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Entre os requisitos exigidos da concessionária estão um registro completo com as condições do acidente, as medidas tomadas após o caso e o tipo de socorro prestado aos familiares da vítima. O governo certamente terá que notificar quais medidas legais e judiciais foram adotadas em resposta à morte do passageiro.

Espaço entre as portas da Linha 5-Lilás

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) apurou que a concessionária ViaMobilidade e o governo paulista prestam esclarecimentos a respeito da morte de um passageiro ocorrida na terça-feira (6) na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás da Cidade, na Zona Sul da capital.

A vítima, Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, tinha 35 anos, era aluno de Atletismo e morreu após ficar preso entre a porta do trem e a porta da plataforma.

No acórdão, o vereador Dimas Ramalho concedeu à ViaMobilidade e à Secretaria de Cooperação para Investimentos do estado o prazo de 5 dias para apresentarem suas manifestações.

Entre os itens exigidos da concessionária estão um registro completo com as circunstâncias do acidente, as providências tomadas após o caso e o tipo de socorro prestado à família da vítima. O TCE também quer saber se existe seguro de responsabilidade civil para esse tipo de situação e se já existem registros anteriores de acidentes semelhantes.

Ramalho, que é o relator do processo que fiscaliza a responsabilização do transporte de passageiros nas Linhas 5-Lilás e 17-Ouro, também solicitou informações sobre o sistema de segurança em uso e as medidas implementadas para evitar novos acidentes.

Além disso,O tribunal quer que a ViaMobilidade informe quanto foi efetivamente investido em segurança desde o início da concessão, com os valores discriminados ano a ano e contrastados com o que está previsto no contrato.

Por parte do governo estadual, a Secretaria de Parcerias de Investimentos também deverá informar, no mesmo prazo, quais as medidas legais e judiciais adotadas em resposta à morte do passageiro.

Falta de sensores de presença

O vão entre o trem e a porta do sistema das estações da Linha 5-Lilás do metrô, operadas pela ViaMobilidade, não possui sensores de presença, que protegem contra esmagamento. A tecnologia consegue detectar a presença de uma pessoa nesse vão e impedir que o trem continue sua viagem.

A ViaMobilidade informou que a empresa possui apenas sensores nos trens, para evitar acidentes e garantir que eles saiam com as portas abertas.

As portas de plataforma começaram a ser instaladas em São Paulo em 2010. Hoje, 28 estações das Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata possuem os dispositivos em operação. Essas portas produzem um obstáculo físico que impede quedas sob o vão, além de obstruir o acesso aos trilhos.

A ViaMobilidade informou que instalará sensores de presença nos vãos das plataformas até fevereiro de 2026.

Nosso grupo de projeto já está trabalhando neste projeto. E certamente teremos até fevereiro de 2026, então nos próximos meses, e atualmente a tendência é que até mesmo avancemos com este trabalho, é a instalação de sensores de presença nestes vãos, entre a porta do trem e a porta do sistema. Com isso, qualquer objeto, qualquer pessoa, qualquer coisa que esteja ali, será identificado e a porta não fechará. — Francisco Pierrini,chefe de Estado da empresa, em reunião com a Band.

Antes dos sensores, o chefe de Estado afirmou que instalaria obstáculos físicos, como postes de metal. Ele especificou que esse tipo de defesa certamente teria evitado a morte de Lourivaldo.

“Até depois disso [da instalação dos sensores], aplicaremos um sistema de obstáculos físicos, que são barras de metal nas plataformas. Em todas as plataformas, nas portas internas. Para que também haja uma posição de obstrução quando as portas se fecharem, qualquer tipo de coisa, ou pessoa, ou o que estiver na frente, certamente bloqueará e certamente não fechará”, especificou.

De acordo com Luis Kolle, projetista do Metrô de São Paulo e presidente da Organização dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô, a Linha 3-Vermelha tem sensores na área entre o trem e as portas automáticas da plataforma para evitar acidentes (veja imagem abaixo).

1 de 3 Sensor de visibilidade instalado entre o sistema e as portas do trem — Foto: Arquivo pessoal/Alex Santana

Unidade de detecção de presença instalada entre a plataforma e as portas do trem — Foto: Arquivo pessoal/Alex Santana

“O vão na porta do sistema precisa ter um sensor. Os que têm são os da Linha 3-Vermelha. Sou rigoroso com isso, pois já foram feitos estudos e pesquisas de inovação”, afirma.

