
Mesmo mais de 2 anos após a posse de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o PT continua enfrentando dificuldades na oposição ao governo federal de São Paulo, deixando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sem qualquer tipo de auxílio na maior universidade do país. Desde que assumiu o cargo, Tarcísio tem conseguido executar várias de suas principais promessas de projeto — da privatização da Sabesp à criação de instituições cívico-militares — sem encontrar muita resistência na Assembleia Legislativa (Alesp) e mantendo seu índice de aprovação acima de 40%.
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Ao mesmo tempo, o PT tem enfrentado dificuldades para enfraquecer a gestão Tarcísio e não tem conseguido sequer atuar no ambiente digital: pesquisa Bites realizada a pedido do Estadão mostra que o PSOL tem sido o principal crítico de vídeo do governo nas redes sociais, deixando o partido do presidente em segundo plano. O novo líder da federação de PT, PCdoB e PV na Alesp, deputado estadual Antonio Donato (PT), expressa medidas para tentar mudar o cenário. Além de uma maior sincronização do discurso dos deputados nas redes sociais, o parlamentar está trabalhando para criar uma frente política com outros partidos de esquerda e a sociedade civil para garantir que a discussão ultrapasse os corredores da Assembleia Legislativa. O presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) Imagem: Taba Benedicto/Estadão Donato está trabalhando para garantir que o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, vá à Alesp para analisar a PEC da Segurança Pública e que o vice-presidente e Ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB),participa de audiência para debater o impacto das tarifas de importação reveladas pelo presidente dos EUA, Donald Trump — Tarcísio publicou uma imagem em comemoração à eleição política do americano no início do ano. Publicidade A substituta defende o trabalho feito pelo PT e alega que o governo federal conta com o apoio da maioria dos deputados, o que dificulta que a oposição bloqueie projetos e autorize pedidos convocando assessores para se manifestarem sobre assuntos questionáveis. “Vamos tentar criar um ambiente de maior disputa pela cultura em temas cruciais para o Estado, sejam eles questões exclusivamente da Assembleia Legislativa”, disse o líder petista. Donato sugere que Tarcísio envie poucos projetos para a Alesp e concentre suas pressões em privatizações e concessões, cujas autorizações legais foram obtidas em gestões anteriores. Por outro lado, o deputado afirma que a oposição travou “batalha em todos os aspectos” quando houve avaliação de pautas importantes, como a privatização da Sabesp e a flexibilização de custos mínimos para a educação. Leia mais Na prática, porém, a ofensiva do PT contra Tarcísio tem se mostrado ineficaz até o momento. O governo conseguiu manter sua aprovação acima de 40%, ao mesmo tempo em que avançou com sucesso em propostas de seu interesse na Alesp. Entre as mais questionáveis estão o programa de instituições cívico-militares e a lei que prevê anistia para multas aplicadas durante a pandemia da COVID-19 — esta última beneficiando diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem é aliado. O governo chegou a se filiar ao PT para reeleger o deputado André do Prado como chefe da Casa Civil. Em relação ao PL,Do Prado se tornou um dos principais aliados de Tarcísio, sendo considerado seu vice-presidente em uma possível reeleição em 2026. Publicidade na Câmara, a relação entre o PT e o governo já tem sido alvo de reclamações dos defensores de Bolsonaro, especialmente porque Tarcísio paga transferências voluntárias para os petistas. Esse tipo de transferência não é obrigatória; é uma opção do governo. No ano passado, R$ 57 milhões foram destinados a parlamentares do PT. Os partidos que mais receberam transferências foram, pela ordem, PL (R$ 239 milhões), Republicanos (R$ 119 milhões), União Brasil (R$ 115 milhões), PSDB (R$ 106 milhões), PSD (R$ 71 milhões), Podemos (R$ 72 milhões), MDB (R$ 58 milhões) e PT. Bolsonaristas costumam comparar a oposição do PT a Tarcísio hoje com a resistência que eles próprios fizeram ao ex-governador João Doria. Eles explicam que, durante o governo do PSDB, apresentaram diversos pedidos de impeachment e que, em alguns casos, conseguiram dificultar a eleição do governo federal na Alesp. Um estudo da consultoria Bites revela que, nas redes sociais, o partido que mais desafia Tarcísio não é o PT, mas sim o PSOL. A avaliação, que considerou publicações sobre o governador entre 1º de janeiro e 30 de abril, identificou o deputado estadual Guilherme Boulos (PSOL-SP) como o principal vilão digital do presidente. O parlamentar se destaca tanto em quantidade quanto em impacto: neste ano, publicou quase 60 matérias sobre Tarcísio, que somaram 868 mil mensagens, entre curtidas, comentários e compartilhamentos nas redes sociais X, Facebook e Instagram. “Boulos é o grande vetor de oposição a Tarcísio nas redes.Atrás dele está Sâmia Bomfim, também do PSOL. O primeiro petista a aparecer