Uma semana após o G1 e a TV Globo revelarem que Sandro Torres foi condenado a 2 anos e 11 meses de prisão por furtar de açougue, a prefeitura local escolheu um novo assessor-chefe para a Guarda Civil da cidade. 1 de 6Sandro Torres (esquerda) e Filipe Murilo (direita) — Foto: Reprodução

Sandro Torres (esquerda) e Filipe Murilo (direita) — Foto: Reprodução

Uma semana após o g1 e a TV Globo revelarem que o Secretário de Defesa de Ribeirão Pires foi condenado a 2 anos e 11 meses de prisão por furtar de açougue, a prefeitura da cidade na Grande São Paulo decidiu alterar o comando de um dos cargos mais altos da Guarda Civil — o terceiro na linha de comando.

Filipe Murilo Silva, que ocupava o cargo de examinador-chefe desde abril de 2024, será substituído. Em seu lugar, assumiu o guarda-civil Fernando Belchior Dias.

Filipe estava sob a tutela do Secretário Sandro, que permanece no cargo.

Entre as responsabilidades do cargo de assessor chefe estão:

Coordenar e supervisionar as tarefas desempenhadas pelos juniores (assessor, subinspetor, vigilantes de todas as turmas e alunos); Elaborar critérios e rotinas e procedimentos de trabalho relacionados à área de atuação; Elaborar ou recomendar ao comando do GCM o desenvolvimento de diretrizes, normas e regulamentos de interesse da instituição; Somente o chefe e o comandante substituto estão acima do examinador principal na hierarquia do GCM de Ribeirão Pires.

Fernando Belchior é servidor público municipal desde novembro de 2010. Entre 2021 e 2022, atuou como vice-comandante do GCM. Em 2022, candidatou-se a deputado estadual pelo partido Patriota.ainda não foi eleito. Em 2008, concorreu a vereador em Ribeirão Pires pelo PMDB, porém continuou como suplente. Filipe Murilo, que agora foi nomeado assessor do prefeito Guto Volpi (PL), permanece na prefeitura desde julho de 2008. O G1 entrou em contato com a Prefeitura de Ribeirão Pires para entender o motivo das mudanças no comando da Guarda Civil e as normas adotadas para a eleição. A prefeitura informou que “as mudanças são de natureza administrativa e obedecem ao procedimento para cargos de livre visitação e demissão”. Equipe composta pelo Assistente de Segurança de Ribeirão Pires compartilha bens roubados. Secretário de Segurança é considerado culpado de furto. O Assistente de Segurança Pública de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, Sandro Torres Amante, foi condenado a 2 anos e 11 meses de prisão pela prática do crime de furto qualificado. A decisão foi tomada este ano, em 2ª instância, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. O crime de furto de produtos de açougue ocorreu em junho de 2018 — na época, Sandro era subcomandante da Guarda Civil Municipal de Ribeirão, cidade localizada a cerca de 30 km da capital. Junto com ele, Gutembergue Martins Silva (inspetor-chefe da GCM na época) e o ajudante-geral Marcelo Cruz Dallavali foram condenados pelo mesmo crime. O Tribunal também determinou a perda dos cargos públicos de Sandro e Gutembergue. Ele permanece no cargo porque a pena está sendo apreciada em 3ª instância, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público, na madrugada de 18 de junho de 2018,A equipe realizou 2 furtos quase que em sequência:

Em questão de minutos, os réus levaram praticamente 60 kg de carne e R$ 28.000 dos açougues Izzo e Parati, que ficam a cerca de 300 metros um do outro, na sede da prefeitura.

Do primeiro açougue, foram levados 15 kg de picanha, 10 kg de contrafilé preto, 12 kg de alcatra, R$ 8.000 em dinheiro e um cofre. Do segundo, foram levados 20 kg de carne bovina, R$ 20.000 em dinheiro, cheques, câmeras de monitoramento, um DVD do circuito de rastreamento e roteadores.

As investigações indicaram que os crimes foram planejados, ou seja, não se tratavam de arrombamentos periódicos. Segundo os autos, Gutembergue havia configurado diretamente as câmeras de monitoramento da prefeitura pouco antes do crime.

As câmeras foram redirecionadas propositalmente para não enquadrar os açougues.

Além disso, enquanto as câmeras eram reposicionadas e posteriormente alteradas, foi feita uma denúncia anônima falsa para garantir que os policiais da GCM e da Polícia Militar se afastassem da prefeitura, auxiliando na execução do crime.

Ribeirão Pires faz parte do ABC Paulista e conta com cerca de 115 mil moradores e uma Guarda Civil Municipal com 120 agentes, todos comandados por Sandro Torres Amante.

A TV Globo e o G1 conversaram com Sandro nesta quarta-feira (16) e ele afirmou que é inocente dos crimes e que não há qualquer prova de venda de segurança pessoal na cidade.

“Em primeira instância eu fui absolvido, em segunda instância, dos sete crimes que foram praticados contra mim, essa turma deu essa condenação que foi uma sentença, né? Isso já foi abordado,Meu advogado já fez a defesa em terceira instância, certo? E com fé em Deus isso ficará claro, já que não tem absolutamente nada a ver comigo. Com certeza, 30 anos de serviço público abaixo”, afirmou.

