
Situado na Zona Sul de São Paulo, o bairro Jardim Ibirapuera vem substituindo gradativamente os blocos cinza e laranja, cores tradicionais das favelas brasileiras, com grafites, mosaicos e murais. A ação faz parte de um projeto que visa transformar a região, onde vivem 41 mil pessoas, em uma das favelas mais vibrantes da capital paulista até 2030. Desde o lançamento, em outubro de 2015,
40 casas foram pintadas e três escadarias foram reformadas — a ideia é fazer isso em todas as 20 que passam pela região, que tem cerca de 14 mil residências. “[As escadarias] são locais muito movimentados,
com pessoas indo e voltando da escola ou do trabalho. Então, por meio das escadarias, percebemos que poderíamos ter uma galeria a céu aberto dentro da favela”, diz Eduardo Duetho, idealizador do projeto, chamado Escadão Galeria. Ele explica que as mudanças visuais fazem parte de um movimento que busca a transformação.
Jardim Ibirapuera em várias outras facetas também. “Quando falamos de uma comunidade do futuro, temos que pensar em saúde, educação e trabalho, porque, no fim das contas, as escadas são apenas passagens. As pessoas são o importante nesse processo.” A Escadao Galeria também repintou estéticas e comerciais e construiu murais e painéis de grafite. A meta é transformar mais quatro escadas até o final do ano. O plano consiste em usar essas salas para homenagear pessoas importantes na comunidade, sejam músicos e intelectuais negros ou aqueles com conexões com as fronteiras. Até agora, nomes como Sérgio Vaz, Sueli Carneiro e Conceição Evaristo receberam essa homenagem. A ideia do projeto foi concretizada em maio de 2023.Quando uma equipe realizou um evento de extensão comunitária para homenagear o músico Seu Escurinho do Acordeon, morador do bairro. No ano seguinte, foi a vez de homenagear Maria Eterna dos Reis, a Dona Maria, que fundou a primeira faculdade local da região e ajudou a educar muitos moradores a ler e escrever. Atualmente, a Galeria Escadão conta com uma oficina de mosaico. Nela, os moradores aprendem a fazer desenhos que, mais tarde, embelezarão os espaços. “Todo esse trabalho que precisamos fazer para mudar o bairro é muito apaixonante e sem o envolvimento da comunidade não seria possível”, afirma o educador e artesão Ronaldo Bozzi, que ministra as aulas. Ele ressalta que são os próprios moradores, por meio de eventos de extensão, que fazem o trabalho. O próprio Ronaldo mora no bairro há 40 anos. “Ver a comunidade colaborando para construir essa reforma que queremos para o nosso bairro é o mais incrível do projeto.” Ao verem as áreas vibrantes após as obras no bairro, muitas pessoas se sentem gratas, afirma Débora Oliveira, aluna da oficina de mosaicos e moradora do Jardim Ibirapuera há mais de 50 anos. “Me sinto importante, me sinto feliz e apaixonada, amo estar aqui”, diz ela. Ver que a comunidade se uniu para construir essa transformação que queremos para a nossa região é o aspecto mais marcante do projeto. Ronaldo Bozzi, que dá aulas na oficina. Os responsáveis pelo projeto afirmam que a maioria dos moradores aprovou a implementação das áreas mais coloridas. Segundo eles, a escolha do projeto foi feita para dialogar com as origens sociais dos moradores – muitos são negros e/ou de origem nordestina. Gilson José,Buiu, empreendedor do bairro, morador do Jardim Ibirapuera há 45 anos e que teve sua casa pintada pelo projeto, afirma que as mudanças podem até melhorar o cenário econômico local. “É excelente para a visibilidade da comunidade, acho que também pode trazer mais investimentos para a comunidade e gerar ainda mais renda para os moradores.”