na lista é Carlos Zarattini, deputado federal. Da Alesp, o candidato do PT é Antonio Donato. “Se o PT entende que Tarcísio é um potencial adversário, deveria ter uma maneira de derrotá-lo”, afirmou Manoel Fernandes, diretor da Bites. Ele também acrescenta: “A maior fragilidade de Tarcísio, e é isso que a pesquisa revela, é a questão da segurança, especificamente o roubo e furto de celulares. E ninguém do PT está falando sobre isso. Boulos mencionou o assunto este ano, mas foi só isso. A crise de segurança não está no radar da oposição. Se Tarcísio é, de fato, um potencial adversário do governo Lula, é evidente que o PT não está fazendo nada a respeito para derrotá-lo. A resistência carece de um debate unificado. “Na Alesp, o opositor mais vocal ao governo é Carlos Giannazi (PSOL). Pelo PT, o nome principal é Antonio Donato. Ele obteve sucesso em dois vídeos recentes em suas redes sociais: em um, critica o pedágio gratuito; no outro, afirma que a construção do túnel Santos-Guarujá será feita em parceria com o governo Lula. Juntos, os vídeos tiveram mais de 1,8 milhão de visualizações no Instagram. Para Manoel Fernandes, no entanto, o sucesso das publicações de Donato foi mais circunstancial do que fruto de uma forte estratégia de resistência. Ao Estadão, o deputado afirmou que o partido tem trabalhado arduamente para aumentar sua visibilidade no ambiente digital. “É uma área em que estamos claramente em desvantagem do ponto de vista digital e que estamos tentando melhorar.Estamos dando passos nessa direção, mas não é simples”, afirmou Donato. Eleição em São Paulo tem consequências nacionais, avaliam petistas. A eleição no Estado de São Paulo é vista como estratégica tanto para Bolsonaro quanto para os petistas. Em 2022, os planejadores de Bolsonaro chegaram a determinar exatamente quantos votos ele precisaria ter no Estado para reduzir os efeitos da vantagem de Lula no Nordeste. Durante a semana da eleição, pesquisas internas do projeto de Bolsonaro mostraram que o futuro presidente havia conquistado a principal vantagem entre os paulistanos. No entanto, a distância para Lula se estreitou nos últimos dias da campanha eleitoral, após os episódios envolvendo a deputada federal Carla Zambelli e o ex-deputado Roberto Jefferson, segundo assessores de campanha. Com Tarcísio estabelecido em São Paulo, a aposta do campo pró-Bolsonaro é melhorar seu desempenho no estado. Os aliados de Lula, por outro lado, estão preocupados em não perder terreno. “Os votos que Haddad obteve em São Paulo foram fundamentais para a vitória do presidente Lula. São Paulo contribuiu significativamente para a escolha de Lula. Em 2026, nossa perspectiva precisa, no mínimo, repetir o desempenho de Haddad. Conseguir o sucesso em São Paulo é fundamental para reeleger Lula – não é uma questão regional, é nacional”, afirma o substituto do governo Jilmar Tatto (SP), Assessoria Nacional de Comunicação do PT. Para Tatto, o PT cumpriu seu papel de resistência, embora reconheça os problemas. “Ser resistência é difícil. Quem está no governo tem o equipamento, tem o controle. A bancada do PT é minoria, e o partido por si só não consegue criar um grande bloqueio”, afirmou.”Mas nós já denunciamos, alertamos e investigamos”, ponderou. Para 2026, a assessoria de comunicação do PT defende a formação de uma frente ampla em São Paulo para enfrentar Tarcísio e discorda de colegas que veem a reeleição do governador como inevitável. Tatto recomenda a união de partidos como PSB, PSOL, PDT e Rede – e até mesmo “alguns retardatários do centrão”. Para ele, o ministro Márcio França tem a reputação de representar a bancada, mas outras possibilidades precisam ser discutidas – entre elas, Fernando Haddad e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que já governou o estado. Embora Haddad e Alckmin tenham indicado que não pretendem se candidatar, Tatto afirma que “o Estado de São Paulo é tão importante para a eleição de Lula que não se pode ‘ter empregos próprios'”. E acrescenta: “Quando chegar a hora, todos eles certamente irão à disposição do presidente Lula”. Leia também Uma objeção de parlamentares do PT é que o PSB, que lançou França como pré-candidato a governador na semana passada, não participa da oposição a Tarcísio na Alesp. A proposta é rejeitada por Caio França, filho do pré-candidato e deputado estadual. “Continuamos na resistência, mas há meios de fazer isso. Isso não significa que vamos votar contra tudo e qualquer coisa. Eu mesmo votei a favor, por exemplo, da parceria público-privada para balsas e travessias. Sou usuário semanal desse sistema e vejo o quão obsoleto ele está”, afirmou o parlamentar do PSB. Caio França reconhece que Tarcísio é o candidato a ser derrotado, mas aposta que o governador não se candidatará à reeleição, deixando a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes em aberto.”Minha aposta é que ele certamente será empurrado para disputar a presidência e isso abrirá uma série de oportunidades, com inúmeras rupturas entre o grupo que pretende fazê-lo prosperar”, apostou.Publicidade Siga o ‘Estadão’ nas redes sociais