
De Bergoglio a Francisco: a trajetória do primeiro papa latino-americano
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De Bergoglio a Francisco: a trajetória do primeiro papa latino-americano
O arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odilo Scherer, celebrou uma missa em sufrágio do Papa Francisco na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, repleta de fiéis. “Ele viveu como jesuíta até o fim. Ouviu muito, com silêncio e reflexão, e depois disso enfrentou um desafio”, disse ele. ANÚNCIO Antes do evento, ele destacou a herança do pontífice, que faleceu na manhã de segunda-feira, 21. “O Papa Francisco fez um pagamento importante, não apenas à Igreja, mas à humanidade. Ele foi um exemplo de flexibilidade, afirmação, conceito e transparência para dialogar com todos, sem deixar ninguém de fora”, afirmou em entrevista coletiva. Sobre o sucessor de Francisco, ele afirmou que “ser progressista ou tradicional não é a questão. Essa é uma questão externa”, afirmou. Segundo ele, o novo líder do Vaticano certamente se apegará aos valores da Igreja Católica, lembrando que cada um tem uma história diferente. “Ninguém espera que ele seja um novo Francisco. Como tradição, ele afirma que Francisco deixou uma Igreja mais missionária, participativa e em busca de diálogo. Não voltada para dentro, mas para o mundo”, descreveu. Ele também teve uma postura marcada pela simplicidade desde o primeiro dia, como a escolha de morar na casa de hóspedes (a chamada Casa de Santa Marta), e não na residência real, e a maneira direta de se apresentar. “Eu realmente queria um contato direto com as pessoas”, destaca. Por exemplo,Ele menciona que chegou a ser contratado repentinamente para dar entrevistas em tempo real em canais de TV italianos. O arcebispo também destacou a reforma interna, para que a Igreja “parecesse mais com o que é”, uma comunidade de pessoas batizadas, em vez de um clero como senhores da Igreja. Além disso, destacou a “flexibilidade” e a “coragem” para enfrentar “desvios éticos”, como casos de abuso, corrupção e pedofilia. “Ele tomou medidas novas e extremas para remediar as lesões éticas no clero”, destacou. O arcebispo também descreveu Francisco como um papa que “estava interessado nos perímetros do mundo”, sociais, geográficos, econômicos e até mesmo dentro da Igreja. Diante disso, ele foi o pontífice que mais selecionou cardeais de fora da Europa, inclusive de países com visibilidade marginal da Igreja. “Marketing” Isso influenciará a escolha do novo chefe da Igreja — 108 dos 135 cidadãos no conclave — que certamente definirá o seguidor foram escolhidos por Francisco. Dom Odilo, indicado por Bento XVI, também fará parte do grupo de eleitores. Em entrevista, o Cardeal D. Odilo Scherer destacou a herança do Papa Francisco, que faleceu nesta segunda-feira, dia 21. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Fatalidade e problema de saúde D. Odilo lembrou que o Papa estava abatido na última vez que o viu pessoalmente, em 13 de fevereiro, poucos dias antes de o pontífice ser hospitalizado devido a uma pneumonia. Ele também entendeu
que estava deteriorado quando viu as imagens da última aparição pública do pontífice. Segundo o cardeal, Francisco estava tomando medicamentos sólidos, com corticoides, e lidava com uma infecção que era ao mesmo tempo viral, bacteriana e fúngica.Por isso, ele considera que a morte do Papa é, de certa forma, um “consolo” diante de seus problemas de saúde. Santuário da Sé lotado para missa em memória do Papa Francisco. Imagem: Tiago Queiroz/Estadão. Na missa em memória do Papa Francisco, na Basílica da Sé, o cardeal afirmou que o Papa “escolheu um belo dia para morrer”: uma segunda-feira após a Páscoa, marcada pelo renascimento de Cristo. O reitor se encontrou com Francisco inúmeras vezes e lembra que, em um desses eventos, levou ao pontífice um livro de quadrinhos que registrava a visita do papa ao país. “Ele riu alto”, relembra. Leia também: Conspiração no conclave é ‘fantasia’. O arcebispo de São Paulo declarou que não haverá um novo papa como Francisco, mas enfatizou que o próximo pontífice, seja ele tradicional ou atual, seguirá os valores da Igreja. “Um papa não é o mesmo que outro. Ninguém é igual a ninguém.” espera que o próximo papa seja um novo Francisco. Ele pode até ter o nome de Francisco II, mas não será à sua imagem e semelhança”, destacou. Ele também enfatizou que “certamente será humano, não um robô. E, portanto, “ele governará a Igreja à sua maneira, de acordo com sua personalidade”. Ele também refutou a ideia de que a escolha do novo papa seja seletiva e marcada pela especulação, como se verifica no recente filme “Conclave”, indicado ao Oscar. “É o resultado de um discernimento conjunto”, afirmou. “É a escolha do papa, não conluio. Isso é fantasia.” Ele também especificou que há um senso de dever na escolha, sem ideologias ou partidos. “Os cardeais comemoram o conclave. Não é um projeto político eleitoral.” Segundo ele,Os detalhes do funeral e do conclave ainda não foram definidos. Ele reconheceu, no entanto, que certamente será um conclave com uma variedade maior de cardeais de fora da Europa, em um movimento iniciado na década de 1960. “O Colégio Cardinalício é mais global do que nunca”, disse ele. Ele afirmou que, apesar do início, o novo pontífice se voltará para
todos. “Ninguém deve se surpreender se um papa africano, oriental ou europeu for escolhido”, disse ele. Ele enfatizou que os valores tradicionais da Igreja, como cuidar dos imigrantes e apoiar a paz mundial, vêm do Evangelho e, portanto, continuarão, independentemente de o novo líder ser progressista ou tradicional.