
Diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP analisa os caminhos que os católicos precisam continuar a trilhar para a Igreja
Foto: ECCLESIA/PR Company
Lisboa, 8 de maio de 2025 (Ecclesia) — O diretor do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) acredita que “há obstáculos inevitáveis” na Igreja que precisam continuar a ser considerados no futuro.
“Além da globalização, das mudanças climáticas e desse conceito de lar típico, há também dificuldades internas que não podem ser ignoradas, pois são expressão de uma autenticidade que a Igreja precisa ter para sua reputação no mundo contemporâneo”, afirmou Paulo Fontes, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2. Segundo o professor, entre elas está o “lugar e o papel das mulheres, não apenas na cultura, mas também dentro da Igreja”, bem como o “renascimento dos princípios sexuais”. que a “Igreja já começou a embarcar, particularmente no que diz respeito à sua entrega à família”.
Da mesma forma, a “valorização da participação de todos os fiéis na vida interna da Igreja”, contrariando o que o Papa Francisco chamou de “clericalismo”, e as agressões morais e sexuais que ocorreram no passado e “que pretendemos evitar que ocorram no futuro”, são preocupações que, segundo Paulo Fontes, precisam continuar.
“Todos esses são dossiês que chegam à mesa do novo pontífice, seja qual for o número escolhido, para, significativamente, poder reagir com esse sentimento de integridade à expectativa, e eu diria à esperança, que o Papa Francisco suscitou no planeta”, disse ele. Desde esta quarta-feira,A Igreja Católica vive o 3º Conclave do século XXI, no qual serão eleitos 133 cardeais, eleitos por uma maioria de dois terços, seguidor de Francisco, falecido em 21 de abril, vítima de um derrame. Em entrevista, o professor comentou ainda o discurso do decano do Colégio Cardinalício na missa para a eleição do novo Papa, celebrada nesta quarta-feira, na Basílica de São Pedro, na qual afirmou que “o mundo de hoje espera muito da Igreja para salvaguardar aqueles valores humanos e espirituais essenciais, sem os quais a convivência humana não será melhor nem beneficiará as gerações futuras”. Para o supervisor do CEHR da UCP, esta declaração do Cardeal Giovanni Battista Re destaca um elemento que hoje é uma “realidade comum”: o Papa e o evangelizador tornaram-se “uma instância central na vida da Igreja e na relação da Igreja com o mundo”. “Acredito que, do ponto de vista da referência espiritual e, consequentemente, moral da Igreja Católica, o Papado de Francisco demonstrou, de fato, essa capacidade de se tornar um ponto de referência para o mundo como um todo”, destacou. Paulo Fontes lembra o Papa João Paulo II, que foi uma expressão extremamente forte da Igreja, através da figura do Papa, chegando a estar presente no mundo globalizado. “O Papa Paulo VI foi o primeiro a deixar os muros do Vaticano para ir, por exemplo, à Assembleia Geral das Nações Unidas para proferir seu primeiro discurso. Isso se tornou uma prática comum nesses três papados”, observa. O professor considera que o discurso do Cardeal Giovanni Battista Re ecoou alguns dos “sotaques mais tônicos” que os membros fundadores tinham.Quando ele exige essa recomendação de que a Igreja precisa estar, nessa premissa que existe, nessa valorização da razão de ser do amor, é, antes de tudo, uma forma positiva de rejeitar a lógica da autorreferencialidade da qual o Papa Francisco tanto falou”, destaca. “Em outras palavras, a Igreja não existe por si mesma, a Igreja é, em essência, o grupo dos batizados, a Igreja afirma teologicamente, o povo de Deus, na visão restaurada do Concílio Vaticano II”, explicou. O diretor do Centro de Estudos em Formação Religiosa da UCP considera que essa é uma dinâmica que “sempre continuará”, “há uma linha de conexão”. “Agora, haverá mudanças no design, necessariamente, e talvez no sotaque. Aonde essas mudanças levarão? Essa é a grande questão. Penso que há aqui um raciocínio de um ponto de vista interno que cruza essa capacidade da Igreja de ser muito mais aberta à dinâmica do mundo de hoje, que é a dinâmica da sinodalidade”, enfatiza. Paulo Fontes destaca isso como uma das “principais dinâmicas, um dos procedimentos que o Papa Francisco introduziu e que será necessário” para reconhecer, na sua continuidade, como a Igreja irá proceder. “Esta é apenas uma das grandes perguntas, digamos, sobre as ferramentas que a Igreja terá para ouvir as preocupações e dificuldades, mas ao mesmo tempo as realizações e as esperanças dos homens e mulheres de hoje”, disse. Sobre o Papa Francisco, Paulo Fontes entende que o impacto que a figura do pontífice teve “é um legado” que “não pode ser mal utilizado”. “Como será incorporado, valorizado e enriquecido, isso certamente dependerá muito”,
ele disse.LS/ LJ/OC