Em nota, o Metrô, operado pelo governo federal de São Paulo, afirmou que as portas possuem dispositivos para impedir que pessoas fiquem presas entre o trem e a porta da plataforma após o fechamento.

“As portas operam em sincronia com os trens e o sistema de sinalização: o trem só parte após a confirmação do fechamento completo e seguro das portas do trem e dos PSDs.Cada um deles possui dispositivos para evitar que pessoas fiquem presas entre o trem e a porta da plataforma após o fechamento.”

Para o vice-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários), Alex Santana, os trens da Cidade têm muito mais equipamentos de segurança do que os trens da ViaMobilidade.

“Nas nossas linhas, há sensores de visibilidade nos vãos, coxins de borracha para impedir que alguém fique parado, entre outros problemas de sistema e tratamento operacional. No caso da L5 [ViaMobilidade], não há sensores de presença e os coxins de borracha que ela possui não são suficientes. O vão quase não tem presença para rastreamento, e a ausência de funcionários nos sistemas acaba dificultando a prevenção desse evento”, afirma.

Linhas operadas pela prefeitura SP:

Linha 1-Azul: Jabaquara – Comitê Paralímpico Brasileiro – Tucuruvi. Linha 2-Verde: Vila Prudente – Vila Madalena. Linha 3-Vermelha: Corinthians-Itaquera – Palmeiras-Barra Funda. Linha 15-Prata (Monotrilho): Vila Prudente – Jardim Colonial.

Linhas operadas por concessionárias:

Linha 4-Amarela: Operada pela ViaQuatro, subsidiária do Grupo CCR. Linha 5-Lilás: Operada pela ViaMobilidade, também subsidiária do Grupo CCR. 2 de 3 Unidade de sensoriamento no vão entre a porta do sistema e a porta do trem em um terminal da Linha 3-Vermelha da Prefeitura — Imagem: Arquivo pessoal

Sensor no vão entre a porta do sistema e a porta do trem em um terminal da Linha 3-Vermelha da Cidade — Foto: Arquivo pessoal

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Filho de pedreiro, aluno e repositor de supermercado: quem foi o viajante que faleceu no vão entre o trem e a plataforma? Entenda como funcionam as portas automáticas das plataformas e trens da cidade de SP. ‘Filme de terror, pessoas começaram a gritar’,diz testemunha de acidente com homem que morreu no metrô

Segurança

Para o projetista Kolle, um sistema de segurança eficaz deve ser criado para operar em um ambiente “à prova de falhas”, ou seja, de forma que diminua os perigos quando ocorrem falhas.

“Quando se cria um sistema de segurança, é preciso prever o que pode acontecer com o sistema. No caso de trens e metrôs, entre as coisas que acontecem muito estão pessoas segurando a porta para embarcar. Quando se bloqueia a porta, é preciso dar à pessoa a chance de entrar no trem ou retornar à plataforma.”

O projetista Peter Alouche, que trabalhou no Metrô de São Paulo por 35 anos, acredita que houve uma série de falhas no caso da morte de Lourivaldo. “A ausência de um sensor faz com que a porta se feche mesmo com a pessoa no vazio”, afirma.

O deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL) protocolou uma petição no Ministério Público do Trabalho pedindo, entre outras coisas, a cassação da concessão das linhas da ViaMobilidade. A petição foi obtida pela Defensoria Pública.

Espaço entre a porta e o trem

Moacyr Duarte, especialista em análise de riscos e monitoramento de emergências, afirmou que o acidente ocorrido nesta terça-feira dificilmente ocorreria em outros metrôs do mundo, já que o espaço entre a porta do trem e a porta de segurança não é grande o suficiente para uma pessoa.

“Nos casos que ocorreram aqui, as pessoas ficaram com um espaço embutido entre as portas. Foi uma falha no estudo preliminar de execução. Quando você executa um sistema como este,é necessário usar um conjunto de estratégias e realizar uma conferência com os especialistas envolvidos para avaliar as ameaças existentes.”

Convidado morre após ficar preso entre a porta do trem e a porta do metrô em SP

3 de 3 Como funcionam as portas do metrô– Imagem: Art/g1 Design

Como funcionam as portas do trem– Foto: Art/g1 Layout

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