
Padre Júlio Lancelotti conta a história do ‘chapeuzinho do papa’, que ganhou de Francisco
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A antiguidade já foi levada para vários pontos de São Paulo, até mesmo para a Cracolândia
Em meio às homenagens desta segunda-feira, 21, o padre Júlio Lancelotti levou para a Basílica da Sé uma antiguidade do Papa Francisco: um solidéu que o pontífice enviou para a população de rua de São Paulo. O barrete branco, semelhante a um quipá, foi entregue na igreja durante a missa de sufrágio convocada pelo arcebispo de São Paulo, Cardeal Dom Odilo Scherer, no centro de São Paulo. O barrete foi enviado a Lancelotti em 2015. Desde então, tem sido exibido em missas da Pastoral de Rua, na Paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, zona leste, e usado em atividades com a população vulnerável. “Ele já esteve até na Cracolândia, em todas as ruas onde as pessoas passam. As pessoas o chamam carinhosamente de ‘chapeuzinho do papa'”, disse o clérigo ao Estadão. O presente foi enviado, aparentemente, depois que Francisco viu fotos do trabalho da pastoral. Era o barrete que ele estava usando naquela época. “Quando ele viu todas as coisas que enviamos, as fotos, os presentes, ele disse: ‘Quero enviar um gesto concreto de amor aos moradores de rua.'” Em seguida, ele pegou seu solidéu e disse: ‘Tomem-no como meu gesto de amor'”, relatou. “Ele afirmou: ‘Esta é a Igreja que eu quero, nas ruas, junto com os maus'”, disse ele. O solidéu do Papa Francisco foi exibido no Santuário da Sé durante uma missa em memória a Francisco. Imagem: Tiago Queiroz/Estadão. Na Basílica da Sé, o solidéu foi exposto dentro de uma caixa de acrílico, ao lado da imagem do papa, à esquerda da igreja. A basílica estava lotada.com pessoas vindas de diferentes partes da capital paulista e de outras cidades. Os devotos se reuniram para se aproximar da relíquia. Ao final da festa, que terminou com aplausos, Lancelotti exibiu os itens pela igreja, atraindo pessoas que desejavam tocar na caixa ou registrar o momento com seus celulares. Depois disso, a antiguidade foi retomada pelo clérigo para a pastoral. O Padre Júlio Lancelotti recebeu um presente do papa em 2015. Imagem: Tiago Queiroz/Estadão. O solidéu (junto com os terços venerados) foi enviado pelo pontífice quando ele consultou o Padre Luiz Eduardo Baronto, clérigo do Santuário, em agosto de 2015. “Ele disse: ‘É para levar ao Padre Júlio, e para que os moradores de rua saibam que quem tocar aqui está tremendo a minha mão'”, disse Baronto ao repórter. “Ele disse que não podia beber a mão de todos. Então, o solidéu era para beber a mão de todos”, acrescentou. Conhecido por suas atividades com moradores de rua, Lancelotti diz que o papa também era próximo dessa população. Ele menciona uma história que soube por meio de uma religiosa brasileira que colaborava com o esmoler do pontífice em Roma: “Ela me contou que em inúmeras festas, quando ela ia distribuir comida na rua, os moradores de rua de Roma diziam: ‘Ah, o papa veio aqui recentemente’. Porque ele ia ver os moradores de rua”, comentou. O solidéu foi retomado para a Pastoral do Povo da Rua ao final da festa. Foto: Tiago Queiroz/Estadão.O clérigo destaca um gesto adicional do papa nesse sentido: “Ele fez algo que realmente capturou nosso interesse: mandou esconder os moradores de rua
que ele conhecia, que faleciam nas estradas de Roma, no cemitério dos nobres, dentro do Vaticano. Lá existe um cemitério onde só se escondem os nobres, e em vez de enterrar os nobres, ele escondeu os moradores de rua.” Lancelotti ressalta que o solidéu significa “justo de Deus”. O Papa Francisco faleceu na madrugada de segunda-feira, menos de um mês após deixar o centro médico onde estava sendo tratado por pneumonia bilateral. Um dia antes de sua morte, ele apareceu em público no Vaticano. Ao todo, esteve à frente da Igreja Católica por 12 anos. Solidéu do Papa Francisco apresentado durante missa na Catedral. Foto: Tiago Queiroz/Estadão. Público se emocionou na missa na Basílica. A Basílica da Catedral foi carregada durante a missa em
homenagem ao papa. Como resultado, parte do público teve que permanecer de pé enquanto o evento era conduzido pelo arcebispo de São Paulo. Entre as pessoas presentes estavam católicos praticantes e admiradores do pontífice argentino. Alguns fiéis usavam preto, algumas mulheres usavam véus, como sinal de luto. Outros seguravam terços e rezavam pelo santo papa. Uma grande salva de palmas encerrou a celebração. Entre os fiéis estava a religiosa Maria Elilda, de 67 anos, que destacou a rapidez com que a população reagiu ao chamado para a missa. “É uma expressão muito forte de amor, confiança e confiança”, explica. “Certamente veremos isso em todo o mundo. Essa resposta, também, é uma desolação particular”, acrescenta. Para ela, este é um momento de reafirmação de confiança e unidade.”É a comunhão da Igreja neste mundo conturbado. O próprio Papa Francisco pediu paz outro dia”, destacou. A aposentada Ismênia Tomaz, de 70 anos, foi de Piraporinha, na região de Santo Amaro, Zona Sul, até a Basílica para admirar o papa. “Ele fez muita coisa. Foi a vários países. Ele andava de carroça, lutando contra todas essas batalhas”, explica. “Ele era uma pessoa muito querida, amada em todo o mundo, e defendia o povo.” Leia também