Objeto versus a morte do vendedor ambulante senegalês Ngange Mbaye, baleado por um policial do Exército – Paulo Pinto/Agência Brasil

Reclamação contra a morte do vendedor ambulante senegalês Ngange Mbaye, baleado por um policial das Forças Armadas Paulo Pinto/Agência Brasil

Divulgado em 14/04/2025 20:27|Atualizado em 14/04/2025 20:30

Uma reclamação foi realizada na tarde desta segunda-feira (14), no centro de São Paulo, contra a morte do vendedor ambulante senegalês Ngange Mbaye, baleado por um policial do Exército durante uma operação realizada na região do Brás, na última sexta-feira (11). Ele foi baleado no abdômen durante uma abordagem policial ao tentar proteger mercadorias de outro vendedor ambulante. Gritando por justiça, os manifestantes marcharam entre a Praça da República e a Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, onde uma comitiva foi formada por agentes da administração municipal. Entre os participantes da manifestação estava o cônsul honorário do Senegal em São Paulo, Babacar Bacharel. “O que ocorreu foi extremamente lamentável e estamos fazendo tudo o que podemos para evitar que isso aconteça novamente. Precisamos encontrar maneiras de evitar que isso aconteça novamente”, disse ele. Segundo ele, a comunidade senegalesa em São Paulo é composta por cerca de 3.000 pessoas. “Vamos conversar agora com a prefeitura e talvez eles tenham uma solução para o nosso problema, que já é conhecido por todos. Infelizmente, esta não é a primeira morte [violenta] de um senegalês em São Paulo. Mas espero que seja a última”, reforçou. O cônsul honorário informou à imprensa que o corpo do vendedor ambulante agora será enviado para seu país de origem, onde mora sua família.

“O corpo já foi liberado pelo IML [Instituto Médico Legal] e agora provavelmente será levado para uma funerária particular. Ainda vamos marcar um dia [para enviá-lo ao Senegal], mas isso depende das viagens”, disse ele. A Planejadora de Violência Policial do Movimento dos Vendedores Ambulantes Unidos (Muca), Maria dos Camelôs, afirmou que a abordagem das autoridades contra Mbaye foi extremamente violenta. Segundo ela, esta não foi a única vez que vendedores ambulantes enfrentaram situações semelhantes nas ruas. “Esta não é a primeira vez. Isso acontece todos os dias. Atrás de cada tábua, cada corda ou cada lona, ​​há um chefe ou mãe de família que sai de casa todos os dias para ganhar dinheiro. E o que vemos são os policiais perseguindo os trabalhadores como se estivéssemos fazendo algo errado. O governo precisa ter vergonha e ir às ruas para entender o que está acontecendo aqui embaixo.” Mauro Caseri, ouvidor da Polícia Estadual de São Paulo, considerou este episódio “lamentável”. “Vocês estão vendo um indivíduo que tentava ganhar a vida sendo eliminado por causa dessa situação. Eu reconheço que, embora seu comportamento possa ter causado preocupação à polícia, isso não validou o uso de arma letal. Havia várias outras maneiras de conter [a situação]”, afirmou o ouvidor, em entrevista à Agência Brasil durante o protesto de hoje. Para Caseri, a Polícia Militar (PM) de São Paulo precisa incluir em sua rotina o uso de câmeras corporais e armas não letais ou com poder letal menor para evitar infortúnios como este. “Se eles tivessem usado o Taser [

aparelho de choque elétrico], este jovem não estaria em condições de agredir ninguém. O problema certamente teria sido resolvido com uma arma não letal.””, reforçou, destacando que a ouvidoria já solicitou a abertura de um processo correcional na Corregedoria da Polícia Militar para apurar os fatos. O músico e ativista senegalês Kunta Kinté acredita que o uso da polícia como circunstância foi superestimado. “A pressão ali não foi equivalente. As autoridades poderiam ter dado um tiro de advertência e todos teriam ficado parados. Ou atirado no pé dele. Mas isso foi assassinato. O jovem era trabalhador”, afirmou. “Viemos aqui como imigrantes. O Brasil nos oferece oportunidades e estamos tendo sucesso aqui. Contribuímos para o crescimento do Brasil, pagando impostos e aluguel. O Brasil é uma terra de imigrantes. Nós, senegaleses que moramos no Brasil, fazemos muitas coisas incríveis aqui, muitos projetos sociais. Somos trabalhadores. Estamos ligados ao país. Mas o que aconteceu é ultrajante”, acrescentou. O protesto realizado naquela tarde também contou com a presença do cantor e compositor Chico César. Esta não foi a primeira vez e, infelizmente, não será a última. Recentemente, outro senegalês foi jogado de um prédio aqui mesmo em São Paulo, cercado pela Polícia Militar. Essas pessoas estão aqui no Brasil para trabalhar. Elas vieram em busca de melhores condições de vida e, no entanto, acabam cumprindo suas penas por serem negras”, afirmou. “O Brasil é uma terra de imigrantes e acolheu muito bem italianos, espanhóis, portugueses e alemães. Mas como vocês tratam os africanos? Vocês os tratam da mesma forma que foram trazidos para cá nos porões dos navios [negradores]. Vocês os tratam da mesma forma que tratam os povos indígenas, com desprezo, ridículo e violência física.Essas mortes ferem não apenas os imigrantes ou os africanos, mas toda a cultura brasileira, em seu seio, no que ela tem de mais plural e diverso. Quando um imigrante senegalês é morto pela Polícia Militar no coração de um dos recursos mais importantes do Brasil, a maior cidade da América do Sul, são as profundezas da cultura brasileira que estão sendo feridas”, afirmou o cantor. “A sociedade brasileira precisa ir às ruas para exigir justiça. Não apenas vingança, mas justiça. Cada morte como essa precisa ser examinada. Cada infrator, intelectual ou de produto, e cada cadeia de comando deve ser penalizada”, concluiu. Segundo o diretor executivo do Instituto de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante, Paulo Illes, os imigrantes negros e africanos são os que mais correm risco de sofrer violência no Brasil. “Precisamos repensar a abordagem adotada em relação a essas pessoas no plano de imigração, mas especificamente em relação às pessoas que trabalham nas estradas da cidade de São Paulo”, afirmou. “Esta não é a primeira vez que isso acontece. Em 2014, tivemos aquele caso ainda incomum com um senegalês que, teoricamente, se jogou de um prédio lá embaixo na prefeitura. Mas ainda não temos um resultado dessa investigação, e agora temos este caso”, destacou. “Quando um imigrante vai trabalhar nas ruas ou faz qualquer tipo de trabalho, ele vem para São Paulo para tentar mudar de vida. E ele tem um investimento financeiro. Aquele pequeno automóvel foi o investimento financeiro da vida dele [Ngange Mbaye]. Ele estava protegendo vidas com os poucos bens que possuía. Não podemos permitir que algo assim aconteça.

