dimensão e das características da violência física perigosa no Brasil. Parte do problema acaba sendo encoberto, afetando a análise de tendências entre diferentes áreas, segundo os entrevistados.

Mortes oficiais

Oficialmente, São Paulo tem a menor taxa de homicídios do país: 6,4 mortes por 100.000 habitantes — em comparação com o padrão nacional de 21,2. Para fins de comparação, o Amapá é o estado mais violento, com 57,4 mil mortes por 100.000 habitantes.

Mortes causadas por agressividade, intervenção legal e operações de combate são levadas em consideração.

De acordo com a pesquisa, o estado de São Paulo apresentou uma redução sistemática no número de homicídios entre 2013 e 2023. Em 2013, 6.035 pessoas foram mortas. Dez anos depois, o número caiu para 3.043.

No entanto, as informações sobre homicídios registrados não dão uma imagem completa da realidade da violência física perigosa no país, de acordo com a avaliação do Atlas.

Incluindo homicídios oficiais e de surpresa, 5.320 pessoas foram assassinadas em São Paulo em 2023.

Assim, incluindo os homicídios sem causa determinada, a taxa de homicídios aumentaria de 6,4 para 11,2 por 100.000 habitantes. Com isso, o estado de São Paulo deixa de ser o estado menos violento do país, passando para o segundo lugar, atrás de Santa Catarina.

Problema de segurança

A segurança pública em São Paulo foi um dos principais temas do segundo ano do governo Tarcísio e tem sido um desafio significativo para 2025, seja pela letalidade governamental,a infiltração do crime organizado na administração pública e o uso de câmeras corporais. Tarcísio admitiu ter reavaliado sua postura em relação às câmeras corporais e passou a resguardar seu uso, após o surgimento de inúmeros casos de violência física por parte das autoridades — como o do menino morto por bala perdida e o do jovem negro morto com 11 tiros nas costas no supermercado. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu sinal verde para um acordo entre o governo de São Paulo e a Defensoria Pública que prevê mudanças no uso das câmeras. Anteriormente, as câmeras gravavam tudo durante a reforma, com gravação contínua, sem possibilidade de desligamento manual. O novo modelo não grava continuamente. Em vez disso, conta com acionamento remoto e automatizado pela central, com gravação retroativa garantida pelo sistema.

O que a SSP afirma

“A administração atual implementou o SPVida, que monitora e analisa exaustivamente os casos registrados de vítimas fatais, garantindo que cada ocorrência seja registrada e investigada adequadamente, para evitar que casos de homicídio sejam erroneamente identificados como mortes suspeitas. Esses dados são disponibilizados para análise, como um compromisso com a transparência.

Os dados da Divisão de Segurança Pública são de natureza jurídica e criminalística, diferentemente daqueles utilizados como referência para a pesquisa e que são coletados pelo DataSUS. Estes identificam a natureza das mortes sob a perspectiva da saúde. Suas necessidades e funções são diferentes, portanto, qualquer tipo de comparação não é acessível.

O Estado de São Paulo mantém um padrão de homicídios em queda, com os menores índices da história. A recente redução da criminalidade em relação à vida é reflexo do investimento em diversas políticas públicas, com o aprimoramento dos tratamentos, ações e ferramentas do poder público, além do aprimoramento dos sistemas integrados de comando e controle com as polícias em todo o Estado de São Paulo.

Veja as mudanças no uso de câmeras corporais por policiais militares após a decisão do STF.

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