
O coordenador da Pastoral do Povo de Rua também relembrou o telefonema que recebeu do pontífice durante a pandemia da Covid-19, em 2020.
Padre Júlio Lancelotti lamenta a morte de Francisco I e menciona a herança do ‘papa dos pobres’
Padre Júlio Lancelotti, idealizador da Pastoral do Povo de Rua, lamentou a morte do Papa Francisco nesta segunda-feira (21), aos 88 anos. Em entrevista à GloboNews, ele aplaudiu o legado de misericórdia e cuidado deixado pelo pontífice.
“Se tivéssemos que dar um nome a Francisco, certamente seria: Francisco, o misericordioso. É isso que marca o Papa Francisco. O amor aos pobres, aos imigrantes, aos desabrigados, aos grupos marginalizados, à comunidade LGBT, às pessoas que vivem nas ruas. O Papa Francisco é o grande sinal do amor de Deus e do amor misericordioso de Deus. Isso continuará sendo para sempre”, proclamou.
Lancellotti também lembrou o estilo de vida simples do papa antes de pensar em evangelizar. Jorge Mario Bergoglio, como era conhecido antes de se tornar Francisco, morou em Buenos Aires, Argentina, e escolheu uma vida “com uma das pessoas mais experientes”.
“Ele era uma pessoa extremamente distante, nunca viveu para a honra e a glória, para o poder. Ele sempre viveu para o serviço, para a proximidade, para o desapego. Francisco é o desapegado, o misericordioso, o amigo dos pobres. Temos Francisco de Assis, agora temos Francisco de Roma”, afirmou.
Questionado sobre o futuro líder da Igreja Católica, Lancellotti afirmou que “precisamos continuar este caminho em direção aos pobres, às pessoas, aos doentes, aos sem-teto, aos despossuídos”.
“O mundo inteiro olha para Roma na esperança de que o espírito de Francisco,iluminados pelo Espírito Santo de Deus e pelo caminho que Jesus nos propôs, seja o caminho do amor”.
SAIBA MAIS:
AO VIVO: Veja a cobertura especial da despedida do Papa Francisco VEJA: Página exclusiva revela a tradição de Jorge Bergoglio em 4 atos INFOGRÁFICO: Conclave, como a Igreja Católica escolhe um novo papa 1 de 1 Padre Júlio Lancellotti e Papa Francisco– Foto: Montagem g1/Reprodução
Papai Júlio Lancellotti e Papa Francisco– Imagem: Montagem g1/Reprodução
Ligação telefônica
Num sábado de outubro de 2020, em plena pandemia de Covid-19, quando o Padre Júlio Lancellotti recebeu uma surpresa: uma ligação do Papa Francisco. No início da conversa, ele não entendeu que estava falando com o pontífice.
“Eu não sabia que era ele. Ao longo da conversa, reconheci que, quando ele disse: ‘Eu sou o Papa Francisco’, eu disse: ‘Vossa Justiça!’. E ele afirmou: ‘Eu reconheço tudo o que lhe ocorre, acompanho com atenção, por isso liguei e continuo fazendo isso pelos pobres’. É por isso que hoje, apesar de todo o impacto das informações, estamos fazendo o que fazemos no dia a dia [o trabalho da Pastoral do Povo], é uma homenagem ao Papa”, disse ele.
O Papa ligou para o Padre Júlio às 14h15 para saber quais eram as dificuldades que a pastoral estava enfrentando. Na ocasião, o organizador da Pastoral do Povo de Rua também compartilhou que o pontífice lhe perguntou sobre as pessoas em situação de rua no Brasil e pediu que ele continuasse seu trabalho com os pobres.
“[O Papa Francisco] disse para não desanimar, ter coragem e fazer como Jesus fez. Precisamos realmente viver este minuto com solidariedade, com foco nos mais fracos, e isso precisa ser essencial para transformar a estrutura de vida que temos,”, afirmou.
Em 2020, o Padre Júlio também foi intimidado pelo menos duas vezes. Em janeiro, um policial teria dito a três jovens moradores de rua que “a hora do Padre Júlio Lancelotti certamente chegará”. Ele também apresentou um boletim de ocorrência por agressão após ser insultado por um motociclista enquanto lidava com moradores de rua na prefeitura.
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