6 em cada 10 gestantes têm gestações não planejadas no estado de São Paulo, segundo Unicamp

A pesquisa entrevistou 534 gestantes entre 18 e 49 anos, atendidas pelo SUS. Destas, 65% mencionaram que sua maternidade não foi planejada, acima dos 52% a 56% relatados na literatura clínica até então.
Uma pesquisa da Unicamp sugere que 65% das gestações no estado não foram planejadas
Uma pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que seis em cada dez mulheres afirmam ter tido uma maternidade não planejada no estado de São Paulo. Este é o maior número da história.
A pesquisa entrevistou 534 gestantes entre 18 e 49 anos, atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Destas, 65% afirmaram que esse era o caso. Até então, a taxa relatada nos estudos estava entre 52% e 56%. O estudo foi publicado em um periódico clínico sobre bem-estar reprodutivo e contou com o apoio da OMS, Fapesp, Capes e CNPQ. Segundo Negli Gallardo, médico que realizou o estudo de doutorado na instituição, o objetivo foi identificar quais barreiras sociais e de grupo estavam relacionadas à ocorrência de gestações inesperadas. Resultados da pesquisa Durante o estudo, foram utilizados três tipos de conjuntos de perguntas para compreender as características sociodemográficas e reprodutivas das gestantes entrevistadas e sua intenção de engravidar. Dos encontros completos, 80% foram realizados online e 20% presencialmente, no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Unicamp. O estudo mostrou que 65% das gestantes relataram que a gravidez não havia sido planejada,um número maior do que o apontado pela literatura médica até então, entre 52% e 56%.
Os resultados também mostram que as maternidades inesperadas são mais comuns entre mulheres pretas ou pardas, aquelas com menor escolaridade, aquelas solteiras e que já têm outros filhos.
Gallardo descreve que o questionário separou entre mulheres casadas, aquelas que viviam com o parceiro e aquelas solteiras. “Descobrimos que as chances [de gravidez não planejada] eram maiores para mulheres solteiras, mas também para mulheres que viviam em união estável, em comparação às esposas.”
Para o professor que supervisionou o estudo, Luis Bahamondes, o que chama a atenção é a grande proporção de casos desse tipo no estado de São Paulo. Os números também influenciam a gestão pública, segundo o médico.
“Há onze anos, em uma pesquisa que realizamos na Unicamp, constatamos que cada gravidez indesejada custava ao setor público, o SUS, a contrapartida de mil dólares. Hoje, seriam R$ 6 mil. No entanto, esse custo inclui apenas o custo do pré-natal, do parto e do período pós-parto”, afirma Bahamondes.
O especialista afirma que os dados revelam a necessidade de desenvolver estratégias e políticas públicas para garantir que as gravidezes indesejadas sejam evitadas.
“Um dos pontos mais importantes é a prevenção. E prevenção significa esclarecer a população, significa ter acesso, significa possibilidade, significa disponibilidade de métodos [contraceptivos], significa que os profissionais de saúde também sejam treinados para colocar esses implantes e DIUs. […] Isso sugere que uma abordagem precisa ser criada”, afirma o médico.
Necessário para educação, aprendizado e comunicação
A especialista em equipamentos Cláudia Martins afirma que engravidou durante uma mudança de carreira, da comunicação para a tecnologia, durante a pandemia de COVID-19.
“Minha gravidez não foi planejada, nunca, a gente até brinca sobre isso”, afirma. “Eu estava ajudando há uma semana, era no meio da pandemia e eu ainda estava namorando meu parceiro. Então, ficamos surpresos com a notícia. Levei muito tempo para reconhecer, para fazer os exames, o pré-natal”, lembra Cláudia.
Ela explica que pretendia ser mãe desde que nasceu, mas engravidou aos 25 anos e se sentiu jovem demais para isso. Mesmo assim, ela enfatiza que a gravidez foi um presente. “Eu digo que é um presente, mas o amor e o sacrifício que você faz por um filho são realmente iguais”, considera.
“Eu estava morando com meu namorado, estávamos muito estáveis, então foi um descuido que acabou causando essa gravidez não planejada. Mas eu reconheço que muitas gestações acontecem por descuido, falta de preparo, até mesmo falta de educação sexual”, afirma.
Para Cláudia, além da educação sexual, conversar sobre o tema é fundamental.
“Conversar com seus parceiros sobre ter filhos, porque muitas vezes você só conversa com a pessoa com quem está sobre ‘queremos ter filhos ou não’ quando já tem um filho envolvido na história”, afirma. 1 de 1 A taxa de gravidez não planejada aumentou para 65% no estado de São Paulo, segundo pesquisa da Unicamp. — Foto: Recreação EPTV
A taxa de gravidezes inesperadas aumentou para 65% no estado de São Paulo,segundo levantamento da Unicamp.– Foto: Recreação EPTV
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