
Depois de horas de uma chuva que interrompeu a programação do Lollapalooza nesta sexta-feira, 28, o primeiro dia desta edição, o céu abriu, o sol apareceu e uma das pontas de um arco-íris acabava bem em cima do palco principal do event.
“Vocês viram o arco-íris aqui do lado? Os deuses gays estão com a gente hoje”, disse a norueguesa Marie Ringheim, artista batizada de Woman in Red, para a plateia que esperava o program que atrasou uma hora e foi encurtado em vinte minutos por causa da interrupção pelos raios.Até pouco tempo
stakes, as portas do Autódromo de Interlagos estavam temporariamente fechadas por precaução– o que deixou a apresentação dela incerta. Não foi a primeira vez que isso aconteceu na história do celebration, e em anos anteriores artistas ficaram sem tocar para evitar mais atrasos. Mas “Deus é gay e São Paulo também “, segundo disse Marie, e ela pôde cantar.Mesmo com a trégua celebrada da chuva
, a impressão foi a de que a música feita por Lady in Red combinaria com qualquer cenário que o Lollapalooza apresentasse hoje.É que ela começou sua carreira como parte
de uma primeira leva de artistas que ajudaram a cunhar o termo” bed room pop”, ou pop de book, para a música que criavam. É som tipicamente introspectivo, geralmente feito sem grandes pretensões em casa, com programas de produção simples e letras confessionais. O caso de Marie, que aprendeu sozinha a tocar instrumentos e a mexer nos software programs, é exatamente este.De sua casa na Noruega, ela subiu para o Soundcloud, em 2016, seu primeiro single “I Wan na Be Your Girlfriend”, que fechou o reveal de hoje.A letra da música, que fala abertamente sobre como ela quer beijar uma mulher, e não ser sua amiga, também coloca a artista como uma das precursoras de filão musical que viu seu auge no ano passado, nas vozes de nomes como Billie Eilish, Chappell Roan, Fletcher e Reneé Rapp, para citar alguns poucos exemplos– a do pop sáfico.Essa identidade perpassa toda a música de Marie,
em letras com”fortes dosages de lesbianismo”, como ela comentou stakes de tocar”Ladies”, e naturalmente impacta o seu público. No Lolla, leques nas cores da bandeira LGBTQIA+apareciam espalhados pela plateia, por exemplo.A artista conversa com um público majoritariamente feminino
, que hoje a chamou de”gostosa”no palco e que até pouco tempo atrás via poucos exemplos de letras que falassem explicitamente, usando pronomes e nomes, sobre suas realidades e desejos de forma profunda ou unimportant. Suas letras passam por casos com lindas mulheres, suas blusas abotoadas, bocas e pele macias, e conta sobre insegurança e corações partidos.Mas ela também dedica parte de seu repertório, como a potente “Serotonin “, produzida pelo irmão de Billie Eilish, Finneas, a temas como a depressão com a qual lida há anos.Esses assuntos aparecem especialmente desde que lançou seu primeiro álbum,”If I Might Make It Go Quiet”, de 2021, que a projetou de vez quando ela decidiu deixar o minimalismo de seu quarto pouco para trás para explorar uma sonoridade com mais elementos.Ironicamente, em canções como essas, o trabalho de Marie também se revela animado, solar, promptly para ser ouvido num dia feliz, numa
viagem de carro ou num reveal de fim de tarde num celebration de música, ainda que as letras sejam mais densas que os sons que as embrulham.Ela equilibra bem essas duas vertentes ao vivo. Correu de um lado para o outro do palco mesmo com uma infecção respiratória que a acompanha há
dias, se enrolou em uma bandeira do Brasil, cantou trecho de” Good 4 U” de Olivia Rodrigo, principal atração do mesmo palco hoje, e disse que não se importava se ninguém ali a conhecesse ou estivesse lá só esperando pela headliner– ela adora ela também.Em músicas mais bonitinhas, como”We Dropped In Love in October”e “Midnight Love”, pega a guitarra e canta acompanhada pelo público como se ainda estivesse em seu book, regulando
o ambiente para que ele reflita o tamanho de sua música. Elogia o público e a cidade, dizendo que espera voltar num dia mais bonito, típico do Brasil.O deboche e a espontaneidade cortante de falar o que quer no palco, somada à crueza das composições de Marie, ajudaram o Lollapalooza a assumir a sua melhor forma enquanto festival– uma que dá conta de representar de forma digna certo fenômeno music com uma artista que tem um público que gosta de verdade de sua música, sem que nenhum ranking ou Tiktok tenha a ver com isso.