Segundo as deputadas estaduais Ediane Maria (PSOL-SP), Andreia de Jesus (PT-MG) e Leninha (PT-MG), elas foram as únicas selecionadas para passar pela ‘revista arbitrária’ na chegada e registraram um boletim de ocorrência por racismo.

Vídeo mostra apreensão de bagagem de três deputados negros no Aeroporto de Guarulhos

A Receita Federal do Brasil informou neste domingo (13) que abrirá uma sindicância na agência para apurar o caso de suposto racismo contra três deputadas estaduais negras do PT e do PSOL no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na última sexta-feira (11).

As deputadas Ediane Maria (PSOL-SP), Andreia de Jesus (PT-MG) e Leninha (PT-MG) alegam que, ao desembarcar de um voo do México, as três foram submetidas a uma revista irregular. As três registraram um boletim de ocorrência sobre o caso.

Os representantes afirmam que, entre todos os viajantes, apenas elas – três mulheres negras – foram selecionadas para passar pelo que a Receita Federal chama de “avaliação inicial” ou “avaliação indireta” (raio-x).

Em nota, no entanto, a empresa especificou que 21 passageiros da mesma viagem foram escolhidos aleatoriamente para o mesmo tratamento, totalizando 18% do total de pessoas que desembarcaram no Brasil no mesmo avião.

Vídeos obtidos pelo g1 mostram pelo menos dez passageiros passando pelo mesmo scanner de bagagem que os três parlamentares ou na fila de espera para o tratamento. Nas imagens, gravadas a partir das 15h29 daquela sexta-feira (11), é possível ver que há passageiros brancos e negros (veja ao lado).

1 de 3 Deputadas Ediane Maria (PSOL-SP), Andreia de Jesus (PT-MG) e Leninha (PT-MG).– Imagem: Montagem/g1/Reprodução/ Redes Sociais

Deputadas Ediane Maria (PSOL-SP), Andreia de Jesus (PT-MG) e Leninha (PT-MG).– Foto: Montagem/g1/Reprodução/ Redes Sociais

Os vídeos revelam, então, que, após retirarem suas malas do aparelho de raio-x, os três são liberados e seguem para o embarque de passageiros, que fica na área pública de Cumbica. Na imagem, é possível ver uma placa amarela indicando a saída do local de vistoria, no lado esquerdo.

A Receita Federal informou que “não tolera nenhum tipo de discriminação” e que a Corregedoria “investigará o caso com cuidado”.

A ouvidoria da empresa também informa que entrará em contato com os três delegados para apresentar todos os documentos de seu desembarque.

“A Receita Federal do Brasil não tolera qualquer tipo de ato de discriminação e investigará rigorosamente o ocorrido. Todo o atendimento aos parlamentares foi registrado em fotos e, em uma análise preliminar, foi descoberto que se tratava de um voo em que 21 passageiros foram selecionados para inspeção indireta, totalizando 18% do total”, disse ele.

“A Ouvidoria da Receita Federal convocará os parlamentares, disponibilizará toda a documentação, resguardando a privacidade dos outros 18 passageiros selecionados, e dará continuidade à rigorosa investigação, com avaliação da Corregedoria Geral da República.”

2 de 3 Imagens do Aeroporto de Cumbica mostram os três parlamentares negros passando por inspeção de bagagem ao meio-dia de sexta-feira (11). — Imagem: Recreation

Imagens do Terminal de Cumbica mostram os três parlamentares negros passando por inspeção de bagagem na tarde de sexta-feira (11).– Imagem: Reprodução

Reclamação dos substitutos

A reclamação dos 3 substitutos de esquerda foi publicada nas redes sociais na tarde desta sexta-feira (11). No vídeo, eles contam que sofreram racismo ao desembarcar no Terminal Internacional de Voos de São Paulo, em Guarulhos.

Segundo eles, os 3 passaram por uma revista preconceituosa ao desembarcar na capital paulista. Eles retornavam do México, onde participaram do Painel Internacional de Mulheres Afropolíticas (veja o vídeo abaixo).

Representante Ediane relata abuso de autoridade em terminal de aeroporto em SP

Ediane relatou que, após passarem pelo scanner corporal, representantes do governo os obrigaram a deixar a fila de desembarque e provavelmente ir para outro local de atendimento personalizado.

Ainda segundo o parlamentar, em nenhum momento os representantes solicitaram qualquer tipo de documentação.

“A revista aleatória, que é tudo menos arbitrária, é mais uma prática tendenciosa e racista. Eu estava na fila do desembarque, com outras duas deputadas estaduais, e de todas as que estavam na fila, apenas nós, três mulheres negras, fomos selecionadas.”

Devido à vergonha, Ediane, Andréia e Leninha registraram um boletim de ocorrência por racismo. Elas também pretendem registrar uma ocorrência formal junto à Ouvidoria da Polícia Federal e a outras autoridades competentes.

“Entre milhares de passageiros, eu e as colegas deputadas Leninha (@leninhamoc13) e Ediane (@edianemariamtst) fomos as únicas selecionadas para uma revista por agentes de segurança da PF no terminal do Aeroporto de Guarulhos. Já entendemos o motivo. É a lógica do “suspeito convencional” que continua a operar com homens e mulheres negros.Uma humilhação que ninguém merece passar. Racismo é crime. E continuaremos a combater a discriminação em todos os ambientes, dentro e fora dos estabelecimentos”, afirmou a Deputada Andreia de Jesus em sua conta no Instagram. Contatadas, as autoridades federais alegaram que as deputadas não foram abordadas por policiais. 3 de 3 Mensagem da Deputada Leninha no Instagram questiona buscas em terminais de aeroportos — Foto: Reprodução. Artigo da Deputada Leninha no Instagram questiona buscas em terminais de aeroportos — Foto: Reprodução. Nota completa da Receita Federal: “A Receita Federal do Brasil não tolera nenhum tipo de ato de discriminação e investigará com atenção o ocorrido. Todo o tratamento dado às deputadas foi registrado em imagens e, em uma avaliação inicial, constatou-se que se tratou de uma viagem na qual 21 convidados foram selecionados para avaliação indireta, totalizando 18% do valor total. O ouvidor da Receita Federal conversará com os parlamentares, disponibilizará todos os documentos, preservando a privacidade dos outros 18 candidatos selecionados, e dará continuidade à rigorosa apuração, com avaliação da Fiscalização”.