O prefeito, Gustavo Volpi (PL), não recebeu a equipe de reportagem.

A Prefeitura respondeu, por meio de nota, que não foi informada sobre a condenação de Sandro. Em relação à GCM, Gutembergue afirma que houve uma ordem judicial para seu afastamento das funções na Guarda Civil Comunitária, sem viés de sua renda e sem, até o momento, qualquer tipo de decisão em contrário (veja a nota completa abaixo). A GCM da cidade atualmente se autodenomina a Polícia Local.

Secretário e GCM de cidade na Grande SP são considerados culpados de furto em açougue

2 de 6 Prefeito de Ribeirão Pires e Assistente de Segurança em ação pelos 100 dias de gestão — Imagem: Recreio

Prefeito de Ribeirão Pires e Secretário de Segurança em ação pelos 100 dias de gestão — Imagem: Recreio

3 de 6 Ribeirão Pires– Imagem: Art/g1

Ribeirão Pires– Imagem: Art/g1

Câmeras eletrônicas flagraram os envolvidos

Dentre as testemunhas em liberdade, uma que fez isso afirmou que, ao retornar do local do roubo, viu que algumas câmeras estavam fora do lugar e as recolocou na estrutura original, tempo suficiente para flagrar Sandro, Gutembergue e Marcelo separando os produtos furtados. (veja o vídeo acima)

Nos autos, é possível constatar que alguns veículos circulavam no local dos assaltos — essas imagens foram necessárias para a identificação dos acusados.

Três caminhões aparecem nas imagens:

Um Peugeot vermelho pertencente e dirigido por Gutembergue; Um Fiat 500 branco pertencente e dirigido por Marcelo Cruz Dellavali; E um Hyundai i30 preto pertencente e dirigido por Sandro Torres Amante.

Logo após os assaltos, as câmeras capturaram:

O Peugeot estacionou perto do açougue. Logo depois, o Fiat 500 para e estaciona em frente; Sandro e Gutembergue, juntamente com outros, são vistos dividindo os produtos roubados entre os carros; O Peugeot e o Fiat 500 saíram do local juntos. Depois disso, o i30 dirigido por Sandro começou a seguir os outros dois caminhões. Três pessoas não identificadas saíram a pé, entraram em um Fiat Siena e seguiram com o Fiat 500 até a cidade de São Paulo, conforme registrado em vídeo pelo sistema de monitoramento Detecta do governo estadual. A movimentação planejada reforçou o entendimento do Ministério Público de que o grupo estava operando de forma estruturada.

Outro ponto destacado no processo é que, no dia seguinte aos crimes, Gutembergue permaneceu por horas na sala de vigilância da GCM e presumivelmente tentou apagar as imagens relacionadas à noite do roubo.

4 de 6 Secretário de Defesa de Ribeirão Pires, na Grande SP, é condenado por roubo — Imagem: Reprodução

Secretário de Defesa de Ribeirão Pires, na Grande SP, é condenado por furto — Imagem: Reprodução

Sentença

O grupo foi considerado culpado após o Ministério Público indiciar seis pessoas pelos crimes de furto e formação de milícia privada (saiba mais abaixo).

A 1ª Vara de Ribeirão Pires entendeu que havia provas suficientes para a condenação de Gutembergue. Em decisão proferida em outubro de 2023, o Juizado Daniel Adriano Araldi Martins absolveu Sandro Torres, Marcelo Dellavali e os outros quatro acusados.

Apesar disso, o MP, junto à Procuradoria-Geral da República, recorreu e obteve a condenação dos outros dois acusados.

“A materialidade e a autoria dos crimes estão devidamente comprovadas pelos depoimentos de testemunhas protegidas, pelos boletins de ocorrência, pelas imagens colhidas no dia dos fatos e pelas provas produzidas ao longo da investigação processual”, destacou o promotor de Justiça Low Point de Campos Júnior em seu recurso.

Em janeiro deste ano, a 5ª Câmara de Legislação Criminal do TJ concordou com esse entendimento e afirmou que a materialidade dos furtos praticados em 18 de junho de 2018 foi comprovada pelos autos, pelo auto de avaliação dos vídeos fornecidos pelas testemunhas de defesa e pelas fotos registradas pelas câmeras de monitoramento da própria Prefeitura de Ribeirão Pires.

Agora, os infratores tentam reverter a decisão no Superior Tribunal de Justiça.

Consulta ao Perfil de Segurança 5 de 6 Ato de nomeação de Sandro Torres Amante como chefe da pasta de Segurança de Ribeirão Pires– Imagem: Recreação

Ato de consulta a Sandro Torres Amante como chefe da pasta de Segurança de Ribeirão Pires– Foto: Recreação

Apesar de ter respondido como autor no processo de arrombamento, em 06 de dezembro de 2023 Sandro foi nomeado Secretário Municipal de Segurança Urbana, Trânsito e Defesa Civil de Ribeirão Pires, ocupando cargo de confiança na prefeitura.

