
Soldado registra boletim de ocorrência e alega ter sido levado para um local escuro, forçado a fazer flexões e agredido com chutes após relatar ter perdido um produto do uniforme. O Exército informou que irá apurar a ocorrência, porém não há indícios de crime. 1 de 3 Soldado registra agressões na Polícia Militar de Barueri após dizer que perdeu a fivela do cinto– Foto: Arquivo Pessoal
Soldado relata agressões na Polícia Militar de Barueri após afirmar que perdeu a fivela do cinto– Foto: Arquivo Pessoal
Um soldado do Exército declara ter sido agredido dentro de um quartel em Barueri, na Grande São Paulo, após perder a fivela do cinto do uniforme. O fato ocorreu no dia 10 de março e um boletim de ocorrência foi registrado. Segundo a defesa, o jovem vai para casa, acamado e com sequelas físicas.
O Exército enviou duas notas ao g1. Em ambas, informou que o caso está sendo apurado. Na 2ª versão, ele mencionou que, “até o momento, não há comprovação de qualquer tipo de infração penal ocorrida naquela Organização Militar” (veja a nota completa abaixo). O Soldado Valdir de Oliveira registra que informou a um oficial que havia perdido o fecho, item fornecido pelo almoxarifado, ao receber sua nova vestimenta. Em seguida, teria sido levado para um local sem iluminação, câmeras ou janelas. Lá, ele afirma ter sido obrigado a fazer flexões de braço enquanto recebia chutes e perguntado “quanto” custava o fecho. “Naquele dia, ocorreu a troca de uniforme. Entrei no almoxarifado, na parte que ficava no quartinho onde estava o tenente. Ele obteve as medidas da vestimenta. Quando entrei no próprio depósito, onde as roupas eram guardadas,Eles me pediram para elogiá-los três vezes. Começaram dizendo: ‘Vamos jogar o uniforme fora e você o pega’. Depois disso, começaram a jogar o uniforme e me bater na cabeça e nas costas. Eles realmente não se importaram”, relatou ele.
E ele continuou: “Até eu pegar o pacote completo do uniforme e ir até a porta, ele olhou para mim e perguntou sobre o cinto. Eu me virei e disse: ‘Eu tenho o cinto, só não tenho a fivela, que acabei perdendo’. Então ele disse: ‘Eu tenho uma fivela bem aqui. Quanto custa para você?’. Eu disse: ‘Não sei, senhor’. Ele respondeu: ‘Então, 10 flexões’. Fui me flexionar no centro do depósito e ele disse: ‘Não abaixo’. Ele me levou para uma sala dentro do depósito, que era muito escura. Quando me abaixei para fazer flexões, ele começou a me bater.”
O rapaz relatou às autoridades que, mesmo após as agressões e com fortes dores de cabeça, foi obrigado a retornar aos treinos físicos naquele dia. Naquela noite, ele conta que foi isolado em um local e depois levado novamente para mais exercícios.
Segundo o registro policial, o soldado foi levado ao Hospital Municipal de Barueri (Sameb). Após ser atendido, ele foi obrigado a comer em apenas três minutos.
Após sentir-se mal, vomitar sangue e retornar ao posto de saúde, foi-lhe oferecida a recomendação médica de três dias de repouso, o que, segundo ele, não foi bem recebido pelo quartel.
“Continuo com fraqueza nas pernas, vomitando sangue e dores nas costas”, destacou o soldado.
Defesa menciona ‘abuso’
Para o advogado de defesa do soldado, ele passou por situações incompatíveis com a função das Forças Armadas.
“Devo declarar que meu cliente viveu dias de abusos no quartel do Exército, onde se apresentou para cumprir uma missão pública. Sofreu agressões físicas e emocionais que deixaram sequelas para o resto da vida”, afirmou Eduardo Lemos Barbosa.
O que dizem os militares
Em nota, o Comando da Força Armada do Sudeste (CMSE) informou que instaurou inquérito para apurar o caso.
