O vendedor ambulante Ngange Mbaye faleceu após ser baleado durante confronto com as Forças Armadas no Brás, na última sexta-feira (11). Entidades pedem que a denúncia apresentada em dezembro de 2024 sobre violência policial contra imigrantes seja analisada com urgência.
Vendedor ambulante senegalês morre após ser baleado por PM durante confronto durante abordagem
Após a morte do vendedor ambulante senegalês Ngange Mbaye durante abordagem policial no Brás, centro de São Paulo, 66 empresas enviaram um comunicado à Comissão Interamericana de Liberdades Civis (CIDH), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA).
No comunicado à CIDH, as entidades, incluindo movimentos sociais, grupos de familiares de vítimas de violência policial e organizações de direitos civis, relatam o caso de Ngange Mbaye e pedem que a denúncia apresentada em dezembro de 2024 sobre violência policial contra imigrantes seja analisada com urgência.
Ngange Mbaye morreu após ser baleado durante um confronto com a Polícia Militar na Rua Joaquim Nabuco, na última sexta-feira (11). Ele foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
Um vídeo enviado ao g1 e à TV Globo mostra o ambulante tentando impedir os policiais de levarem uma carroça com produtos. Nas imagens, é possível ver que um dos policiais o atacou com um cassetete, e ele respondeu com uma barra de ferro (assista acima).
As entidades denunciam no jornal que o episódio representa mais uma manifestação “do padrão de violência física institucionalizado pelas pressões da segurança pública de São Paulo, sob a responsabilidade do governador Tarcísio de Freitas e do assessor de Segurança Pública,Guilherme Derrite.”
“Ambos são apontados como responsáveis no caso submetido à CIDH por incentivar, tolerar e ocultar o aumento da violência policial que afeta desproporcionalmente as populações negra, marginalizada, marginalizada e imigrante”, afirma o documento.
As organizações solicitam que o Tribunal Interamericano de Justiça avalie a denúncia com celeridade e adote medidas preventivas para garantir a segurança da população negra e imigrante no estado.
1 em cada 4 senegaleses morre durante abordagem policial no Brás, centro de SP — Foto: Fórum de Ambulantes
Senegalês morre durante abordagem policial no Brás, centro de SP — Imagem: Fórum de Ambulantes
Na segunda-feira (14), representantes do Movimento Negro Unificado (MNU) se encontraram com o cônsul honorário do Senegal, Babacar Bacharel.
“Conversamos sobre a transferência do corpo do imigrante para o Senegal, sobre nossa reclamação à OEA e sobre o caso brasileiro “A solidariedade do Movimento Negro com os senegaleses”, declarou Simone Nascimento, membro do MNU. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que o caso do senegalês está sendo “rigorosamente investigado pelas Autoridades Civis e das Forças Armadas, com o apoio do Ministério Público e do Judiciário”. O policial envolvido foi afastado de suas funções. “As forças de segurança do Estado mantêm programas contínuos para aprimorar seus tratamentos e protocolos. Ao longo de seus cursos de formação e por correspondência, todos os agentes do governo recebem treinamento em Direitos Humanos, com foco em temas como o combate à intolerância e outros crimes motivados pela intolerância. Além disso,A Polícia Militar faz parte do grupo funcional “Movimento Antirracista – Segurança do Futuro”, coordenado pela Faculdade Zumbi dos Palmares”, informou o departamento.
2 de 4 Vendedor ambulante senegalês morre após confronto com autoridades durante abordagem no Brás, centro de SP — Imagem: Arquivo Pessoal
Vendedor ambulante senegalês morre após confronto com a polícia durante abordagem no Brás, centro de SP — Foto: Arquivo Pessoal
Morte
Um primo do vendedor relatou que Ngange Mbaye estava almoçando quando viu autoridades e equipes da prefeitura recolhendo mercadorias de uma idosa. Ele se envolveu em uma briga com os agentes e acabou sendo demitido.
“Ele não estava trabalhando e estava almoçando. Os policiais pegaram [produto] de uma colega de trabalho dele que trabalha lá embaixo e então ele foi ajudar a mulher para não perder a mercadoria. Houve confusão, e o agente da lei o eliminou”, afirmou Mamadou Tiam.
Segundo a Polícia Militar, grupos estavam apoiando o governo local na avaliação de vendedores ambulantes, e o senegalês agrediu um policial com uma barra de ferro. O vendedor ambulante foi então baleado.
3 de 4 Vendedor ambulante foi baleado por um policial das Forças Armadas durante um confronto na tarde de sexta-feira (11) na Rua Joaquim Nabuco, no Brás, — Foto: Arquivo Pessoal
Vendedor ambulante foi baleado por um policial do exército durante um confronto na tarde de sexta-feira (11) na Rua Joaquim Nabuco, no Brás, — Foto: Arquivo Pessoal
Ngange Mbaye foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para a Santa Casa, mas não resistiu.
No sábado (12),Uma manifestação contra a morte de um vendedor ambulante senegalês terminou com bombas de spray de pimenta e debandada no centro de São Paulo. Em nota, a SSP afirmou que a Polícia Militar abriu um inquérito e retirou das funções operacionais o policial envolvido na morte do vendedor ambulante. O banco utilizado no protesto foi levado, assim como a arma do policial. O caso foi registrado na 8ª Delegacia de Polícia como uma morte decorrente de intervenção policial e tentativa de homicídio. O caso será investigado pela Divisão de Homicídios e Defesa Pessoal (DHPP). Declaração de repúdio O Centro de Direitos Civis e Cidadania do Imigrante divulgou uma declaração de repúdio pela morte do vendedor ambulante.
“Recebemos com profunda tristeza e indignação a notícia da morte do empresário senegalês Ngange Mbaye, ocorrida em 11 de abril de 2025, no bairro do Brás, em São Paulo. Mais uma vez, um homem negro, migrante e trabalhador teve sua vida ceifada severamente em um contexto de repressão e demasiada atuação policial.
Ngange Mbaye trabalhava como vendedor ambulante quando foi abordado por autoridades militares.
Situações como esta expõem como a violência física institucionalizada continua a fazer vítimas, especialmente entre as populações negra, marginalizada e migrante. São vidas tratadas como irrecuperáveis, em um ciclo cruel de exclusão e abandono.
Compartilhamos nossa solidariedade com a família de Ngange, com a comunidade senegalesa e com todos os viajantes que, diariamente, enfrentam racismo, xenofobia e precariedade em suas rotinas de trabalho e sobrevivência.
É fundamental que haja uma investigação rápida, clara e imparcial sobre o caso,com a devida responsabilização dos envolvidos e promoção de procedimentos concretos para que infortúnios semelhantes a este não se repitam.”
4 de 4 Vendedor ambulante é demitido durante confusão no Brás, Centro de SP– Foto: Arquivo Pessoal
Vendedor ambulante é baleado durante confusão no Brás, Centro de SP– Foto: Arquivo Pessoal