O promotor distrital que recorreu da condenação do atual secretário afirmou que é significativo que uma pessoa considerada culpada de roubo seja responsabilizada pela segurança da cidade.

“Não é possível que alguém acusado de colocar a segurança pública em risco seja, ao mesmo tempo, o assistente local, a empresa do serviço geral de segurança pública”, lamentou Low Point.

A decisão do Tribunal de Justiça demonstra que, não havendo mais qualquer tipo de recurso, os três condenados devem começar a cumprir suas penas, o que obriga Sandro e Gutembergue a perderem seus cargos públicos.

6 de 6 Secretário de Segurança de Ribeirão Pires, condenado por furto em açougue– Imagem: Reprodução

Auxiliar de Segurança de Ribeirão Pires, condenado por furto em açougue– Imagem: Reprodução

MP vê formação de milícia

Além dos arrombamentos, a investigação do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, apurou a comprovação da formação de uma milícia exclusiva pelos envolvidos — o que levou o grupo a ser autuado também por esse crime.

O desenvolvimento de uma milícia privada consiste em constituir, organizar, integrar, manter ou financiar uma organização paramilitar, milícia privada, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar outros crimes.

Pelo menos entre 2019 e 2023, os GCMs relatados se juntaram a uma milícia para cometer crimes, de acordo com o Ministério Público. Segundo testemunhas,os agentes colaboraram com empresas de segurança jurídica:

“Os serviços de segurança prestados aos clientes demonstram ter como principal característica a obtenção de acordos para garantir que as instalações industriais não sejam vítimas da criminalidade do próprio grupo, como ocorreu nos dois arrombamentos aqui relatados”, cita trecho da denúncia.

O MP menciona ainda que testemunhas apresentaram provas que vinculam o assistente Sandro Torres “a diversos outros crimes, como corrupção fácil decorrente do recebimento de propina de traficantes de drogas”.

Embora a Justiça não tenha acolhido a questão da milícia, as investigações sobre essas e outras atividades criminosas continuam.

“O Ministério Público ainda vai investigar os indivíduos que formaram a verdadeira milícia exclusiva dentro da GCM. Isso fez parte da investigação do Gaeco, que mostrou que o trabalho de segurança exclusiva da cidade estava sendo desviado da função de segurança pública para que os próprios integrantes da guarnição pudessem desviar o foco das câmeras e permitir a prática de crimes de furto no distrito de Ribeirão Pires”, explicou o promotor Nadir Campos.

GCMs temem

O G1 e a TV Globo entrevistaram duas pessoas que sabem como a guarda funciona e decidiram denunciar a forma como a corporação tem sido administrada e liderada. Por medo de represálias, eles preferiram permanecer anônimos.

Segundo eles, parte da corporação é corrupta e age apenas por interesse próprio, deixando a segurança da cidade em segundo plano.

“Eles criam problemas para promover a facilidade.Exatamente como? Sua empresa ou sua casa é arrombada e você registra um boletim de ocorrência. Percebendo isso, ele [Sandro], também por participar dos crimes, vai até o local para prestar serviços [de segurança pessoal]. Você é lesado e acaba aceitando”, relatou uma das pessoas.

Para o promotor Nadir de Campos Júnior, essa é, aliás, uma das táticas da equipe:

“Isso me parece muito claro. A estratégia era criar confusão para vender centros, ou seja, a população, assustada com esses crimes cometidos […], precisa da prestação de serviços de segurança, e me parece que o valor da estipulação dessas soluções também foi aumentado”.

“É evidente que a empresa Ecam, e algumas outras para as quais esses guardas civis municipais já trabalharam, se viram em uma situação de divisão de herança correspondente aos crimes que cometeram”, apontou a promotora.

Em conversa com a repórter, uma das denunciantes relatou ter visto até mesmo uma viatura da ROMU — única equipe da GCM na cidade — “recebendo dinheiro do tráfico de drogas, soltando um traficante, extorquindo um vendedor para pagar pelo serviço de monitoramento da empresa e negociando propina”.

A autora alegou que os guardas são colocados para trabalhar sozinhos em mensagens onde há perigo iminente.

O que diz a Prefeitura

“Atendendo a uma solicitação da TV Globo, a Prefeitura de Ribeirão Pires informa que não foi notificado pelo Juízo de nenhuma condenação cabível, na segunda hipótese, em ação movida contra Sandro Torres, Assistente de Proteção do município.

Sandro Torres é Guarda Civil Comunitário da Prefeitura Municipal de Ribeirão Pires há trinta anos. Atuou como inspetor de polícia de base, chefiou a Romu (grupo ostensivo) e foi líder da corporação.

Em relação ao GCM Gutembergue Martins Silva, a Prefeitura esclarece que houve uma ordem judicial para seu afastamento de suas funções na Guarda Civil Comunitária, sem prejuízo de sua remuneração e sem, até o momento, qualquer decisão contrária.

A Prefeitura Municipal de Ribeirão Pires permanece à disposição para prestar informações e quaisquer esclarecimentos.

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