É ridículo.

Os policiais precisam ser mais bem treinados. Eles precisam saber como lidar com pessoas que estavam se protegendo. Este é um caso que precisa ser investigado. Este e todos os outros casos de imigrantes negros na cidade de São Paulo”, reforçou Illes. “Esta é a segunda denúncia contra a morte do vendedor ambulante. No último sábado (12), um protesto na área central da cidade terminou em forte repressão por parte do Governo do Estado, com o uso de bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação. Apelo por justiça. Enquanto um grupo de militantes e autoridades presentes na manifestação se reunia na prefeitura, vários senegaleses protestavam do lado de fora. Entre eles estava a jovem Meissa Autumn, que era amiga de Mbaye e estava com ele quando o vendedor ambulante foi morto. Gritando, Autumn clamava por justiça. “Vocês podem matar este policial hoje, mas ele irá para outro lugar e outro policial virá e fará a mesma coisa ou até pior. Mbaye morreu e ele era marido”, disse ele, mentalmente. Eu estava com ele [naquele dia]. Ele estava sempre comigo. Seus familiares me ligavam e eu não sabia o que dizer a eles. No dia em que ele faleceu, um policial atirou em seu estômago. Ele caiu e eu disse ao policial que ele estava morrendo. Mesmo assim, eles o algemaram e me pressionaram com suas armas. Perdi a consciência e acordei no hospital. “A família dele está sofrendo no Senegal. Ele tinha uma companheira e um filho lá”, disse Loss. Posteriormente, Fall informou à Agência Brasil que Mbaye estava no Brasil há cerca de 11 anos e foi quem o convidou para vir, pouco tempo depois, quando ele também decidiu ficar no país. Repercussão: Pregador de Integração Africana e Relações Exteriores do Senegal,Yassine Loss afirmou que solicitará ao governo brasileiro explicações sobre a morte do rodoviário Ngange Mbaye. “Com nossa representação diplomática, buscaremos meios para esclarecer os cenários desta terrível fatalidade”, afirmou ela em um comunicado à imprensa. “Foi com grande tristeza e consternação que tomei conhecimento da trágica morte do nosso compatriota Ngagne Mbaye em São Paulo”, escreveu ela. “Neste momento de angústia, quero expressar, em nome do governo senegalês, nossas mais sinceras condolências.” A organização não governamental (ONG) Horizonte Sem Fronteiras, que monitora casos de movimento e violência, também condenou o evento, afirmando que a morte foi “uma nova atividade criminosa cometida contra um senegalês residente no Brasil” e classificando o país como uma “zona de violência endêmica”.

“Em 2018, a polícia brasileira matou mais de 6.220 pessoas, o maior número já registrado na área de segurança pública do país. Esse número indica que 17 civis são mortos diariamente em ações policiais. Exorto o Estado a aumentar a conscientização sobre as taxas de segurança e criminalidade em determinadas áreas, a fim de proteger melhor o povo senegalês em todo o mundo”, afirma o comunicado da ONG. Em um comunicado, o primeiro-ministro informou que abriu uma investigação policial militar (IPM) para investigar o caso e que removeu os policiais das tarefas funcionais que o representante envolvia. A ocorrência foi registrada na 8ª Delegacia de Polícia como morte decorrente de intervenção policial e tentativa de homicídio e está sendo investigada pela Divisão de Homicídios e Segurança Pessoal (DHPP). O policiamento na área foi reforçado.A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo também destacou que “todos os casos de morte decorrentes de intervenção policial são rigorosamente apurados pelas Autoridades Civis e das Forças Armadas, com acompanhamento das Corregedorias, Ministério Público e Judiciário. As forças de segurança não perdoam má conduta e punem severamente aqueles que infringem a lei ou desrespeitam os regulamentos e procedimentos de suas empresas”. O governo local, que estava encarregado do Procedimento Delegado no dia da morte do senegalês – um acordo firmado entre o governo federal e as forças de segurança para reforçar a segurança em determinadas áreas e combater o tráfico ilegal de pessoas nas ruas da capital – ainda não se pronunciou sobre o caso. galeria de imagens

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