“O Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que, durante o dia 12 de março de 2025, o Soldado Valdir de Oliveira Franco Filho sentiu-se mal e foi levado às pressas para o Posto Clínico do Arsenal de Guerra de São Paulo e, em seguida, transferido para o Serviço de Assistência Médica de Barueri (SAMEB), onde recebeu atendimento médico, foi liberado e retornou à Força Armada.
No dia seguinte, 13 de março, o soldado apresentou novamente os mesmos sintomas e foi encaminhado ao Hospital das Forças Armadas da Região de São Paulo (HMASP), onde realizou os exames pertinentes e permaneceu internado até o dia 21 de março. Desde então, ele se recupera em casa, seguindo o tratamento prescrito pelos médicos responsáveis.
Uma vez comprovado que ele não apresentava problemas de saúde graves, o soldado vem recebendo o devido atendimento médico do Exército Brasileiro.
Uma vez familiarizada com os registros narrados no pedido, em 17 de abril de 2025, o Exército de São Paulo A Coleta abriu inquérito para apurar as realidades. Até o momento, não há indícios de qualquer tipo de crime ocorrido naquela Organização das Forças Armadas.
Em última análise, as Forças Armadas Brasileiras declaram seu compromisso com a rigorosa observância dos princípios legais,Princípios éticos e valores éticos que norteiam a conduta de todos os seus participantes.”
A Divisão de Proteção ao Público de São Paulo foi contatada, mas não havia reagido até a última atualização deste registro.
2 de 3 Soldado afirma ter sido agredido em quartel do Exército em Barueri após perder a fivela do cinto — Foto: Arquivo Pessoal
Soldado afirma ter sido agredido em quartel do Exército em Barueri após perder a fivela do cinto — Foto: Arquivo Pessoal
Caso de afogamento nas Forças Armadas de Barueri
Em outro caso na mesma cidade, a União foi condenada pela Justiça Federal a pagar R$ 468 mil em indenização por danos morais ao irmão e à tia de um soldado. Wesley da Hora dos Santos se afogou durante um treinamento aquático em um lago no quartel do Grupo Bandeirante, em Barueri, em abril de 2017.
A decisão foi proferida pela juíza Leila Paiva, da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em 24 de fevereiro.
A União já havia sido condenada por sentença da 4ª Vara Federal de Sorocaba, porém interpôs recurso ao TRF-3 para tentar reduzir o valor da indenização. Contudo, a 4ª Turma, por sua vez, negou a condenação da União.
“Não há dúvidas de que o evento fatal decorreu de um conjunto de atos irresponsáveis praticados pelas Forças Armadas, que agiram com omissão e imprudência, plenamente comprovados na decisão proferida na ação penal militar”, afirmou o relator.
Wesley, Victor da Costa Ferreira, de 18 anos, e Jonathan Turella Cardoso Allah, de 19 anos, morreram afogados após serem obrigados a “se espirrar até o pescoço” para realizar uma missão específica nas instalações do 20º Grupo de Artilharia Leve de Área.
De acordo com os autos,A equipe havia efetivamente concluído uma atividade, localizando pontos no terreno, utilizando mapa e bússola. Os três militares se esqueceram de registrar um dos fatores.
Portanto, um cabo ordenou um trote, contrariando as orientações do tenente, que havia considerado a ação encerrada. O trote incluiu tomar um novo caminho, incluindo atravessar o lago. Na ocasião, familiares disseram que os meninos não sabiam nadar.
Durante a travessia, um dos funcionários escorregou e foi parar no fundo do lago. Os outros dois tentaram socorrê-lo, mas não conseguiram e também afundaram. Os três morreram.
Segundo a ação, não houve orientação correta. “Com base nas condições dos fatos, no grau de vergonha dos agentes e nas condições socioeconômicas dos fatos, a pena imposta no referido acórdão se mostra sensata”, concluiu o relator.
3 de 3 Três militares morreram afogados em quartel em Barueri em 2017– Foto: TV Globo/Reprodução
3 militares do Exército morreram afogados em quartel em Barueri em 2017– Imagem: TV Globo/Reprodução